Tenho pensado nos últimos dias sobre gestos, regras e o comportamento das pessoas e isso tem uma razão. Todos os dias, ao ir e vir para o trabalho, fico observando o comportamento das pessoas no trânsito e o que observo, na maioria das vezes, é que ninguém cumpre as regras, nem do trânsito, respeitando preferenciais, dando passagem ou adotando um tipo de postura cooperativa, nem na vida do dia a dia. Não se vê mais pequenos gestos que denotam a intenção de alguém de ser cortês, de mostrar educação, de demonstrar paciência.
O trânsito, que já é ruim, vira um tumulto com carros furando faixas, desrespeitando faróis (sinal, em capixabês), formando filas duplas, triplas e quádruplas onde só cabe uma, desrespeitando faixas preferenciais, enfim, causando o caos. E quando se conversa com alguém, parece que isso assumiu ares de normalidade. Parece, mas não é. Se todos agíssemos de modo correto o trânsito fluiria de maneira muito melhor. Mas com os “espertos”, o que temos é que nem eles, nem nós, chegamos mais cedo ao destino. Pelo contrário, chegamos mais tarde. Todos perdem.
Talvez eu esteja fora do tempo, mas fui ensinado a respeitar as regras. Se via uma placa “não pise na grama”, aí de mim se o fizesse e meus pais descobrissem. Aprendi que mesmo que gentileza não gere gentileza, você deve ser, no mínimo, educado e uma mostra de educação, por exemplo, é não furar filas. E furadores de filas, em todos os momentos e em todos os lugares, é o que mais temos. Já falei aqui de outros gestos que me espantam, como é o caso de quem vai a um restaurante a quilo e começa a comer antes de pesar a comida. Ou a sobremesa. Estas pessoas se julgam espertas, mas isso tem um outro nome, é roubo, mesmo.
Aliás, na questão do roubo, a palavra não admite meio termo, não importando o tamanho dele. Ou é. Ou não é. E comer em supermercados, deixando embalagens vazias, comer parte da sobremesa antes de pesá-la, trocar etiquetas de produtos, transformando-os em mais baratos, dentre muitas, muitas outras coisas, é roubo. E como dizia minha mãe: quem faz o pequeno, acaba, mais tarde, fazendo o grande. Mas isso não é tudo e temos muito mais, como atravessar ruas fora das faixas, no meio dos carros, colocando a vida em risco e criando problemas para quem está transitando.
Ainda no quesito carros, o estacionamento em local proibido é uma das coisas mais comuns. Em frente ao prédio onde trabalho tem uma área reservada para carga e descarga, mas ela nunca é usada para isso. Nela, sempre estão estacionados automóveis que passam ali o dia inteiro e nada descarregam. Logo em frente, existe uma área reservada para deficientes. Será que eles nela estacionam? Negativo, pois quando chegarem, já está ocupada e com o incentivo dos flanelinhas que lotearam a rua e se transformaram em donos do espaço público.
Fico, muitas vezes, me sentindo idiota por seguir regras, ainda adotar certos gestos e procurar manter um comportamento que afete o mínimo os outros. Faço o que acho correto, o que aprendi. Mas não é o que a maioria, hoje, faz. Como mudar? Acho que só há um jeito: investir em educação e, no caso do desrespeito à s regras, haver punição. Estacionou em local proibido? Multa. O valor pecuniário acaba resolvendo. Reconheço, no entanto, que é uma situação difícil, principalmente por vermos que no caso do Brasil quem deveria dar o exemplo construtivo acaba contribuindo para que se espalhe a filosofia do jeitinho e a lei de Gérson.
No que se refere ao respeito às regras e à boa educação ando meio desiludido. Mas vejo que ainda existe um bom número de pessoas que as seguem. E isso me dá alento de continuar fazendo o que acho certo e de ter ensinado a meus filhos que tem de agir com correção. Não entendo o mundo de outra forma e estou absolutamente seguro que se todos agíssemos de forma correta as coisas seriam muito mais fáceis, inclusive para os que não as cumprem.
Entendam como um desabafo. E é. Mas acho que o Brasil só irá mesmo mudar quando todos entendermos que devemos fazer o certo, mesmo vendo líderes e ídolos fazendo errado. E cabe a cada um de nós falar disso, mostrar o que ocorre e despertar nos que nos cercam a importância da correção. Até, talvez, tomando isso como uma missão especial. Fica, no final, uma pergunta: O que podemos fazer? O que vocês acham?
4 Respostas
Lino,
Acho um absurdo a falta de educação do povo no trânsito. Pra que existem regras, placas, leis se o povo não as respeita e nem sempre tem a punição que merece?
Desisti de dirigir pq aqui em SP é um inferno o trânsito.
Big Beijos
Lino. É claro que “transgressão” de normas é algo que não dá certo, nunca. E não importa a qualidade e o teor da norma. Se é “pisar na grama” ou assaltar um cidadão…Acredito que as leis são feitas para melhorar a qualidade de vida da sociedade. Essa é a finalidade precÃpua delas. Como você bem frisou, sabemos o caos do trânsito, nas cidades grandes. E eu garanto que se 50% das pessoas seguissem as leis, o cenário seria outro.
Acho que ser ético é sê-lo em todos os momentos da existência, nos menores gestos e atitudes. Também fui educada assim e criei meus filhos dentro dos valores éticos.
Parece que estou aqui a fazer um auto-elogio, mas, depois de você, e algumas dezenas de pessoas, só conheço amim mesma que pensa o mesmo que você….rsrs
Não sou a “certinha”, nem a dona da verdade. Apenas ainda acredito na Ética como salvação do mundo.
Abraços!
Dora
Lino, tem uma das cenas escritas por Manoel Carlos em que o personagem de Claudia Abreu define o personagem de Marcos Palmeira como ” o mala” porque ele paga as contas em dias, joga o lixo no lugar certo, estaciona em lugar correto, devolve livros que lhe foram emprestados e não fuma em local proibido. Sou bem parecido com isso naõ piso na grama, guardo o papel até encontrar um local apropriado etc…Cabe a nós mesmos o código de conduta, talvez, assim com exemplos as pessoas que cometem desatos comecem a se sentirem foras dos padrões…os carros tem mais pressa do que os pedestres ou os motoristas acham que aquela carroça metálica é uma blindagem divina e saem como deuses digladiando por todas as avenidas…perfeita a sua colocação sobre furto ” Aliás, na questão do roubo, a palavra não admite meio termo, não importando o tamanho dele. Ou é. Ou não é. ” Parabéns…vc é normal!
abs
Não é so vc que se sente um idiota ao respeitar as regras e ser um bom cidadão,LINO.
Tbem tenho refletido muito sobre isto. É nas filas do banco,no transito,enfim,à todo momento somos colocados à prova. O pior é que ,qdo vemos como funcionam as coisas “lá em cima”,no “puder”,a sensação de revolta,de impotencia fica ainda maior.
Basta lembrarmos as ultimas denuncias de Brasilia,onde quase todos os senhores parlamentares usaram e abusaram das tais passagens aéreas,pra parentes,assessores ou amigos. E acham normal!!
Pois é!!
Abraços!