Como será o amanhã? A pergunta, que embalou a avenida no desfile da União da Ilha, no Rio, é adequada para os dias de quarentena que vivemos. E a letra da música segue: “o meu destino será como Deus quiser”. É, de certa forma, o que estamos vivendo, um dia a dia em que o futuro se nos apresenta distante e sem nenhuma certeza, o que leva, aqueles que tem fé, a deixar o destino nas mãos de um ser supremo.
O fato é que olhando em perspectiva jamais iríamos imaginar que vivenciaríamos a situação de hoje, onde o distanciamento social se tornou a única ferramenta para a contenção da pandemia do coronavírus, que nos trouxe a Covid19. Pessoalmente, eu e minha esposa, estamos chegando aos 50 dias de isolamento social. Nunca, antes, sequer havia sonhado, no mais louco dos meus sonhos, que tal acontecesse.
DE PONTA CABEÇA
A vida, como a vivíamos, for colocada de ponta cabeça. O que ontem era importante, tornou-se trivial. O que não era, tornou-se urgente e necessário. O causador de tudo foi um vírus que tomou conta do mundo, chegando, de maneira muito rápida, há mais de 185 diferentes países. Neste caso, a globalização ajudou. Foram pessoas viajando, frequentando locais onde a infecção já estava, e a trazendo para seus locais de residência.
Eu mesmo tinha feito planos de viajar, que foram colocados de lado quando começaram a surgir notícias da infecção. Minha esposa, com um grande felling, se opôs a viajarmos e deixamos para definir mais tarde. E então, veio a pandemia, deixando-nos em casa. Viajar de novo? É uma das coisas do futuro que, no nosso caso, não temos a mínima ideia de quando irá ocorrer – e se irá ocorrer.
MUNDO LOCAL
O que a pandemia nos trouxe e que vai deixar profundas consequências é que deixamos de ser pessoas do mundo e voltamos a ser locais. Em minha juventude, quis alargar meu universo, saí de casa, estudei, trabalhei e conquistei o que buscava. Hoje, voltei a viver em um mundo pequeno, com a única diferença de termos as notícias globalizadas, sabendo imediatamente o que ocorre em várias partes do mundo.
Para os que prezam a sua vida e a dos outros, o mundo tornou-se, de súbito, muito pequeno, restringindo-se ao espaço de um apartamento ou de uma casa e seu quintal. E será assim até que a ciência nos diga quando poderemos alargá-lo. Mas mesmo quando o fizermos, ele jamais voltará ao seu tamanho normal.
Tenho refletido sobre o que está acontecendo e procuro me informar sobre o que virá. De tudo o que li nestes dias de quarentena a única certeza que tenho é que a mudança é inevitável, o que não indica, em nenhum momento, como será o amanhã.
Se não sabemos ao certo e se sequer temos ideia de como será o amanhã, graças a estes dias de quarentena, temos de voltar ao samba enredo da União da Ilha, e concluir que o nosso futuro será como Deus quiser. Nenhum de nós, é certo, sabemos como ele será.