Grandes, pequenos, gordos, magros, altos, baixos, morenos, brancos, mulatos, corpos sarados ou nem tanto, cabelos grandes ou pequenos, crianças, adultos, homens, mulheres, carros, ônibus, cães, futebol, vôlei, futevôlei, futebol americano, frescobol, coco gelado, picolé, cachorro quente, pé de moleque, bombons, sanduíches, sorvetes, milho cozido. Gente, muita gente.
De certa forma, este é o panorama de um domingo de sol na Praia da Costa, onde moro. Nele, o subúrbio – e não vai aqui nenhum preconceito – invade a praia e a transforma no espaço mais democrático da cidade. E isso sempre me impressiona. Primeiro, pela diversidade das pessoas, que são de todos os jeitos, indo dos louros aos negros e dos solitários aos grupos, tanto de adolescentes, quanto de adultos.
Sei que alguns fazem restrições à invasão. Afinal, o bairro é considerado um reduto de classe média alta. Nos finais de semana, principalmente no domingo, ela vira espaço do povo, indo do mais humilde morador da cidade ao mais abastado. Consagra, com isso, a praia como o espaço mais democrático existente. Nele, quem tem pouco tem a mesma oportunidade de quem tem mais. E no final, acredito, acaba se divertindo muito mais. Observo, divertido, os comportamentos enquanto caminho.
Na minha frente, uma mãe protege o filho, que deve ter um ano. Um pouco mais e alguém passeia com o cachorro de estimação. Ando mais um pouco e adultos se esforçam no futebol de areia. Em uma outra área o que domina é o vôlei, mais adiante, o frescobol. No meio de tudo, corpos molhados, suados, sujos de areia, rescendendo a sal. E gente, muita gente. Jovens, crianças, senhores e senhoras aproveitando o que ainda resta do sol.
E aproveitando que está chegando a hora de voltar para casa, preparando-se para o início de mais uma semana, aproveitam para comer. Os ambulantes fazem, então, a festa. Vendem de tudo, do DVD pirata “importado” não sei de onde, ao cachorro quente com muito molho e muita maionese. Tem também doces, picolés, bombons e não poderia faltar o coco gelado e a água de coco.
Em uma área particular do calçadão se concentra o comércio, que vai do artesanato, feito por rastafaris, às indefectíveis camisetas para turistas, ressaltando as qualidades da Praia da Costa – aliás, verdadeiras. Mas o que se impõe mesmo é a comida. No caso dos cocos, um único ambulante chega a vender mais de 600 em um dia como este, mas ao lado de uma água de coco gelado há lugar para a cervejinha e o refrigerante.
O que vejo, na verdade, ao caminhar em um dia destes é um microcosmos do Brasil. Ali, lado a lado convivem todos os tipos de pessoas e mostram a diversidade de nossa população, que vai do branquelo – o meu tipo – ao negro. Há, neste caso, não só uma democracia racial, evidente pela diversidade de tipos humanos, mas uma convivência harmônica entre os vários tipos de pessoas.
É interessante ver, também, como a praia é capaz de provocar divertimento em quem, deixando sua casa, vem curtir o sol e a folga. As pessoas ficam alegres, sorriem, extravasam essa alegria nos encontros, nas conversas e até na oportunidade do consumo, seja para eles próprios, seja para os filhos, que usam um dos brinquedos disponíveis ao longo da praia.
O calçadão, no domingo, deixa de ser frequentado por gente mais austera e ganha um colorido que não lhe é usual. E com ele vem a alegria de quem, aproveitando-se de um lazer barato e disponível, aproveita o dia. Se esbalda, na verdade. E o faz em harmonia. É a beleza da diversidade e da convivência.
Pode ser que os moradores permanentes da Praia não gostem da invasão, mas ela é quase que um laboratório de observação, podendo se ver padres de comportamentos e muito mais. Como disse, divirto-me observando a diversidade, seja das pessoas, seja dos comportamentos. A única coisa que me incomoda é o lixo que fica, sobretudo o plástico que toma conta da areia.
O fato é que tudo é uma festa. O lazer é barato – custa uma passagem de ônibus – e a praia é boa. Juntando os dois, a diversão é garantida. E na segunda-feira, chegando ao trabalho, quem se aproveitou pode lembrar-se de um belo dia de sol e dizer, no final, que, pelo menos no domingo, a praia foi, literalmente, do povo. Nela, vemos o universo do Brasil, não só do seu lado Bélgica, mas principalmente o outro lado, que tem muito de Índia. E é neste espaço que os dois ou mais lados conseguem conviver de forma pacífica.
Talvez aí se explique o espírito do brasileiro.
7 Respostas
Be,o texto observador,LINO. Alias,lembrei-me de qdo ia às praias de Santos e adorava tentar observar quem era quem. Nas praias,um biquini,ou uma sunga ,deixa-nos todos iguais.
Abraços e otima semana!
Minas, pra ser perfeita, só falta a praia, Lino!
Ainda mais com o calorão que está fazendo aqui! Mas é, sem dúvida, um lugar democrático!
Bjo e otima semana.
Gostei da sua abordagem Lino, incrivel como a gente encontra os mais diversos tipos de pessoas em um dia de domingo não?
Big Beijos
Realmente um dia de domingo na praia é relaxante e indubitávelmente democrático…Abraços Lino
Oi Lino.
A praia é o local mais democrático que existe. Não tem como ocultar a aparência sob vestimentas caras. Viva a democracia.
Não gosto de praia. Prefiro passar o domingo descansando… é, talvez eu seja de um outro planeta!
a praia não é democratica , pois a mesma se divide em faixas de areias onde cada grupo fica em uma determinada faixa, como por exemplo grupos dos surfistas, lesbicas, homossexuais, ricos , pobres entre outros. Nas praias existe muito preconceito, principalmente da parte das pessoas de classe A.