QUAL É O SEU MAIOR DESEJO?

Em todos os momentos da vida a gente sempre tem um desejo. Quando se é criança, queremos crescer, tornar-nos adultos. Na juventude, pensamos em quando ficarmos com mais idade e imaginamos o que já teremos conquistado. Ao chegar ao primeiro trabalho, imaginamos subir na carreira, conseguir melhores salários, destacar-nos profissionalmente. E tudo isso vem junto das conquistas pessoais, formação de família, filhos, amigos, etc.

Olhando somente o lado material, qual é o seu maior desejo? Não exatamente esta, mas perguntas idênticas foram feitas a pessoas do que os especialistas chamam de “nova  classe média brasileira” – quem ganha entre R$ 1,1 e R$ 4,8 mil por mês – buscando saber o que eles mais desejavam, agora que tinham melhorado economicamente e tinham maiores chances de consumo. O resultado, no meu entender, foi meio surpreendente e é exatamente por isso que ele está sendo aqui comentado.

Os dados da pesquisa foram publicados no jornal A Tribuna, de Vitória, e refletem os desejos dessa nova classe. O jornal traz alguns personagens que ilustram a matéria, mostrando o que estão fazendo. Voltando à pesquisa, no entanto, a maioria tem como prioridade a aquisição de itens relacionados à tecnologia, começando por uma TV de LCD, fazendo com que a prestação de uma delas caiba no seu bolso.

Logo depois vem o computador de última geração, reprodutor de vídeo e celulares, também de última geração. No meio de tudo, fica a compra de uma nova e moderna geladeira, o sonho do carro novo – certamente financiado a perder de vista – e viagem de férias que incluam viagem aérea. Ao lado disso temos um consumo mais qualificado na Área de alimentação, com alguns dos personagens confessando que gostam de comer fora, aproveitando os bons restaurantes.

Todos, sem exceção, fazem planos. Os que já conseguiram adquirir alguns dos equipamentos pretendidos, querem viajar. Outros ainda, trocar de carro ou adquirir seu primeiro veículo. O que mais me chamou a atenção, no entanto, é que embora faça parte dos desejos desta nova classe média, o plano de saúde não vem em primeiro lugar. Perde, de longe, para os itens de consumo e os bens duráveis. Primeiro, devem pensar, é preciso cuidar da casa, comprar equipamentos. Depois, pensar em garantir a saúde.

O que não é curioso, mas uma realidade é que, ao longo dos últimos anos, graças à melhoria da economia, alguns milhões de brasileiros tiveram um upgrade em suas vidas, em suas economias. Passaram a ganhar mais, incorporando novos hábitos e despertando para novos desejos. Tudo isso, no entanto, não fazem com que queiram mudar de bairro, deixar o local onde já vivem para buscar um outro, considerado melhor. Talvez casem, neste caso, o fato de já estarem estabelecidos com a possibilidade de terem mais para satisfazer seus outros desejos.

O que a pesquisa e os depoimentos na reportagem mostram é que entramos, em definitivo, na era do ter, deixando mais distante a fase do ser. Antes, as pessoas queiram se realizar e esta realização não envolvia, necessariamente, bens materiais. Hoje, eles são essenciais para preencher o desejo de quem melhora de vida ou busca melhorar.

Hoje, comprovam os números divulgados por A Tribuna, o que impera é o ter. O ser ficou distante. Será que algum dia ele irá voltar?

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