O uso de cereais para a produção de combustível tem sido tema das mais acirradas discussões neste mês. De um lado, especialistas que condenam o seu uso, dizendo que é comida que está sendo desviada para a produção de biocombustível, o que vai ampliar a fome no mundo. De outro, e aqui está o Brasil, dizendo que os biocombustíveis são o futuro e que, pelo menos no caso brasileiro, não há desvio de alimentos para a sua produção.
Quem tem razão? Os dois lados estão certos. Se tomarmos os Estados Unidos e a Europa temos, sim, o desvio de alimentos para a produção de biocombustível. É o caso do milho nos Estados Unidos e a beterraba na Europa. Os dois são componentes importantes da dieta alimentar nas regiões, com a beterraba sendo usada, inclusive, para a produção de açúcar. No caso do Brasil o principal ingrediente é a cana, que se produz o açúcar, também produz o álcool.
O problema, na verdade, vai bem além dos combustíveis e insere-se em uma disputa política, já que os biocombustíveis, como hoje estão sendo desenvolvidos, deixam de fora do jogo muitos dos grandes jogadores que usam o petróleo, a começar pelas grandes petrolíferas e afeta as economias de ponta, que se podem substituir um por outro combustível, troca uma dependência pela outra.
Há, no fundo, um outro ângulo e este é o que importa. Hoje, convivem no espaço global quase um bilhão de famintos com mais de 1 bilhão de obesos. E a distância entre os dois está aumentando, com a população obesa aumentando e a de famintos ficando estável, o que revela que o consumo – e o desperdício – domina os países mais desenvolvidos, chamados de primeiro mundo, e o desenvolvimento, pelo menos no que se relaciona à comida, não chega aos outros espaços do planeta.
O problema não é o da falta de alimentos. O que é produzido, sem bem distribuído, seria suficiente para aplacar a fome do planeta. Mas não é. Um exemplo emblemático é o próprio Brasil, hoje um dos maiores produtores agrícolas do mundo, que vende anualmente bilhões em produtos do setor para o mundo, mas que também tem alguns milhões de pessoas passando fome. Em áreas como a África a questão é dramática.
Enquanto isso, nos Estados Unidos e Europa há desperdício. Juntando os lados – desperdício com o uso de alimentos para a produção de combustíveis – talvez estejamos caminhando para um mundo de escassez. E isso já começou com a alta de preços de vários alimentos, com a última manifestação por conta do arroz, alimento básico, inclusive no Brasil.
Com a comida mais cara a tendência é de que o fosso aumente. E que tenhamos, de um lado, mais obesos. E do outro, um número maior de famintos. E isso tende a acontecer mesmo que os alimentos não sejam usados para a produção de combustíveis. Se o forem, o risco fica ainda maior.
11 Respostas
A coisa é feia mesmo.A cana não poderá nunca substituir a demanda criada pelo petróleo.
Infelizmente vc tem razão,LINO. Este assunto está mesmo dominando as conversas e a impressão que fica é que a coisa tende a piorar.
Abraços!
Olha a ironia, Lino…De um lado, os obesos…do outro, os famintos… É risÃvel até, essa constatação! rs
E a partir dela, já se pode fazer a análise: o que existe, na base, é o DESEQUILÃBRIO.
Parece simples. Talvez seja.
A questão de penalizar os biocombustÃveis não é aplicável ao Brasil, pela vastidão de sua área, pela existência de produção de alimentos para consumo e exportação, sobrando ainda para a fabricação do biocombustÃvel.
Mas, já há quem culpe o Brasil pela escassez de alimento no mundo…Enfim.
Vai haver tumulto, polêmica e falatório. Depois, a poeira assenta e veremos como surgem as soluções.
Beijos para você, amigo!
Dora
Tudo é uma questão de interesses polÃticos. Os paÃses que não tem terras suficientes para os alimentos e os biocombustÃveis, dizem que estes são a causa da fome no mundo. Claro que se deve estudar as outras alternativas energéticas, mas não se deve desprezar os biocombustÃveis. Existem pesquisas para produzi-los mesmo a partir de algas, com alto rendimento logo requerendo superfÃcies menores para o cultivo.
E quanto à fome no mundo, não é por falta de alimentos, como você disse existem os famintos e os obesos, é um problema de distribuição de renda.
Abraços.
O mundo produz alimentos para todos e sobra, o problema é a distribuição deles.
Por outro lado, o Brasil pode produzir cana de açúcar e alimentos sem tirar uma única arvore, bastando produzir gado de modo mais eficaz, usando menos terras.
Logo,o problema não está na cana, mas na especulação agrária que existe aqui…e como eu tenho certeza que esse problema não é só daqui, é provável que outros paÃses também constatem isso.
Fica um jogo de empurra-empurra… cada um puxando a sardinha pro seu lado… enquanto isso africanos sendo desimados pela fome.
“Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome.”
Caetano Veloso
Um forte abraço
Concordo com vc, Lino. E se os obesos comessem a dieta da espécie (cerca de 2000 calorias por dia) sobraria mais comida rsrsrsrs. Dados meus (estou em dieta)!
Rsrsrsrs
Bjus
Marta
Não deixa de ser irônico. A alimentação saudável também é a mais cara.
Oi Lino…
É um jogo de empurra … cada um querendo puxar a sardinha pro seu lado… e enquanto isso pessoas sendo disimadas por falta de comida…
“Temos de ir à procura das pessoas, porque podem ter fome de pão ou de amizade.”
Madre Teresa de Calcutá
Como foi mencionado, 2000 cal é o necessário, eu ultrapasso isso todos os dias… a obesidade me assombra. ;o)
E também já foi mencionado que é uma questão de interesses polÃticos. Especificamente a “briga” entre o hemisfério norte(+ rico) e o hemisfério sul(- rico). E nisso, quem sofre é a população.
É, infelizmente temos esta triste verdade… Comida suficiente, mas com milhões de obesos e famintos no mundo. Isto de biocombustÃveis é só o estopim deste desequilÃbrio, esta balança está desequilibrada faz tempo… e como já disseram acima, só tende a piorar.