A PERCEPÇÃO DA CORRUPÇÃO

Se alguém lhe perguntar se a corrupção está diminuindo ou aumentando, qual será sua resposta? A se crer pelo que os jornais publicam no dia a dia, ela seria clara e viria na forma de uma firme afirmação de que há, sim, um amento, falta controle e empresas e Governo estão nela envolvidos.

Este é o panorama do Brasil? Sim, dirá você. E se eu disser que se há, entre os brasileiros esta percepção – e não conheço estudos ou pesquisa sobre o assunto – ela não é exclusividade nossa. Um estudo que a Ernst e Young, uma das maiores empresas de consultoria do mundo, acaba de publicar – e já o faz por 10 anos consecutivos – torna claro que a percepção do aumento da corrupção é mundial.

A empresa ouviu, no seu levantamento, mais de 1 200 executivos de todo o mundo, envolvendo empresas de vários países. O resultado é que eles acham que a corrupção é um problema crescente, que está ficando pior, mesmo em países onde o seu controle é melhor do que no Brasil, como, por exemplo, os Estados Unidos, que tem uma legislação especial sobre o assunto e penaliza quem paga propinas.

Estes executivos acreditam que há, de parte do poder público, um esforço para conter a ampliação da corrupção, mas não vem resultado nele. Esforços tem sido feitos em relação à melhoria na legislação, o que torna o combate à corrupção mais eficiente, segundo 70% dos ouvidos pela Ernst e Young.

Mas espera aí. Temos uma contradição. Se o combate à corrupção é mais eficiente, como a percepção dela diz que está aumentando? Isso tem muito a ver com o universo pesquisado. A maioria dos executivos está no chamado Primeiro Mundo, onde o enfrentamento legal da corrupção é muito mais ativo. Suas empresas, no entanto, atuam em todo o mundo e é por isso que dois terços deles afirmam que estão mais cuidadosos, com os olhos voltados para evitar este problema.

Por que tudo isso? É que vejo entre nós, brasileiros, uma tendência de achar que o Brasil é o único país onde há corrupção no mundo. Não é. E o relatório deixa isso muito claro. Ela existe aqui, sim, mas também está presente no Primeiro Mundo. Lá, como aqui, empresas pagam propinas, fazem acertos e usam meios ilegais em suas atividades. O controle é maior, mas a fraude e a corrupção, como admitem os próprios executivos, existe.

Um dado curioso é que estes executivos afirmam que as auditorias internas das empresas tem como determinar se foi ou não pago propina. Será? Como se explica, então, o caso da Alstom que, segundo as informações, saiu distribuindo propinas no Brasil? Ela tinha controles internos? Certamente que sim, mas isso não impediu que para ter contratos utilizasse um expediente condenável.

De qualquer forma, com ou sem controle externo, não há justificativa para o pagamento de propina, para a fraude, para a corrupção. Existindo ou não lei, ela é condenável, inclusive do ponto de vista ético, já que acaba transformando produtos e obras em coisas mais caras, pelas quais todos nós pagamos.

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