Qual é a sensação de estar na rua após 131 dias de quarentena? Não diria medo, mas apreensão, sim. Depois de todo esse tempo, foi a primeira vez que, efetivamente, voltei às ruas e, para dizer a verdade, não literalmente a elas, mas para uma caminhada pelo calçadão da Praia do Morro, em Guarapari.
Até então, as poucas saídas de casa sempre envolveram carro. Em algumas delas, nem cheguei a sair dele. Noutras, sai rapidamente para fazer exames e em duas outras oportunidades. O tempo fora foi mínimo e, do veículo até o local, dei poucos passos. A caminhada foi diferente.
COM E SEM MÁSCARAS
Ao sair de casa tive que caminhar dois quarteirões até chegar à praia e o calçadão. É o que chamaria de reinauguração das caminhadas, feitas na Praia da Costa e, quando estamos em Guarapari, no calçadão da Praia do Morro, onde fica nosso apartamento.
É inverno e as ruas e o calçadão estão vazios. Mesmo assim, a insegurança toma conta, principalmente pelo número de pessoas que não usam máscaras e se portam como se não houvesse uma pandemia que, no Brasil, já infectou cerca de 2,5 milhões de pessoas pelos dados oficiais e já matou mais de 85 mil.
Mas há, de outro lado, muita gente de máscaras, que vão desde pessoas de mais idade às crianças. Não sei como seria em um dia de verão, mas tenho certeza que o número de pessoas seria muito maior. E que este aumento iria me desestimular de fazer o que fiz.
DO LADO DE FORA
Foi uma caminhada rápida com uma parada para comprar pastéis. Saímos e voltamos para casa, caminhando cerca de 5 quilômetros, o que é um bom trecho, mas é menos do que caminhávamos antes do início da pandemia. Mesmo assim, é diferente, já que não estão restritos ao espaço da casa, mas “do lado de fora”.
É este lado de fora que vinha passando pela nossa janela no dia a dia. De certa forma, já foi um desafio deixar Vila Velha e vir para Guarapari. E nada foi planejado. Surgiu a ideia e decidimos que, sim, poderíamos fazer isso, buscando manter a nossa segurança no nível mais alto.
Talvez seja o primeiro passo para o que será, amanhã, normal. O certo é que nos deu satisfação estar ao ar livre, ouvindo as ondas quebrarem e sentindo o vento marinho. E ainda fomos brindados com um belo por do sol, recompensa pela “ação intrépida” que tomamos – o plural refere-se à companhia de minha esposa.
E DEPOIS, COMO SERÁ?
Não sei – e ninguém sabe – como será o amanhã. Mas o que fizemos pode ter nos dado uma referência de como teremos de nos portar no futuro. Pelo menos até que haja uma vacina contra a Covid 19, permitindo que nos movimentemos sem os cuidados que estamos tomando hoje.
O que penso é que, mesmo com a vacina, os hábitos terão mudados e estaremos muito mais preocupados com a preservação da saúde. Até porque, como sabemos, existem aqui no Brasil e lá fora milhões de pessoas que não se importam, nem com a própria vida, nem com a dos outros.
Ao cuidarmos de nós, estamos também ajudando a cuidar dos outros.