O mar, com o seu constante vai e vem, sempre me fascinou. Nascido e criado na “roça”, tive na primeira vez que vi o mar comportamento idêntico a milhares de outros garotos, garotas e adultos: provar para ver se a água era mesmo salgada. Isso aconteceu comigo ainda garoto, já¡ que tínhamos parentes que moravam em Vitória e, com alguma frequência, os visitávamos. Nestas visitas juntava-me a primos e amigos para explorar a paisagem e chegar ao mar, na maioria das vezes, à praia de Coqueiral – hoje, Itaparica, em Vila Velha – assim chamada por ter um imenso coqueiral, plantado pela família que era proprietária das terras à margem do mar.
Quando tornei-me adulto, o caminho natural foi o de sair de casa e ir para uma cidade maior, neste caso, Vila Velha, onde moravam tios na casa de quem podia ficar. Vim e, logo depois, estava empregado, criando novo circulo de relacionamento com quem tinha a minha idade e interesses muito parecidos. Trabalhávamos e, nos finais de semana, o nosso playground era a praia. Muitas vezes chegávamos logo cedo e só saiamos no final do dia, aproveitando ao máximo, além, é claro, de poder apresentar um belo bronzeado durante o verão. Aproveitei bem, apesar de pequenos incidentes que, no final, não chegaram a representar um problema.
Se tinha o lado lúdico, de divertimento e de descanso, a praia sempre me fascinou, também, pela movimentação das ondas. Como explicar que, em alguns locais, elas são maiores e mais pesadas, quebrando com um barulho ensurdecedor? E em outros, temos um mar totalmente calmo, com as águas correndo quase que sem barulho. Neste contraste, o barulho das ondas quebrando sempre me atraiu mais, embora, no caso de banho, preferisse o local de ondas menores, mesmo tendo como uma das atividades preferidas na água “pegar jacaré”, que é o deslizar junto com a onda, até chegar à areia, sem o uso de qualquer outra coisa que não o corpo.
Mesmo estando próximo da praia, nunca havia morado, até um certo tempo, à beira dela, o que veio acontecer em determinado tempo de minha vida, já¡ com filhos adolescentes. Escolhemos um local muito tranquilo, próximo de um dos morros de Vila Velha, com um belo pedaço de mata atlântica e, na frente, uma pequena praia, povoada por barcos de pescadores que, nela, tinham sua colônia. Não sei se consciente ou não, mas escolhemos um apartamento de onde podemos ouvir, claramente, o barulho da onda quebrando na pequena praia. Parado, no silêncio, era possível ouvir o “chuáááááááááááááá” da onda correndo na areia.
Com a mudança, o que era fascínio, acabou virando terapia. Com a porta da varanda do meu quarto meio aberta e ouvindo a onda quebrar, minha insônia foi embora, sumiu. Nunca mais, desde então, remédio para dormir ou noites insones. O barulho das ondas passou a me acalentar, induzindo o sono e servindo como o melhor relaxante. Descobri, assim, o valor terapêutico do vai e vem do mar e, hoje, quando quero relaxar, posto-me na minha varanda, fecho os olhos e ficou ouvindo o barulho das ondas.