Há alguns anos o economista Edmar Bacha cunhou uma expressão para demonstrar a desigualdade no Brasil. Criou, então, a Belíndia – metade Bélgica, metade Índia. No primeiro caso, um país de primeiro mundo. No segundo, com áreas de pobreza comparadas – ou pior – que as da Índia. Depois, já disseram que a metade Bélgica continua, mas que tínhamos – e temos – áreas piores que as piores da África. Desde o surgimento da expressão, as condições do Brasil mudaram, houve avanços. Mas ainda vivemos em dois mundos. Em um deles, somos democratas, a favor do controle do Estado, contra a censura, a favor das liberdades sociais e da igualdade de oportunidades para todos. Este, na verdade, não é o país de todos os brasileiros, mas da minoria deles, dos que são bem educados, fizeram cursos universitários, têm bons empregos, bons rendimentos, leem, vão ao cinema e têm influência.
De outro lado, o Brasil maior, que engloba a maioria dos brasileiros, é corporativo, defende a intervenção do Estado em todos os setores, apoia – ainda que em minoria – a censura, acha normal a Polícia torturar e matar, põe todas suas esperanças nas mãos do Governo, olha para cima – para quem está mais acima na pirâmide social – com respeito, tanto que o chama de “senhor” ou “doutor”, é pobre, não estudou ou estudou pouco, é preconceituoso, extremamente conservador e religioso.
O Brasil que nós vivemos, não é o verdadeiro. O país liberal, com costume liberais, que não se importa com o homossexualismo, que se envergonha do preconceito contra negros, pardos, nordestinos e pobres, que vê a saída na democracia, é uma fantasia nossa. Ele só existe para um pequeno número. E neste país não se admite a corrupção, o emprego de parentes por políticos só pelo parentesco e não se perdoa o desperdício do dinheiro público.
No Brasil de verdade, da maioria, estes comportamentos são tolerados. E o político é visto como a salvação de todos, desde como forma de conseguir um emprego, como dar um jeitinho, fazer andar um processo, evitar um problema. E é este país que explica a nossa política, os nossos políticos. Eles, na verdade, representam o Brasil real, não a pequena parte que nós constituímos.
No nosso país, achamos que somos responsáveis pela construção de um país melhor. No outro Brasil, que não é nosso, a tônica é de cada um por si, e o público que se lixe, já que o Governo não faz nada. O patrimônio público não é visto como de todos, mas somente do Governo e é ele quem tem de tomar conta. Se não o faz, por que o cidadão vai se preocupar?
E para completar: O Brasil que não é o nosso é o dos que acreditam que têm um destino traçado e não o podem mudar, que só confiam na família, desconfiam dos amigos e mais ainda dos estranhos, que diz não se preconceituoso, mas olha de lado os negros, os pardos e, se não for nordestino, os que vêm do Nordeste. E este Brasil está no Sul, no Sudeste, no Centro Oeste, no Nordeste e no Norte.
Os números que revelam este novo (velho) Brasil – e que o separa do país em que vivemos e que pretendemos que mude – é o livro A Cabeça do Brasileiro, escrito, a partir de uma ampla pesquisa, pelo cientista social Alberto Carlos Almeida. Os números, no final, explicam o país em que dividimos com a maioria e mostra que, antes de tudo, somos o que pensamos.
Se você, como eu, tem a pretensão de entender o Brasil, esta é uma leitura que recomendo. E digo mais: é fundamental.
14 Respostas
Tenho a pretensão de entender e de entender afinal aonde estou…rs.
Concordo com vc. O povo brasileiro precisa ser mais crÃtico. Retomar a consiêcia que existia na época da ditadura. Na democracia tb temos que fazer valer nossos direitos…ainda mais até
Uma pesquisa recente concluiu que o brasileiro não aceita o aumento do tempo mÃnimo de contribuição ou idade para aposentadoria, mas ao mesmo tempo não quer contribuir mais para a previdencia social.
O brasileiro reclama dos serviços públicos, mas está sempre propenso a praticar atos de sonegação fiscal. Reclama do trânsito ruim, mas não deixa de fazer fila tripla para pegar as crianças na escola. Diz que odeia os polÃticos mas jamais recusa um cargo em comissão, fala mal da corrupção, mas volta e meia se deixa presentear por ela… enfim, eu jácheguei à triste conclusão que o brasileiro tem uma moral duvidosa.
Lino, obrigado pela dica!
Abçs
Quanto tempo “tio Lino” andei um pouco sumido com as correrias, mas enfim estou a cá…. O Brasil nunca deixou de ser pobre, se andar pelo sertãozinho do MT verá algo que nunca imaginou que o Brasil tem, o Brasil é grande de mais…
Lino, assisti a entrevista do autor na tv senado e estive com o livro nas minhas mãos. Li a contracapa e achei que seria muito estatÃstico e desisti. Também porque alguém disse que o autor é um tanto quanto americanizado e a todo momento compara o Brasil aos EUA. A verdade é que naquele momento não era a leitura ideal! Se eu topar com ele, já sei!!
Tem um presentinho pra você no luz!! Beijus
Lino, a frase ” mas que tÃnhamos – e temos – áreas piores que as piores da Ãfrica” não se encaixa. As piores áreas do Brasil não têm nada a se comparar à s piores áreas dos paÃses africanos.A não ser se se basear no polÃtico que lá vão e todos com a mesma intenção:ENGANAR.
Muitos anos atrás, pode ser. Mas hoje, não acredito. Eu não desejo a nenhum brasileiro viver nas piores áreas africanas.E digo isso depois de ir lá 8 vezes e ter dado de cara com 27 paÃses africanos e convivido em grande tempo com a população nativa.E não falo em termos de africanos refugiados. Tem paÃses na Ãfrica que se vc sair na rua é capaz das pessoas te comerem vivo, tal a falta de infra estrutura e a fome galopante. Como é o caso da Burkina Faso e outros. Mas a GLobo e a caravana presidencial foram lá e mostou a rua principal que foi toda arrumada paa que a imagem fosse mostrado ao mundo.
Tem gente que escreve as coisas se baseando em ACHISMO.
Nós temos potencialidades para subir ao topo da montanha mas enquanto nao perdermos o individualismo, nao enxergar além do umbigo, a coisa vai assim na base do PENSO EM MIM E O RESTO QUE SE EXPLODA.
Quanto a livros de autor americanizado, acho um pouco duvidoso.
dIAS FELIZES
Bacana a sua dica.
Big Beijos
Meu caro, de todos os textos que li de você (que não foram poucos, como você sabe), este foi o que mais me tocou.
Não sei se me parece que não ficarei no Brasil, por mais que o queira, ou se é um texto no qual você transmite um pouco de si mesmo, da esperança mesclada com a tristeza do estado da nação.Ou, quiçá, um pouco dos dois… afinal de contas, o texto é de quem escreve e de quem o lê, não é mesmo?
Seja como for, seja qual for a razão, foi um dos seus textos (senão O) que mais gostei de ler neste espaço.
Uma análise verdadeira e sincera!
Um grande abraço.
Entender o Brasil é uma coisa difÃcil, mas sou otimista, nosso paÃs tem muito a oferecer ao mundo. Mas acredito que o primordial de tudo, para que essa nação seja forte e respeitada, é a educação. E todos nós, não importa em que área, temos que lutar por isso.
Lino,
Com sua licença, mas vou passar seu texto ao meu BLOG.
Nesses ultimos três anos tenho ficado pessimista. É chato, mas é vero.
Bjus
Marta
Oi Lino.
Não concordo que sejam unicamente os pobres os defensores do atraso, como avalia o autor. São inúmeros os empresários que defendem o estado mÃnimo para os programas sociais e máximo na hora de vitaminar os seus negócios (ôi BNDES). Também existe muita gente bem de vida, culta e estudada que odeia pobres em geral, negros e homossexuais em particular, além de achar normal a tortura, quando não a eliminação fÃsica pura e simples e sumária dos foras da lei, dispensando os ritos legais.
Pelo que entendi, o cientista social parece achar que temos a melhor elite do muito. Quem atrapalha o desenvolvimento do paÃs são os pobres. Sorry, mas esta indicação de leitura eu passo. Já conheço o final.
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Tratando de coisas mais amenas: transcrevo aqui mais uma frase sobre as mulheres, assunto do post anterior: “Os homens preferem as louras. Mas casam com as morenas”. Anita Loss.
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Um abraço.
necessito ler esse livro!! Agora!!!
excelente post….
aà vai minha salva de palmas (clap, clap, clap)!
Beijos
O importante é que cada um leia e conclua…