Os altos ganhos na tecnologia aumentaram a desigualdade em São Francisco

ECONOMIA, DESIGUALDADE E O FATOR TECNOLOGIA

A tecnologia, por princípio e em si, não é boa nem má. O que a torna benéfica ou não é a forma como é usada. É isso que faz a diferença e, se olharmos em perspectiva, podemos constatar que a tecnologia e os avanços que ela ocasionou foram, em sua maioria, em benefício do homem. Este fato, contudo, não impede que os benefícios ou malefícios da tecnologia para o homem seja objeto constante de discussão. Um dos pontos em destaque, nos últimos tempos, é a discussão sobre a desigualdade criada pela tecnologia, algo que começou em São Francisco, nos Estados Unidos, que é, sem dúvida, o maior pólo tecnológico do mundo e onde estão concentradas as maiores empresas do setor – Apple, Google, Facebook, etc.

O centro da discussão em São Francisco é que a remuneração dos empregados destas grandes empresas, técnicos de alta especialização, está mudando a situação na cidade, expulsando dela os moradores “comuns”, que não tem ganhos nem próximo dos deles. Uma das consequências é que morar na cidade é muito caro e como vivemos em um sistema capitalista, os donos de imóveis querem ganhar mais e acabam forçando a saída de inquilinos para hospedar a nova elite da cidade. No final, isso acaba tornando a cidade muito rica e, ao mesmo tempo, pobre, destacando a desigualdade entre os que ganham muito bem e aqueles que, no final do mês, recebem um contra-cheque comum, pois não estão vinculados à indústria tecnológica.

Esta discussão serve para ilustrar a preocupação da cidade e, no rastro dela, a maior novidade é estudo promovido pela União Européia exatamente sobre os ganhos do pessoal da área de tecnologia. O relatório ressalta e reforça o que já acontece em São Francisco e nos revela que a desigualdade, criada a partir dos altos salários pagos a técnicos altamente especializados, chegou para ficar e, na visão do estudo, tende a piorar nos próximos anos, na medida em que a tecnologia afetar ainda mais nossas vidas. O capitalismo, todos sabemos, não é o regime da igualdade, mas o mundo tecnológico tem tornado isso ainda mais evidente. O que os dados da União Européia nos mostram é que a situação existentes no Vale do Silício está se repetindo em outros locais e que não há perspectiva de que mude em curso ou médio prazo, equilibrando os ganhos e estreitando o fosso hoje existente.

Neste caso, a tecnologia não é boa, como fica evidente pelos números. Nos Estados Unidos, o ganho médio das famílias é de cerca de 50 mil dólares por ano. No Vale do Silício, é muito maior. Um empregado em posição intermediária em uma das grandes empresas de tecnologia ganha mais de 10 mil dólares mensais, o que significa que em apenas cinco meses uma só pessoa ganha mais do que uma família que não está vinculada ao mundo tecnológico. Há, ainda, outro fator a considerar. Como os salários médios são calculados com base no total de recebimentos dos que tem emprego, a média acaba distorcida pelos ganhos muito superiores de quem é especializado e trabalha no setor de tecnologia. Assim, na verdade, a desigualdade é muito maior.

Esta é a realidade. E é um caso típico de a tecnologia, neste caso, não ser uma coisa boa.

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