Uma das coisas discutidas pela ciência são os instintos humanos, principalmente o de defesa, quando o corpo entra no automático e evita que sejamos prejudicados. A legislação internacional e a nacional, na maioria dos países, reconhece a existência desse direito, significando que alguém pode – e deve – se defender quando atacado. É o sentido de preservação. de proteção. E esta ação é também estendida aos Estados, considerados soberanos e, por isso, capazes de se defenderem contra agressões de outros Estados ou como é muito comum nos dias de hoje, dos chamados “grupos terroristas”, ideologicamente movidos que tentam atingir outro grupo – frequente em alguns países da África e Oriente Médio – ou países.
A propósito de que vem esta introdução, deve estar se perguntando se chegou até aqui? O título é uma indicação. Temos visto, nos últimos dias, o noticiário recheado com informações sobre a campanha de Israel contra os palestinos na Faixa de Gaza. A violência da ação já deixou centenas de mortos, crianças e adultos. As primeiras, na certa, nada tinham com o conflito e, no caso dos segundos, acredito que a grande maioria. Sou daqueles que penso que Israel tem todo o direito de existir, mas isto não exclui o direito dos palestinos. Acho, também, que Israel tem o direito de se defender, mas a reação que tomou, sob qualquer ângulo que seja analisada, é desproporcional e, por isso mesmo, não justificável, principalmente por atingir civis.
A desproporcionalidade se dá não apenas pelo volume do ataque, mas também pela relação de força, uso da tecnologia e recursos armados que combinam forças do Exército, Marinha e Aeronáutica. Para usar uma figura de linguagem é como se alguém usasse um canhão para matar um mosquito. A justificativa de prevenção do terrorismo e de ataques contra Israel pode servir para aplacar as dúvidas éticas dos apoiadores incondicionais do país e de suas ações, mas estão longe de se sustentarem. Nada pode justificar a matança, a irracionalidade de uma guerra que, no final, não terá ganhadores, mas apenas perdedores. Perdem os palestinos, que irão continuar ilhados, isolados e submetidos a uma extrema pobreza.
E perde os judeus e Israel. Os primeiros, por se tornarem objeto – mais uma vez – da antipatia e, em alguns casos, do ódio de outros povos, principalmente os que professam o islamismo como religião. E o país, em si, por se ver como pária da comunidade internacional, adotando ações que são condenáveis, tanto pela opinião pública, quanto pelos próprios Governos, que se mobilizam para parar a ação e estabelecer tréguas ou negociações. Racionalmente, é preciso parar uma briga sem fim, reconhecendo que palestinos e judeus tem, sim, direito ao seu próprio Estado, como já reconhecido há muitos anos pela Organização da Nações Unidas, e que apesar das diferenças podem, sim, viver em paz.
Sem um claro caminho para a paz, pode vir uma escalada do conflito e é o que ninguém deseja ver. O fato – além da deselegância da diplomacia de Israel de chamar o Brasil de “anão diplomático, por não apoiar a ação do país – é que a ação do Estado Judeu – e não se refere, aqui, à confissão dos cidadãos israelenses ou de sua origem étnica – não é justificável, como já afirmei. E um dos pontos é exatamente que não se trata de uma defesa e está longe de ser, como gostam os militares de dizer, de um ataque cirúrgico. Não é isso. O que vem acontecendo está sendo chamado de massacre e as imagens mostradas falam mais do que tudo.
Em nome até da racionalidade, é preciso parar com este tipo de matança. E isso, é claro, não se aplica só a Israel, mas a qualquer país que tome iniciativas idênticas. A guerra é, sob todos os aspectos, irracional. E nela, como se tem provado ao longo da história, todos perdem.