Entre uma boa parcela de brasileiros a política é vista como algo desnecessário e de que devemos ficar distantes. Esta ideia parte de uma falsa premissa que confunde políticos com a política, o que não é verdadeiro. Os políticos são, na verdade, uma pequena parte da política, que é muito maior, muito mais abrangente e está inserida no dia a dia de todo mundo. Aos que me dizem que não são políticos, costumo mostrar que o simples fato de assim se posicionar é uma atitude política. Participar ou não, é decisão de cada um, mas revela, sim, a sua postura política.
Se a política é o centro deste texto, não é nela, em si, que quero focar. Estamos em um período eleitoral e nele, normalmente, vemos surgir posições extremadas ao centro, à esquerda e à direita – classificações que, hoje, na verdade, não tem muito significado. Na disputa, o mundo torna-se dual, com alguns sendo contra e outros a favor. Tudo vira branco ou preto. Chegamos ao texto de “se não sou a favor, sou contra”, referindo-se sempre a uma posição política ou partidária ou a uma atitude em relação a um ou mais candidatos.
O mundo e as coisas não são assim. Há, em todos os campos, uma multiplicidade e, nela, convivem as mais variadas tendências, opções, opiniões, posições. Às vezes, algumas se chocam. Em outras, são complementares. Em uma terceira, podem se afastarem ou se aproximarem, dependendo da situação. Colocar tudo como se fosse uma ou outra coisa, restringe as opções e dirige o olhar, fazendo com que deixemos de ver coisas que são importantes. O que deve determinar uma postura é o momento e a análise do que ele nos trás, olhando todo o contexto, não apenas o que estamos vendo.
Nunca me furtei de tomar posições e as tomo, sempre, às claras e, nesta eleição, não é diferente. Todos nós temos o direito – e acho que até o dever – de nos posicionar e fazê-lo com a mais ampla liberdade. E o fato de não nos alinharmos com um amigo, com suas posições, não significa que estejamos contra ele. As amizades, no meu entender, estão acima das posições políticas e estas prevalecem, mesmo na discordância.
Cheguemos, após tudo isso, a um novo ponto: a escolha de um candidato. Como é que o fazemos? Não posso falar pelos outros, mas sempre tenho alguns parâmetros e um dos que mais me influenciam é a biografia do candidato, o que ele fez, que posições tomou, como se porta na vida pública e na vida privada, quais são suas crenças, como encara um mandato e como pretende exercê-lo. Dentre todas as coisas, o mais essencial é que tenha uma vida limpa.
Tudo isso vem a propósito de uma posição que reconhece a vida como múltipla, não como dual. E que a vê inserida no mundo, inclusive da política, no qual defendo a participação. Afinal, se não participarmos construindo o que queremos, deixamos o futuro nas mãos dos outros. Sou dos que acham que temos de posicionar e ao adotar uma posição – ignorando as classificações que nos irão dar – pensemos não em nós mesmos, mas em benefício da maioria. Afinal, se ela for beneficiada, nós também seremos.
E quando se trata de política, como já muito bem observou Maquiavel, o bem maior se sobrepõe ao menor – o coletivo tem precedência sobre o individual.