De quando em vez, a mídia debruça-se sobre a questão da educação e de como melhorá-la, fazendo com que o aprendizado seja efetivo e que o ensino chegue à totalidade das crianças, evitando-se um futuro país analfabeto. Nesta semana a revista Época dedicou um bom espaço ao assunto, ouvindo especialistas e, de certa forma, fazendo uma radiografia da situação da educação no Brasil.
Alguns dados são estarrecedores. Por exemplo, crianças que terminam os primeiros quatro anos do ensino fundamental e não sabem as quatro operações da matemática – somar, diminuir, multiplicar e dividir – e outras que não sabem ler. Alunos que chegaram à oitava série e não sabem interpretar um texto, que não são capazes de construir uma frase, dar-lhe significado.
A ideia geral é que a educação brasileira é mesmo uma lástima. Além dos analfabetos – que não sabem mesmo ler – estamos transformando em analfabetos funcionais toda uma geração de jovens. Eles leem, mas não entendem e não conseguem articular uma frase completa.
O que fazer? Foi para responder a esta pergunta, a partir de uma reflexão coletiva, envolvendo centenas de pessoas espalhadas pela blogosfera, que nasceu esta blogagem coletiva, uma proposta da Geórgia, do Saia Justa, logo encampada pela Meire. É uma pergunta que, ao mesmo tempo, é muito fácil e muito difícil. O lado fácil é dizer: investir na educação, tornando-a uma prioridade absoluta, mudando o foco inteiramente para o ensino fundamental, que deve receber o maior volume de recursos.
Dinheiro existe. E a garantia dele, graças ao capixaba João Calmon, um lutador incansável pela educação durante toda sua vida, está na Constituição. O que há hoje é a má aplicação das verbas destinadas à educação, com o Governo Federal, por exemplo, gastando mais com as universidades que com o ensino fundamental. O foco precisa mudar. E se ter uma política de longo prazo que invista em escolas, em treinamento de professores, em elevação do nível de ensino. E que tenha a coragem de desafiar as estatísticas e reprovar quem não aprende.
Este é um programa que vai nos consumir no mínimo 20 anos. Ao final deles, se aplicado, teremos uma juventude totalmente diferente, o que vai fazer diferença também para o Brasil. Estaremos, assim, construindo novos cidadãos, que irão pensar o país de forma diferente – veja Somos o que pensamos. Se esta é a parte fácil, qual é a difícil.
O difícil é fazer que isso aconteça. Neste caso, a ação individual e a coletiva são fundamentais. É preciso que falemos, que defendamos, que adotemos um verdadeiro apostolado em favor da educação e dos investimentos na escola fundamental, na preparação de mestres, em ensino de qualidade. Somente com a mobilização – da qual esta blogagem é um primeiro passo – é que podemos garantir que o fácil seja concretizado.
Ouso dizer que para a concretização desse sonho – sim, um sonho de ver o país educado – é preciso um forte engajamento político, pois é a política o instrumento fundamental para a modificação do que pensam dirigentes de municípios, estados e união. É através da política e do engajamento nela – aliás, como fez durante décadas o senador João Calmon, até conseguir seu intento – é que poderemos ver um país educado.
Sem política e sem mobilização, que deve envolver, necessariamente, todos os segmentos da sociedade, vamos continuar vivendo em um país onde crianças e jovens “educados” – por terem frequentado a escola – não sabem fazer contas, não sabem ler e não sabem escrever. O analfabetismo, que já é a morte em vida, fica pior. Vira algo funcional.
Como o assunto é educação, as duas frases desta semana são sobre o tema. Confira:
“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. Cora Coralina, poeta.
“A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida”. John Dewey, filósofo.
E que todos tenhamos um ótimo fim de semana, aproveitando o feriadão.
26 Respostas
Lino,
As prefeituras de municÃpios menores utilizam a verba carimbada da educação para outras finalidades.
Uma delas é alugar centenas de ônibus velhos caindo aos pedaços, a preço de aviões da Cingapura Airlines, dizendo que se prestam ao transporte escolar, quando em verdade, se prestam para tirar a comissão dos prefeitos e dos vereadores, que em municÃpios pequenos, são, de regra, corruptos (todos eles).
Uma das maneiras de acabar com o analfabetismo no paÃs, é pedir que a União fiscalize com MUITO MAIS rigor, o dinheiro do FUNDEC (Fundo Nacional da Educação) que é uma verdadeira fábula entregue todos os meses aos municÃpios, cujos prefeitos e vereadores corruptos usam para comprar casas na praia, camionetes luxuosas e apartamentos, além de manter familiares vadios e amantes…
Pois é Lino, pra mim esse analfabetismo funcional é uma praga, pior do que aqueles que não conseguem decodificar as letras.
E temos tantos casos assim, nossos jovens estão completamente perdidos nas letras e nos números.
Passam de ano escolar sem ter apreendido nada e o governo diz que o Ãndice de reprovação diminuiu, que a educação está melhorando… o que afinal é mais importante no nosso paÃs??
número de aprovaçoes? ou real aprendizado?
Lino, como sempre um belo texto.
Tenho 2 sobrinhos em idade escolar, e queria muito, mais muito mesmo que a escola deles fosse a mesma da minha epoca.
O predio é o mesmo, mas os tempos sao outros.
Obrigada pela participaçao,
Um beijo
Meire
Oi Lino !
Já disse em outro lugar e repito aqui: na minha opinião o analfabetismo funcional é o pior de todos. Parabéns pelo post.
beijo e bom fim de semana,
Oi Lino… De fato a educação no paÃs anda de mal a pior… A começar pela infra-estrutura… Existem escolas em que faltam carteiras escolares, e aÃ, como a coitada da criança vai se acomodar para assistir à s aulas? Isso é claro, se ela conseguir chegar a escola, pois existem regiões de zonas rurais em que o transporte não existe, ou existe uma lata velha para transportar as crianças…
depois, professores mal preparados, que ensinam num modo à antiga, sem perceber que o ensino tem que evoluir, junto com a sociedade.. são muitos problemas e poucos dispostos a sanarem….
por isso, parabéns pelo post, eu que esqueci-me completamente da blogagem… o que é uma pena, mas a voc~e que participou, parabéns mesmo!!!
Belo texto e eu já esperava mesmo algo assim partindo de você.
Mas é claro que o nÃvel de reprovacao foi diminuido, nao se reprova mais. Tudo o que acontece é entulharmos mais e mais o nao saber contra a parede. A sua pergunta foi: E quem vai desafiar as estatÃsticas e reprovar quem nao aprende? Tá arricado a ser mandado embora.
O que você pode fazer como pessoa cidada que é?
Talvez acompanhar mais de perto os da própria famÃlia. Conversar com ele, saber o que ele anda lendo. Se nao está lendo muita coisa. Oferecer-lhe um livro prometendo que no próximo encontro discutirao o assunto do livro. Só assim acredito que o analfabetismo funcional poderá ser diminuÃdo. Se nós comecarmos dentro da nossa própria famÃlia.
Obrigada pela forca e pelo texto enriquecedor.
Bom fim de semana
A definição para alfabetização é e sempre foi LER E COMPREENDER. No entanto ao longo tempo esses dois verbos se separaram. Hoje estamos voltando a compreensão do original que alfabetizar é ensinar a ler, interpretar,escrever.
A educação é a saÃda para a situação do paÃs, o problema é que os resultados aparecerão a longo termo e os polÃticos querem votos “já”. É uma pena pois o Brasil com os recursos naturais que tem se tivesse uma população bem preparada seria uma potência fortÃssima.
Abraços.
Esses dados de educação eu sabia pq tem aquele programa q não deixa o aluno repetir e com isso acaba prejudicando pq o aluno avança na série mas não tem capacidade de compreender um texto, fazer contas de matemática..
Excelente texto.
Big Beijos
Oi Lino:
Cabe lembrar também mestre Darci Ribeiro, outro batalhador, que dizia que a grande revolução a ser feita no Brasil era a revolução do ensino fundamental. Pois é, a necessidade ainda existe, cada vez mais premente e, sinceramente, difÃcil de ser concretizada, a depender da politicalha que aà está.
Um abraço.
Lino, o analfabetismo é mais presente em nosso paÃs do que a gente imagina!
Cabe a nós, cidadãos, lutar pra que ele seja erradicado; cada um fazendo um pouquinho: ajudando quem precisa e por aà vai…
Bjão e otimo findi.
Lino, o analfabetismo funcional eh ainda mais complicado do que o absoluto nao eh mesmo ? Ensinar a ler e escrever um bilhete eh facil. Dificil mesmo eh manter o povo na escola e ensinar a ler e escrever de fato, interpretar um texto e fazer as operacoes basicas.
A questao da qualidade da educacao no nosso pais eh cabeluda. E essa questao por si so ja merecia uma coletiva so para ela. Hoje em dia, colocar o filho em uma escola publica eh quase que condena-lo ao analfabetismo funcional.
Concordo em absoluto com voce quando diz que os esforcos individuais sao importantes mas que devem ser aplicado em conjunto com o coletivo. Acoes governamentais sao fundamentais… nao temos nehuma perfeita mas temos que lutar para melhorar as que temos e criar novas.
Muito legal seu post.
bjs
Lys
Quando penso que hj é o dia do aniversário do Monteiro Lobato…fico feliz com a escolha a que esse dia se destine….Lino,Perfeita as suas colocações e principalmente pela escolha da Cora…que era proibida de escrever por a familia na época achar que saber era coisa prá homens!
Bravo!
Comento o analfabetismo funcional no meu blog. Isso é o resultado de uma polÃtica desastrosa que introduziu a progressão continuada. O aluno tem que passar de qualquer jeito. É lei!
Lino,
como sempre um texto limpo, claro e completo. Enquanto nossos governantes não entenderem que a educação de base é fundamental para mudar os destinos deste paÃs, estaremos com nossos jovens cada vez mais alienados, não conseguindo ler absolutamente nada por não entender o que lê. E garatujando garranchos incompreensÃveis na forma e no sentido.
Abraços.
Essa é uma questão bem séria, precisa mesmo haver estÃmulo para que os adultos voltem a estudar que começem a estudar.
Deveria haver lei onde que toda criança seja obrigada a frequentar a escola.
bjs
Eu fiquei com TANTA preguiça dessa blogagem coletiva
rsrsrsss
Lino, mto bom o post!! Concordo com vc qto a parte dificil e a facil… vai demorar pra termos uma educaçao de qualidade, sem medo de reprovar quem nao aprendeu!!!
Beijos, Dani
Ah, adorei o post anterior sobre o casal namorando!! Que fofo!!!
Beijos de novo!!!
Vc tocou no ponto x da questão ,LINO: é falta de vontade politica mesmo.
Antigamente diziam que,no periodo da ditadura,não interessava aos milicos e aos coronéis que o povo se educasse.
E hoje? Qual o motivo de tanta desfaçatez??
Abração e um otimo domingo!!
Oi Lino…
Dinheiro para investir na educação sabemos que tem o que não tem é a menor vontade polÃtica. E é tanto desvios…
Penso que deveriam inverter: unversidade particular e um excelente ensino (primário e secundário) público.
“Educação nunca foi despesa. Sempre foi investimento com retorno garantido.” Sir Arthur Lewis.
Um forte abraço.
Educação é um direito fundamental – pena que pra tanta gente seja algo tão distante quanto saúde, alimentação, moradia, saneamento, transporte – enfim, qualidade de vida.
Ola Lino,
Voce deu a idéia dessa blogagem e so agora escrevi um texto sobre o assunto e entao vim aqui compartilhar. Também acho, tenho certeza que a questão é politica. Falo sobre isso tb.
Um abraço e boa semana,
Camille
Estou há mais de trinta na Rede pública e digo que as crianças passaram a receber certificado de analfabetas desde o dia em que foi decretada a aprovação automática. Se eu não alcancei os objetivos, tenho continuar trabalhando para que os alcance, mas, em um paÃs como o nosso, as crianças e adolescentes encaram a aprovação automática como um aval para nada fazerem pois já estão aprovados. Já vi aluno rasgar a prova e jogar na professora; outros há que mandam seus professores para aquele lugar literalmente e uns ameaçam de agressão fÃsica. É melhor eu parar por aqui. Estudei em escola pública a vida toda e nunca tivemos problemas com reprovação. É melhor eu parar…
abraço, garoto
Boa semana.
Uma otima semana à vc,LINO.
Bom feriado.
abraços!