Por que alguém é viciado em algo que, sabe, vai acabar destruindo sua vida? Eu – e todos nós – temos ouvido esta pergunta, sobretudo nestes tempos onde o vício se espalhou, transformando-se em um negócio milionário e que envolve todos os estratos da sociedade e que só faz aumentar. Se olharmos o que tem sido publicado, vamos elencar as mais diferentes razões para explicar ou justificar o vício, indo desde questões familiares à própria situação econômica, com o desejo de ter uma vida melhor, com maior ganho e com mais coisas.
O que se pensava era que a decisão de consumir uma droga – lícita ou ilícita – era de cada pessoa e que o vício chegava, dentre outros fatores, pela falta de vontade em abandonar o consumo. Este, aliás, tem sido um dos pontos explorados por filmes mais recentes, já que alguns, mais antigos, mostram o outro lado da droga, a miserabilidade que traz às pessoas, deixando-as à mercê de outros que só tem o intuito de explorá-las, fazendo mais dinheiro.
O que pensávamos, até agora, sobre drogas e vício acaba de ser posto por terra por cientistas que investigam o funcionamento do cérebro. O que eles descobriram é que o vício – todos eles – é comandado por uma parte específica do cérebro. É a atividade cerebral que faz a repetição do consumo, levando alguém que prova uma determinada droga, como o crack, a repeti-la e exigir cada vez mais. A descoberta é vista como um importante avanço.
O fato de ter sido feita não significa, no entanto, que estaremos resolvendo, de imediato, a questão dos vícios. Os cientistas sabem que é o cérebro que está no comando, mas não sabem, ainda, como é que ele funciona, fazendo com que alguns se viciem e outros, não. O desafio, agora, é exatamente descobrir como os neurônios comandam a exigência pela droga. Quando chegarem a isso, os cientistas terão condições de agir para fazer com que o cérebro aja de modo diferente, mandando comandos que, ao invés de dar boas vindas, rejeite as drogas.
A descoberta põe, novamente, o cérebro em evidencia, uma parte do corpo humano que é vital, pois tudo comanda, mas que ainda é pouco compreendida pela ciência. E traz, de novo, a velha discussão entre ambiente e genética e qual deles é que determina o comportamento humano e, se ele for genético, teremos como mudá-lo. Hoje não mais existem dúvidas da influência do ambiente, mas também os cientistas estão certos do papel exercido pela genética. Em alguns campos, uma tem maior influência que as outras e este parece ser o caso das drogas.
Estamos no limiar de um grande avanço. A dúvida é quando ele vai acontecer e o que será necessário para controlar o vício, fazendo com que as pessoas deixem a dependência química de lado. O caminho já foi iniciado e, certamente, levará a um resultado. O que não devemos deixar de lado é que, também do outro lado, daqueles que exploram o vício, há avanços, como mostram as drogas sintéticas. A ciência não é feita só de bons mocinhos, como sabemos.
De qualquer forma, a descoberta feita nos Estados Unidos nos abre a esperança de, em algum tempo mais, vermos resolvida a questão do vício. Se não em sua totalidade, pelo menos oferecendo ferramentas que possibilitem a quem assim o quiser, livrar-se dele.