A democracia, como a conhecemos, é fruto de um fenômeno que os jornais ajudaram a construir: a opinião pública. Foram os jornais – a mídia de então – que cuidaram de espalhar informações, formar opiniões, discutir problemas e levar avante o debate sobre o que era melhor para o Estado, para a população. Os formuladores da independência dos Estados Unidos, que também foram os formuladores da nova democracia, contaram e contavam com a mídia, isto é, os jornais para ajudar a forjar uma opinião pública forte e esclarecida, o que, entendiam, iria significar a permanência de um regime cuja base está na participação.
O que os fundadores do Estados Unidos anteviram acabou acontecendo e, com o tempo, os jornais ganharam mais e mais importância. Mas as coisas mudam e não foi diferente para a indústria jornalística. Primeiro, com o rádio. Depois, com a televisão e, por fim, com a internet. A diversificação fez com que os jornais deixassem de ser o meio de informação para se transformarem em apenas mais um meio de informação. Olhando historicamente a questão, jornais de praticamente todos os países deram belas contribuições para a informação e formação da opinião pública. Exerceram este papel criticando, apontando caminhos, promovendo debates e apresentando o resultado das ações de quem estava no poder.
Como observa Terry Eagleton, a partir do iluminismo o homem descobriu que só uma coisa é constante: a mudança. Ao longo dos anos o mundo mudou, a população mudou, cresceu, se renovou e os jornais foram, aos poucos, perdendo espaço, ocupado por outras mídias. Ao lado disso, o número de jornais foi diminuindo, com muitos sendo fechados devido à inanição financeira. Aqui no Brasil mesmo tivemos isso, estreitando-se o campo da competição e, com isso, da pluralidade de informação. E ao lado do encolhimento da indústria jornalística tivemos o crescimento dos outros meios, notadamente a partir da Internet e de sua interface gráfica.
Aos poucos, as pessoas foram descobrindo que, primeiro, poderiam ter a informação no seu computador, na sua frente e cada vez mais próxima do acontecimento. E, depois, que a podiam ter de graça, quando antes pagavam por ela ao comprarem o jornal. Foi exatamente a combinação destes fatores que levou ao encolhimento dos jornais, à supressão de muito títulos, a queda na circulação, a queda no volume de anúncios e que, em consequência, levou – principalmente no Brasil – ao enxugamento das redações. Nas empresas, venceu a lógica do menor custo, com a demissão de profissionais melhor remunerados para a contratação de outros, mais jovens e sem experiência, e com salários muito menores. O resultado foi uma queda de qualidade, que resultou em encolhimento de circulação, em menor faturamento e em novos cortes de custos. Criou-se um círculo vicioso.
Ao se ampliar o campo da informação, os blogs também fizeram o seu papel. Estabeleceu-se, no caso da comunicação, o mesmo princípio de nicho da internet. Se você quer informação sobre moda, basta procurar sítios ou blogs que tratam do assunto e que tem muito mais agilidade que os jornais ou a mídia tradicional. A informação está à espera de quem dela precisa e sabe o que quer. E pode chegar no leitor de RSS ou simplesmente no email. Não é mais o Editor do jornal que diz o que cada um deve ler. Agora, é o próprio leitor que determina sua preferência, ampliando o seu poder de escolha e a gama de assuntos à sua disposição. E tudo isso com a impressionante rapidez, que lhe traz a informação quase que em tempo real. É uma concorrência muito desleal, até pelo custo de produção da informação, que é muito menor do que em um veículo impresso.
Por tudo isso – e infelizmente – os jornais, como os conhecíamos até agora, não tem futuro. Eles estão se tornando, a cada dia, mais irrelevantes, abordando temas que deixam de lado a informação e apelam para o entretenimento. Há um caminho a percorrer? Sinceramente, não sei. E pelo que tenho lido, também os especialistas não o sabem. Há, em todo o mundo, tentativas de mudar a forma do jornal, dar-lhe um novo dinamismo, recriá-lo. Vão conseguir? Mais uma vez, não sei. O que sei é que lamento que os jornais, graças a estas combinações de fatores, estejam se tornando quase irrelevantes. Sou, profissionalmente, produto do meio impresso e vejo com tristeza, ao abrir diariamente os jornais que, até por obrigação profissional, acompanho que não retiro deles informações que façam a diferença. Uma pena.
O que constato – e vejo posição idêntica na opinião de quem lê jornal – é que a leitura é feita por hábito. O jornal de hoje é o que aconteceu ontem. E ontem já lemos tudo o que está sendo publicado. E não só isso, mas muito mais. E se já sabemos, que importância terá o jornal? Não sei responder. O que sei é que, apesar da queda dos jornais, o jornalismo nunca foi tão atuante e presente, indo da mídia tradicional à nova. Talvez seja como no velho dito de dar-se os anéis para manter os dedos. Talvez cheguemos à conclusão que o importante, mesmo, é o jornalismo, não o meio que ele utiliza para se expressar e informar.
5 Respostas
Olá,
ele está perdendo espaço mais não vai dexar de existir
abs
Lino, acredito que os jornais perderam um pouco pra internet, mas não acredito que serão extintos.
Eu, pelo menos, sinto falta do “fÃsico”: no caso dos livros, gosto de e-books, mas não abro mão de pegar um bom livro e degustá-lo.
Bjo e otimo findi.
Não creio na extinção dos jornais, mas que eles perderam grande público, isso é fato.
Um ótimo fds pra vc.
depende, lino. como sou eu que preparo o clipping do embaixador, leio seis jornais brasileiros por dia, mas tudo pela internet. não seria essa uma continuação natural do jornalismo? abraço.
É, Lino!
Ótimo tema para se pensar! Mas acredito na continuação dos jornais, pelo menos de alguns, que se ocuparão mais com o conteúdo esmiuçado das notÃcias, dadas de forma mais rápida pela internet e pela televisão. E com a criação de outras plataformas de informação, como sobre arte, literatura, esportes, etc..
Abraços.