Eufemismo ameniza uma palavra mais forte

O NASCIMENTO DE UM EUFEMISMO

Eufemismo. Você já se deu ao luxo de ir ao dicionário e ver o que significa? Saibamos ou não, eles existem e muitas vezes nascem quase que de modo espontâneo, espalhando-se e tornando-se corriqueiro, até entrar no dicionário.

Veja o exemplo de “garotas de programas” um eufemismo para a mais antiga profissão do mundo. O que o nome significa, na verdade, é a velha prostituição, a venda do corpo para o prazer de outro, o sexo vendido como mercadoria. Ao chamar quem é da profissão de “garota de programa” ameniza-se o impacto que a atividade exerce sobre muitos.

A esta altura deve estar perguntando qual o propósito desta conversa. Vou contar. Antes, preciso contextualizar o acontecimento.

Por alguns anos trabalhei em um prédio novo, o começo da ocupação de área recuperada ao mar que hoje está cheia de “espigões” – aqui, o eufemismo é depreciativo. Com pouco estrutura nas cercanias, no térreo do prédio nasceram vários serviços. Um deles era uma ótima lanchonete que, no almoço, oferecia um prato feito a que muitos – e eu também – recorriam.

“AGORA, EU SOU NAMORADEIRA”

Várias ajudantes passaram, neste tempo, pela lanchonete. Uma delas, ficou mais tempo. Ela se destacou pela atenção dada aos que frequentavam o lugar, estava sempre disposta a conversar, vivia com um sorriso nos lábios e era bonita. Por meses, fui atendido por ela. Até que um dia não mais a encontrei.

Dias e semanas se passaram e, ao chegar ao trabalho, a encontrei. Quis saber se já estava em novo emprego, mas apesar das tentativas não tinha conseguido se empregar. Ainda está à procura de um novo trabalho.

Foi uma conversa rápida e subi para o trabalho. O tempo foi passando e talvez um ou dois meses depois – sou péssimo com datas – chegou ao escritório e emendou:

– Você se lembra da Letícia, que trabalhava na lanchonete?

Disse que me lembrava e ele contou que a havia encontrado ao chegar ao prédio e ficou um tempo conversando com ela, que havia lhe contado ainda não ter arranjando novo emprego. Acrescentou, segundo ele, sorridente que não ia mais procurar, pois iria começar nova atividade.

– Que atividade é essa? Perguntou o meu sócio.

– Eu agora sou namoradeira, respondeu.

Fiquei esperando pois tinha certeza que haveria uma conclusão e não me decepcionei. Meu sócio, que é direto, parou e explicou a conversa tida com a “namoradeira”, entendendo o que a nova atividade significava.

A jovem havia adotado a mais velha profissão do mundo, virando “garota de programa”, usando o seu corpo, jovem e belo, como fonte de renda. Mas o que e disse mesmo foi:

– Ela virou puta. Entrou para a prostituição.

Eu tinha entendido. Nada comentei, mas pensei: acabei de ver o nascimento de um novo eufemismo.

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