A quarentena e o recolhimento das pessoas estão nos trazendo maior silêncio e, ao mesmo tempo, nos permitindo ouvir os sons dos dias, aqueles que eram, antes, ofuscados pela rotina de trabalho fora, de saídas, de trânsito louco e de correria e estresse. Onde moro e estou em isolamento social os dias ficaram mais silenciosos.
Gosto de quietude, de prestar atenção ao que está à minha volta, mas a rotina de vida não me permitia fazer isso com a mesma intensidade que a quarentena está me proporcionando. Tudo começa ao acordar. Lá fora há uma sinfonia de pássaros e, no meio dela, um canto se destaca, chamando a atenção. Logo em seguida vem outro, tão ou mais belo que o primeiro.
OS SONS QUE SÃO DA CASA
Se há sons do lado de fora – e eles são muitos – também os há em casa. É o tique taque do relógio, agora bem mais audível que antes, o assoviar do vento Nordeste nas janelas e portas, o balançar das cortinas e um abrir da geladeira, de um armário, o som de um objeto que está sendo retirado ou colocado no seu lugar. Todos eles ficaram mais nítidos e a razão é que lá fora está mais silencioso.
E é por causa do silêncio que impera que dá para ouvir mais nitidamente os sons que o mar faz ao quebrar na praia. Pode parecer que são sempre iguais, mas não são. Dependendo do movimento das marés, eles ficam diferentes. Como diferem quando o mar está mais ou menos agitado. Para mim, é um barulho tranquilizador e relaxante e gosto muito de ouvi-lo.
MENOS CARROS E MENOS RUÍDO
Com parte da população em isolamento social, temos menos carros nas ruas e menos trânsito. Onde moro já é um lugar tranquilo, mas a movimentação de automóveis diminuiu e isso torna o local ainda mais silencioso. Em contrapartida, passei a prestar mais atenção no que ocorre do lado de fora e os diferentes sons e ruídos que cada veículo produz.
Com maior silêncio dá, também, para ouvir o latir dos cães que está nas residências à volta. E tal como todos os outros sons, cada um tem um latido e um uivar diferente. E o que notei só agora: em determinados momentos eles parecem estar fazendo um concerto, uivando ou latindo todos juntos. É como se estivessem conversando, com tons variados e variações nos latidos.
PEDAÇOS DE CONVERSAS LÁ FORA
Outro som que fica bem mais nítido vem das conversas. Ouço pedaços delas ao longe e quase posso repetir os diálogos que ocorrem em frente ao prédio onde moro. O tom de cada uma delas varia. Às vezes, é alguém que fala mais alto. Noutras, uma fala mais pausada. O fato é que, como a vida, elas são diversas, dependendo de quem fala, com quem fala e sobre o que fala.
E há ainda os sons dos barcos. Na pequena enseada em frente de casa existem vários barcos de pescadores. E deles vem o som dos motores sendo ligados e das partidas em busca do peixe que irão comercializar ou consumir. E por morar em uma enseada, temos, ainda, a saída de outros barcos – lanchas, jetesquis, etc. – e eles formam novos sons e ruídos.
UM MUNDO CHEIO DE SONS
Não posso dizer que foi uma descoberta, mas a quarentena devido ao coronavírus e o fato de ficar em casa muito mais tempo que antes me colocaram diante de sons que, com certeza, já existiam lá fora, mas que não tinha a oportunidade de ouvi-los. Agora mesmo estou ouvindo as ondas quebrando na areia.
O mundo é cheio de sons, alguns agradáveis, outros nem tanto. Se não os ouvimos é decorrência da vida agitada que todos levamos. Com a pandemia e o isolamento, o silêncio ganhou um espaço maior e, no meu caso, me permitiu prestar mais atenção nos sons que estão à minha volta. Gosto do maior silêncio e aprecio ouvir os sons dos dias.
E você, o que descobriu com o maior silêncio do isolamento social?