Nos próximos dias, graças à escolha de um novo papa, a religião deve ser um dos principais assuntos da mídia. Afinal, nem que seja por curiosidade, todos nós queremos saber o que o líder de mais de um bilhão de pessoas irá fazer, quem escolherá para auxiliá-lo e se o caminho que tomar será o que muitos especialistas consideram a ação mais urgente do novo mandatário religioso: limpar a Igreja Católica, resolvendo problemas que se arrastam há muito tempo e que os dirigentes anteriores não resolveram.
O cristianismo como fé nasceu pobre. Jesus, a acreditarmos no que afirma a Bíblia, disse que é mais fácil um camelo passar pelo furo de uma agulha do que um rico entrar no céu. Há, hoje, uma clara diferença entre a fé original e a enorme estrutura criada não só pela Igreja Católica, mas também por outros ramos do próprio cristianismo e por outras fés, como o budismo, o islamismo e até mesmo o bramanismo. As igrejas tem hierarquia, ritos, movimentam milhões e se suportam em uma estrutura enorme, custosa, burocrática e lenta.
O aumento da estrutura cria privilégio, colocando alguns acima de outros e, com isso, gerando disputas pelo poder, muitas vezes movidas por interesses pessoais. Repete-se, neste caso, no âmbito religioso o que ocorre no mundo comum, como o da política. Dizer que nas grandes estruturas das igrejas não se faz política, não se disputa poder, não se busca privilégios, é desconhecer a realidade. Todas sofrem com o problema do comando humano, apesar de se dizer sempre que este comando vem de Deus.
A hierarquia e a estrutura que acabam criando problemas para a fé. Acontece isso na Igreja Católica, como acontece com outros ramos do cristianismo e em outras fés. Uma comprovação do fato são os vários ramos que existem em todas as crenças. O cristianismo tem centenas deles. O budismo, outro tanto. Os islâmicos são tão divididos que chegam a se matar para impor a fé de um grupo sobre o outro. A fé em si não exige nada material, pois é transcendental.
Tudo o que se discute, hoje, é a ética e os princípios da fé, nçao se referindo a nenhuma delas, e contrapondo-a à ciência, ao meio físico. Apesar de se dizer que fé e ciência não combinam, a escolha do novo papa pode indicar, a partir da ação que tomar, um novo caminho para a Igreja Católica e o que ele fizer pode, sim, refletir em outras crenças, cristãs ou não. Uma coisa é certa, não voltaremos à fé original.
As estruturas e hierarquias vieram para ficar. O que o novo papa pode fazer – e também as outras religiões – é torná-las apenas aparato, não o centro da crença. É tornar a igreja mais transcendental e menos terrena, é investir na ética, fazendo o que recomenda às pessoas, despindo-se do poder econômico e político e trazendo a religião para o nível dos mais pobres. Seria uma revolução e um grande exemplo.
Vai acontecer? Pessoalmente, acredito que não. Mas tenho a esperança.