Há alguns anos, um desses especialistas em emprego e mercado de trabalho decretou que chegáramos à era do fim do emprego e que teríamos, a partir de então, pessoas focadas em tarefas, fazendo várias coisas e sem um vínculo daqueles que duravam a vida inteira e que, no final, deixavam as pessoas – pelo menos as empregadas – muito tranquilas.
Já falei sobre este assunto ao abordar o sonho do meu pai, de que me transformasse em empregado do Banco do Brasil, um emprego sonhado por todos. Não atendi a este sonho, mas fiz com que meus pais se orgulhassem do que fazia, uma profissão que nunca imaginaram que o filho teria. A propósito, acho até que eles nem sabiam da existência da profissão. Vejam, sobre isso, Modernidade e as novas profissões.
O propósito, aqui, não é falar de minha profissão, mas de um sonho dos mais presentes no imaginário do brasileiro, que é do emprego estável, bem remunerado. E isso tem gerado uma enorme indústria, que movimenta uma grande soma de dinheiro. Começa pela mídia, que se especializou em arranjar concursos, anunciar grandes salários e vender uma ilusão. E isso sem contar que um mesmo emprego aparece várias vezes criando a falsa impressão de que é fácil consegui-lo.
Estimulado pelo sonho e embalado pela mídia, o emprego gera os cursinhos, os sítios especializados e permite que empresas de todo o Brasil faturem com a sua realização. O que vemos são milhares de pessoas disputando um mesmo lugar. E para ter uma chance – ou pelo menos acreditar nela – investe e gasta muitas vezes o que não tem, começando pelas taxas que são cobradas e que remuneram quem aplica os concursos.
O fato é que se vende o sonho do emprego. E o sonho é maior quando se trata de Governo – do Estado. Alimenta o desejo o fato de ser uma posição estável, de difícil demissão e onde se fica a vida inteira. Há burocracia? Sim, há. Mas as pessoas se submetem a elas para ter estabilidade, receber um bom salário e, pelo menos em tese, sofrer menos pressão do que quem trabalha em áreas privadas. Assim, pelo menos em relação ao Estado o emprego existe. Difícil, no entanto, é conseguir um.
Já na área privada a conversa é um pouco diferente. Busca-se um novo perfil de empregado e, neste caso, pode-se dizer que o emprego, pelo menos do modo como era visto tradicionalmente, acabou. E uma das razões são as exigências feitas, quase sempre se buscando alguém que seja polivalente ou para usar uma expressão mais “muderna”, multitarefa. Enfim, um faz tudo.
Se a mídia divulga um sonho, o mercado coloca as coisas no real. E nele, o que vemos são pessoas desiludidas com seus empregos, querendo mudar, insatisfeitos com o que fazem, sem perspectiva de crescimento, trabalhando muito mais do que desejariam e sofrendo um estresse brutal. O sonho, em alguns casos, pode mesmo se transformar em pesadelo. E o desgaste é inevitável, mas muitos continuam, sonhando com a aposentadoria.
Sonhos, já disse, são o que nos move. E não é diferente com o emprego. Todos nós queremos o melhor. Todos desejamos segurança, estabilidade. Poucos conseguimos. O emprego, ao contrário do que disse o especialista, não acabou. Mas mudou, com certeza. Hoje, ele é diferente de antes e poucos encaram um posto como algo para toda a vida, aliás, ela própria muito mais fluida do que antigamente, quando meu pai sonhava em me ver no Banco do Brasil.
No caso do emprego, sonho e realidade se chocam. Basta ver o número de inscritos em um concurso e o número de aproveitados. A mídia vende uma ilusão. Cabe, no entanto, uma pergunta: Não somos nós que desejamos essa ilusão? Que compramos uma quimera? O emprego do sonho não existe. Ele pode até se transformar em um, mas vai exigir muito esforço, que ralemos e que nos imponhamos.
Como já dizia Milton Friedman, não existe almoço de graça. E esta é uma verdade para o emprego, não importando que a mídia o transforme em sonho e em desejo. A realidade, neste caso, é bem outra.
7 Respostas
Sei não,LINO,mas a impressão que tenho é que sobreviver vai ficar cada vez mais compliocado nestes novos tempos,viu.
Abraços!!
muito bem dito: "o emprego do sonho não existe". vivo isso na carne. meu pai também queria que eu fizesse concurso para o Banco do Brasil e eu fui ser jornalista. Mas me divorciei com 2 filhos pequenos e, desempregada, me submeti a um concurso público. Sou estável e ganho bem, não nego, mas daí a dizer que é o emprego dos meus sonhos vão-se anos-luz de distância. Não é por outro motivo que ano passado fiz uma das piores depressões da minha vida… e isso, vivendo em Paris.
Quando eu entro numa disputa é para matar ou morrer e acho que matei mais do que morri. Já fui cadete aviador da FAB, já fui estudante de engenharia na Escola Nacional do Rio, sou aposentado da Petrobrás, fora outras escaramuças. Ainda bem que fui reprovado no concurso do Banco do Brasil mas não me queixo de nada.
Com certeza, Lino, a realidade é bem diferente! Nunca sonhei em ser isso ou aquilo; apesar ser uma boa profissional no que acontecer. Fiz Letras e gosto do Direito, mas… acho que gostaria de trabalhar em lugares como agências de publicidade, hotéis, sei lá…. E não me pergunte de onde tirei essa idéia, porque também não saberia responder…
Bjo.
Eu nao tenho o emprego do meu sonho, mas tenho um emprego que corresponda as minhas espectativas!!! Acho que isso eh importante tb, certo?
Adorei seu blog!!!
Vim so fuxicar… Eu sou do AO!!!
Bjs
Meus pais também tiveram desejo semelhante para mim. Eu não o segui. Hoje, acompanho nos cursinhos pessoas pagando por conhecimento que deveriam ter obtido em anos e anos de escola que não foram aproveitados.
Tenho uma amiga q estudava pra concurso publico, passou, demorou para ser chamada, foi chamada e hj esta decepcionada pq o emprego publico nao era tudo q ela esperava.
Engraçado não?
Big Beijos