A cena, no meu entender, era bem inusitada. No atual contexto, quando o avanço tecnológico se sobrepõe a todos os velhos hábitos, ver um radinho de pilha funcionando e pessoas o ouvindo, quase que foi um choque, com o imediato regresso ao passado. Fui quase que transportado no tempo, lembrando-me de quando o rádio físico – daqueles que ficavam sobre um móvel – era o meu companheiro de horas em que estava fora da escola ou livre dos outros deveres que o dia a dia e meus pais me impunham. O rádio, no meu caso, sempre foi uma boa companhia e, ainda hoje, continua sendo, mas vindo pelas fibras óticas que nos permitem a conexão de ótima velocidade com a internet. Do físico, ele virou digital e on line.
Mas voltemos à cena. Cheguei suado da academia e encontrei em casa profissionais que estavam aplicando papel de parede em um dos quartos do apartamento. Eles já¡ haviam chegado e começado a desmontar o seu “equipamento” – uma mesa onde colocam o papel para passar a cola e pinceis e cola. Fiquei observando por um tempo, pedi licença e sai para o banho, livrando-me de todo o suor do esforço feito nos vários aparelhos na academia e, também, da caminhada na esteira que os precede. Peguei a toalha, fui para o quarto, fechei-o e fui para o chuveiro, com o barulho da água sobrepujando-se aos sons da casa.
Quando sai, comecei a ouvir música, como se houvesse, dentro da casa, alguém fazendo as vezes de um locutor de programa de rádio. Achei que o som vinha de fora, da praia que fica em frente ao prédio, com alguém parado em um carro, com o som alto, e conversando. Prestando atenção, notei que não, o som definitivamente não vinha de fora, mas de dentro de casa. Como minha mulher e a Lena, que nos acompanha há¡ anos, não tem hábito de ouvir rádio, achei estranho e fui procurar identificar o que estava ocorrendo. Foi, então, que segui o som e cheguei ao quarto onde o Euro – que é o nome do aplicador – e seu ajudante estavam trabalhando, colocando o papel de parede.
O que primeiro me chamou a atenção não foi o som, em si, mas de onde ele estava vindo. Sobre a pequena mesa que fica próxima à cabeceira da cama no quarto estava um desses antigos rádios portáteis de pilha, algo que não via há¡ muito, muito tempo. E era dele que vinha a música, com o Euro e o seu ajudante acompanhando atentamente a programação ao mesmo tempo em que trabalhavam. Eles ouviam a música, mas não apenas isso, também comentavam o que o locutor anunciava, principalmente nos momentos em que vinha uma notícia. Era o momento de fazerem uma correlação com algo que já¡ tinham ouvido antes ou que souberam haver acontecido.
Se para mim foi algo inusitado, principalmente devido ao meio que estavam usando – o pequeno rádio a pilhas – para eles tudo parecia absolutamente normal. Este tipo de aparelho, que há¡ muitos anos havia sumido do meu dia a dia, integrava-se ao deles com perfeição, transformando-se no campanheiro do serviço que executavam com maestria. Conversa de um lado, música de outro, entremeada por notícias, e o trabalho continuava. Quanto terminaram, o rádio foi desligado e delicadamente colocado na bolsa com os outros objetos que usam no trabalho que executam. Era como mais uma ferramenta, indispensável para a execução do serviço.
Fiquei com a impressão de que, sem o rádio ligado e funcionando, o Euro e o seu ajudante não seriam o mesmo. Para eles, certamente faltaria alguma coisa para que completassem o trabalho. Analógico ou digital, era a companhia para as longas horas do trabalho detalhista que executam e que, por isso, os torna profissionais de sucesso, muito requisitados.
Uma resposta
Oi Lino.
Eu tenho um rádio ao lado da minha cabeceira e o escuto todos os dias de manhã. Eu também tinha um radinho de pilha mas depois que ele quebrou não consegui encontrar ainda outro rádio, bem pequenininho, que me agrade. Continuo procurando.
Bjs.
Elvira