Quando falamos ou lemos sobre sustentabilidade e preservação do meio ambiente poucas vezes damos à água a importância que ela merece. Convivemos, no mais das vezes, com a impressão que a Terra tem água em abundância e que isso é mais verdade no Brasil, que possui imensas bacias hidrográficas, com rios gigantescos como o Amazonas. Sim, o mundo tem muita água, mas a maior parte dela, como sabemos, está nos mares e eles são salgados, exigindo gastos imensos para que a sua água seja bebida. O que poucos sabem é que, do total da água existente no planeta, apenas 2,5% dela é potável, própria para ser bebida. Deste total, dois por cento fica nos pólos, congelada, o que nos dá 0,5% para o consumo. É muito pouco.
Mas o volume de água potável não é o único problema que a humanidade, um dia, terá de enfrentar, inclusive no Brasil, como mostra a crise de abastecimento em São Paulo que vê a cada dia o volume disponível para abastecer a população diminuir. Há, ainda, um terceiro aspecto a ser enfrentado: a maior parte da água potável do mundo não é destinada aos humanos, sendo que 70% dela é usada para produzir comida. É verdade que parte do líquido que precisamos para sobreviver uma parte vem do que comemos, mas o consumo para produzir o alimento é muito desproporcional àquilo que pomos à mesa. Há duas semanas a revista Veja publicou um pequeno encarte que mostra alguns números do uso da água. E eles são impressionantes.
Vejamos, por exemplo, a produção de frango, uma das carnes mais consumidas no Brasil e no mundo. Na granja, para produzir um único quilo de carne de frango são gastos nada menos do que 4 mil litros de água. Imagine que o recomendável para nós, humanos, é que bebamos dois litros dela por dia. Isso significa que para produzir um frango de dois quilos são gastos o volume de água que um humano levaria mais de 10 anos para tomar. O pior cenário é no caso da carne bovina. A cada quilo de carne de um novilho, até que chegue à mesa do brasileiros, são consumidos nada menos do que 15 mil litros de água, que é igual a mais de 20 anos do consumo humano, considerando que cada um tome dois litros por dia.
E não é só na comida, não. Praticamente todos os produtos feitos pelo homem necessitam de água na sua produção. Um automóvel, dos milhares que vemos todos os dias nas ruas, precisa de 400 mil litros para ser produzido. Uma calça jeans, 11 mil litros. A indústria, como um todo, consome cerca de 20% de toda a água disponível. Junte o aumento da população com o aumento do consumo e temos um cenário quase que apocalíptico nos esperando no futuro. Hoje, já há países onde a água é muito escassa e o impressionante de tudo é que neles é que se mais gasta. O maior consumo per capta de água está nos Emirados Árabes, que precisam dessalinizar a água do mar, a um alto custo, para depois desperdiça-la em obras faraônicas.
O que faz a economia do mundo girar atualmente é o consumo. Quando ele cai, a economia estanca e, por isso, é preciso estimulá-la para que tenhamos crescimento e prosperidade. A fórmula é repetida, repetida e repetida e tem dado certo. O que há do outro lado deste afã por consumir é o prejuízo ao meio ambiente. É preciso pensar no que consumimos e o consumo consciente, sem desperdícios, é um dos caminhos para que também criemos menos impactos no meio ambiente, sobretudo no consumo de água potável, que não é, ao contrário do que pode parecer, um recurso inesgotável. Como todos os outros recursos do planeta, ela também é finita e se não cuidarmos de preservá-la, estamos nos arranjando um problema futuro.
O caminho não é novo, mas difícil de seguir: consumir menos, ser mais responsável.