Não sou o que se poderia chamar de telespectador de novelas. Na verdade, há anos que não vejo uma. Às vezes, sapeando os canais da TV, acabo passando por um canal aberto e vendo flashes do que está passando, incluindo as novelas. Uma delas, de que tenho sido telespectador compulsório, é Araguaia. Dela, vejo alguns trechos quando estou na academia.
E foi a partir do que vi – pouca coisa, por sinal – que comecei a refletir sobre a irrealidade das novelas. Mas não É ficção, poderão dizer. Sim, é. Na novela há todo um mundo ficcional, mas os autores – nem todos, talvez – procuram aproximá-las do real, o que lhes garante mais autenticidade. E é nesta aproximação que os estereótipos abundam – perdoem a expressão.
Tomando ainda como exemplo Araguaia, a primeira coisa que notamos é que ninguém trabalha. Ora, se não o fazem, serão todos ricos, como o personagem de Lima Duarte? Não são. Mas não se os vários personagens que compõem a trama trabalhando. Então, vivem de que? Neste caso, o universo da novela está muito distante da realidade, até na apresentação de quem é mais pobre, sempre muito bem vestidos e com um ar fresco que, na vida real, a maioria não tem.
Ao lado do trabalho destaca-se, ainda, algumas atitudes e comportamentos. Não é comum na sociedade brasileira o uso de roupões. Eles são mais afeitos ao clima frio, agasalhando quem os usa. No calor, eles são, na verdade, insuportáveis. Pois não é que o Lima Duarte vira e mexe está com um pesado roupão. E isso no meio do nada, no Centro Oeste brasileiro, que é uma das regiões mais quentes do país. E não me venha dizer que a fazenda tem climatização, pois nas cenas as janelas estão abertas.
Há, ainda, na Record, se não me engano, uma novela em que praticamente todos os personagens são vampiros (?). Aqui, a irrealidade chegou ao extremo. Vi – outra vez na academia – alguns trechos de um capítulo. Que coisa trash!. Vampiros no clima tropical? E convivendo no dia a dia com as outras pessoas? Admitamos que este tipo de personagem faça sucesso, mas a TV extrapolou. Pelo menos eu penso assim.
É certo que as novelas procuram idealizar as situações. E um dos objetivos é não levar ao telespectador o mesmo mundo em que ele vive, fazendo com que sonhe ser possível viver como um dos seus personagens favoritos. No Brasil, o poder das novelas é tão grande que seus personagens principais acabam sendo tratados como se fosse reais, fazendo parte de conversas e do dia a dia das pessoas, fazendo, de certa forma, com que se esqueçam que estão no mundo da ficção.
Talvez por não ser um telespectador deste gênero, não seja o mais indicado para comentar. Mas, aqui pra nós: os autores poderiam colocar a ficção mais próxima da realidade, principalmente evitando os estereótipos. O que vocês acham?
5 Respostas
Pois não é que é mesmo?
Na novela Passione, o italiano Totó (Tony Ramos) vive de jaqueta, camisa e camiseta por debaixo e nem sua, mesmo no calor abrasador de São Paulo nesses dias de outono, que dizer nos de verão…
se já passamos tantos transtornos e sentimentos de impunidade na vida real, pra que se servir na hora dita lazer de mentiras traições e ver o mal se dar bem, na ficção. tem telespectador que é masoquista.ver o que irrita na vida real retratado na ficção e diz que é para se divertir.meu deus socorra esses ignorantes!!!!!!!!!!!!
Lino, eu sempre fui noveleira e notei q nessas novelas nunca mostram os personagens trabalhando, apenas um pequeno núcleo, o resto vive o q? De luz?
Big Beijos
Camarada Lino:
achei interessante a circunstância de ninguém trabalhar na novela Araguaia. Acredito tratar-se de um pedaço do paraíso ainda não conspurcado pelo pecado original. Acho que gostaria de morar lá.
Quanto aos vampiros tropicais: o realismo mágico chegou na telinha.
Um abraço.
Lino, o rosário de absurdos que vemos nas novelas é mesmo avassalador, mas o povão não tá nem aí pra isso, quer é mais… E quem se preocupa com a qualidade dos textos e imagens se descabela em vão. Meu abraço.