Há no Brasil e em várias partes do mundo, como acabamos de ver com as eleições na Itália, um generalizado protesto contra os políticos, vistos, na maioria das vezes, como desnecessários e, no mínimo, como gastadores, consumindo recursos que seriam melhor utilizados em outros campos, não na remuneração deles ou para dar suporte às casas legislativas. As críticas, em sua maior parte, costumam ser justas, afinal vemos a cada dia desmandos e má utilização de recursos do cidadão.
Nesta situação, o que temos é a confusão, errônea, da política com os políticos. Condenam-se os políticos e, com eles, a política, que seria desnecessária e só traz gastos, nenhum benefício para quem paga impostos e vota. Aqui, claramente, há um erro. O fato de existirem maus políticos não significa que a política seja dispensável. É como se condenássemos a medicina pela existência de maus médicos, e todos nós sabemos que eles existem, como também tem nos mostrado o noticiário da mídia.
A política, que muitas vezes é feita pelos polÃticos, mas também por líderes empresariais, organizações, institutos religiosos, religiões, líderes comunitários e vai por aí afora, é não só necessária, mas essencial à democracia que, como sabemos, pode não ser o melhor regime, mas é o único que permite liberdade e a convivência de contrá¡rios, o que permite, inclusive, que se critiquem os políticos e a própria política, entendida aqui como algo mais geral.
Mudar a situação depende, basicamente, de voto. Hoje, como ontem, os Legislativos são o retrato de quem vota. Os políticos são clientelistas? Sim, são. Mas mais que eles são os eleitores, que os cobrem de pedidos e entendem que o político existe para lhes fazer favor, o que fica muito distante do que é, efetivamente, a representatividade na democracia. Sim, o político é o representante do eleitor, mas não se seu interesse particular. Deve agir em favor da maioria, atendendo-a e aos anseios da sociedade, não se preocupando com o emprego de um eleitor, o seu atendimento no hospital municipal ou estadual ou em lhe dar bolsa de estudo.
Constatar que o eleitor é clientelista é muito fácil. Basta passar um dia em uma Câmara de Vereadores ou Assembleia Legislativa. De cada 10 pessoas que procuram um parlamentar, nove tem pedidos para fazer e eles são sempre pessoais, em nada interessando a comunidade onde vive. Se o político que recebeu o seu voto não o atende, perde apoio e acaba, no final, não sendo reeleito. O que se estabeleceu está muito aquem da política, como antevista pelos gregos e aperfeiçoada nos regimes como o dos Estados Unidos.
Refém do eleitor, que quer o atendimento pessoal, o político se molda ao retrato de quem vota. O resultado é que temos, em todos os níveis de Legislativo – que são, na verdade, apenas uma das instituições da política – parlamentares que ali chegaram aproveitando-se do clientelismo e fazendo dele o seu meio de eleição. Quando eleitos, não querem saber da política, nem olham o interesse de todos, até porque e como sabemos, uma boa parcela dos eleitos tem a mesma mentalidade do eleitor: quer aproveitar o cargo em benefício próprio.