Você gosta de poesia? Eu gosto. E tenho lido os poetas brasileiros, contemporâneos e antigos, mas admiro, também, a poesia de outras paragens, como a portuguesa, notadamente Fernando Pessoa, sem dúvida um dos maiores poetas da língua portuguesa. E ele, como sabemos, não era um, mas vários, pois produziu sobre vários nomes, com estilos e temáticas diferentes. E Portugal tem um outro poeta de que gosto, o José Régio, cujo poema mais conhecido é o Canto Negro. Um país, no entanto, não se limita a dois poetas e, no caso de Portugal, isso fica claro pelos que antecederam os mais modernos, como Camões, autor dos Lusíadas, considerado um dos mais importantes poemas épicos do mundo.
Pois foi em Portugal, onde estive há pouco tempo, que descobri uma poeta com uma temática muito interessante, o mar. E essa descoberta se deu por um acaso, em uma visita ao Oceanário, um prédio futurista onde a vida marinha é mostrada ao vivo. Nele, percebi que em algumas áreas havia versos, sempre sobre o mar. Fiquei curioso, mas não havia nenhuma informação sobre quem os havia escrito. No final, já próximo da saída, deparei-me, então, com um poema inteiro, o Fundo do Mar. E acabei, também, descobrindo o nome da poeta, Sophia de Mello Breyner Andersen. Anotei o nome e decidi que iria procurar alguma coisa por ela publicado.
Se gosto de poesia, também sou aficcionado por livros. E estando no berço onde o português e parte de nossa cultura nasceu, não poderia deixar de ir a mais do que uma livraria, olhar, ver o que estava sendo publicado, comparando com o que temos aqui. E foi em uma dessas visitas – um descanso para as caminhadas por Lisboa – que acabei descobrindo uma antologia da Shopia. Adivinhem sobre o que ela é? Exatamente sobre o mar. E nela, o poema que havia sido reproduzido no Oceanário. Um ótimo poema, no meu entender. E é por isso que o deixo, aqui, para a sua apreciação:
FUNDO DO MAR
No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores
Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho.
Dos seus mil braços,
Uma flor dança.
Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.
Esta e outras poesias sobre o mar estão em Mar, de Shopia de Mello Breyner Andersen. A antologia foi organizada pela filha dela, Mária Andersen de Souza Tavares, está na sétima edição e foi publicada pela Editorial Caminho, de Portugal. Se você gosta de poesia, é uma ótima leitura. Recomendo.
POST SCRIPT – Se você observar, o ritmo do poema é o das ondas do mar, que vão e vem. Descobri isso ao reler o texto e, de repente, me dei conta que também isso faz parte de sua beleza.
4 Respostas
Adoro poesia… e essa é mesmo linda e reflete o que sinto pelo mar: acho de uma beleza incrível, mas tenho um medo enorme dele.
Beijos muitos!
A Noite na Ilha
Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora – pão,
vinho, amor e cólera – te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.
Pablo Neruda
Bom dia Lino!
Nossa, quanto tempo sem vir aqui… Amei o texto por diversas razões, dentre elas a de que eu tbm adoro Fernando Pessoa e sou fã da literatura portuguesa. Sou apaixonada pelo mar e essa poesia, traça a meu ver, um paralelo entre ele e nós – seres “humanos”..rs
Beijos e bom domingo
Gosto muito de poesias, mas ultimamente só tenho lido leis…
Beijos
Tenha uma ótima semana!
Boa, noite!
Gosto de poesias mas não tenho talento para comentá-las. Só consigo sentir a vibração que uma poesia possui.
“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir queé dor
A dor que deveras sente.”
Por este tipo de vibração que um poema, como o que coloquei acima, possui é que sempre digo nos blogs de quem apenas poemas produz: “Não consigo comentar, só posso sentir”
Já os contos e as crônicas inspiram muito mais minhas conversas. e não sei o motivo pelo qual sou assim.
Boa semana, Lino!