PADRÕES DE RECONHECIMENTO HUMANO

Neste grande mundo, o medo é uma constante. Desde o 11 de setembro, quando descobrimos que se um país tão poderoso como os Estados Unidos não conseguem evitar um atentado de tal magnitude, o que dizer de nós, que vivemos mais ao sul e que não temos nem a tecnologia, nem o dinheiro e nem a disposição para estabelecer os mais estritos controles, consequência das ações feitas e que decretaram a implosão do World Trade Center. A partir de então, a palavra segurança se incorporou, em definitivo, no nosso vocabulário e, em consequência do que ocorreu, começamos a viver, de verdade, um big brother, com vigilância permanente.

Hoje, a tecnologia permite que um satélite geoestacionário – ele gira à mesma velocidade da Terra e, portanto, fica sempre no mesmo lugar – leia a placa do meu carro e diga quem sou, o que tenho, como me comporto. Os dados de nossas vidas e identidades, ao contrário do que pensamos, não são mais privados. Eles podem até não ser públicos, mas privados deixaram há muito de ser. O que fazemos e como fazemos pode ser monitorado. Podemos ser escutados, gravados, seguidos, ter os emails lidos, acompanhados os nossos passos na internet. E tudo isso ocorre de modo silencioso, não mais nos deixando sozinhos.

Só que, mesmo que se use a mais avançada tecnologia, ela tem furos. A maioria do reconhecimento feito o é com base em dois elementos. O primeiro e mais comum é a impressão digital. Como você deve saber, cada impressão é única, não podendo ser imitada, o que garante, com segurança, que eu sou eu e você é você. O outro parâmetro é o reconhecimento facial. Uma tecnologia sofisticada “vê” um rosto e é capaz de reconhecê-lo no meio de uma multidão. Juntando as duas técnicas, cria-se padrões de reconhecimento humano. A isso podemos acrescentar, ainda, o DNA, que também é único e pode ser checado e uma série de outras medidas que nos colocam, mais e mais, sob vigilância.

Tudo é feito, nos dizem, para a nossa segurança. Mas sabem o que os cientistas acabaram de descobrir? Ou melhor, revelar? Que estes padrões de reconhecimento – facial e de impressão digital – podem ser adulterados, modificando-se os dois. Então, a vigilância, neste caso, pode “ver” quem foi modificado, mas não o irá identificar. Lembram-se de Minority Report, quando Tom Cruise troca de olhos, já que eles eram usados para reconhecer as pessoas? Pois é, pessoas podem mudar de cara e alterar suas impressões digitais.

Se constataram que, no final, não há assim tanta segurança no reconhecimento, a ciência deu um passo mais adiante. Cientistas da Humanbio, um projeto financiado pela União Europeia, estão dizendo que é possível estabelecer padrões de reconhecimento que não podem ser alterados. Eles estão falando de padrões únicos de cada cérebro. É isso mesmo. O seu e o meu cérebro tem padrões que não podem ser imitados por ninguém. E de acordo com os cientistas, também não podem ser alterados, falsificados, distorcidos. Ao padrão cerebral eles acrescentam as batidas ou o ritmo do coração. Ele também é único e não pode ser alterado ou falsificado.

Juntando as funções cerebrais com o ritmo cardíaco, os cientistas acreditam que terão um modelo de identificação perfeito e que funcionará de forma muito mais rápida do que os atuais padrões, que se baseiam nas impressões digitais e na aparência facial. Os pesquisadores acreditam que sua descoberta pode proporcionar a identificação quase que perfeita e impossível de ser falsificada. E já estão trabalhando em um software biométrico para medir os padrões do cérebro e o ritmo cardíaco. Não há um prazo para que esta nova tecnologia esteja à disposição dos Governos – e do público? – mas os cientistas já estão trabalhando em projetos pilotos e afirmam que, devido a eles, já puderam comprovar a eficácia dos novos padrões de reconhecimento humano.

Não sei dizer que vejo a informação como boa ou não. O que sei é que o ser humano é único, com cada pessoa diferindo da outra. Gostos diferentes, gestos diferentes, postura diferentes. Por mais próximos que sejam, por mais parecidas, há sempre diferenças, como provam os testes com os gêmeos univitelinos. Eles tem muito em comum, mas também diferenças. O que a nova tecnologia vai nos proporcionar não é o fim desta diferença, que vai continuar. Mas vai nos transformar, todos nós, em padrões e usá-los para dizer que nós somos nós mesmos.

O que vai acontecer? Os cientistas não dizem, não antecipam nada. Será que os novos padrões aumentarão nossa segurança? Só o futuro dirá. Mas, aqui pra nós, tenho dúvidas sobre isso. Aliás, o que precisamos é de compreensão, solidariedade e distribuição da riqueza mundial. Se isso fosse feito, na certa não precisaríamos de gastar bilhões em segurança. O que nela é gasto poderia, muito bem, ajudar a mitigar a fome do mundo. E não nos colocar ainda mais na sombra, aumentando o medo. (Via PhysOrg, em inglês)

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