A indústria do sexo, formal e informal, é uma das maiores do planeta. Nela, temos de um lado a exploração explícita e, de outro, milhões de mulheres e homens que vivem de “serviços sexuais”. Hoje, esta indústria expandiu-se para a internet com milhões de websites que exploram o assunto, oferecendo as mais variadas coisas, desde os filmes pornográficos e gadgetes e instrumentos que agradam todos os gostos. Não deveria ser, por tudo isso, uma coisa quase invisível, que todos sabem da existência, mas muito poucos falam dela, admitem usá-la ou não demonstram preconceito contra quem dela participa. E quando o assunto vem a público, quase sempre é tratado com desdém e muito preconceito.
A sociedade, como já afirmei, tem uma postura hipócrita em relação ao sexo e, sobretudo, em relação a prostituição. E é devido à discussão pública e escancarada dela, a partir da polêmica sobre o outdoor colocado em Vitória, no Espírito Santo, que estou voltando ao assunto. Já ouvi pessoas considerarem as prostitutas umas “coitadinhas”, que se submetem ao sexo pago por obrigação, não por opção. Pois não é que a Ana Júlia – a garota de programa que colocou o outdoor, retirado no primeiro momento e recolocado no segundo – aceitou dar uma entrevista a um dos jornais locais, A Gazeta, e nela falou claramente sobre o que faz, por que o faz e quando é que a atividade lhe rende.
De classe média, tornar-se garota de programa foi uma opção, feita inicialmente pela necessidade de pagar uma dívida. Depois disso, descobriu um excelente meio de rendimento e confessou que já chegou a ganhar 50 mil reais em um único mês, o que é um rendimento de altos executivos e que um trabalhador normal nem sonha.O que ficou implícito na entrevista é que ela se considera – sob o seu ângulo de visão – uma trabalhadora que oferece um serviço, cobra por ele e, pelo que disse, a demanda é alta, com a clientela dobrando após a polêmica do outdoor. Deve ser algum tipo de fetiche para os homens que querem ter sexo com alguém que se expôs e foi exposta publicamente, admitindo o que poucas garotas de programa – na verdade e na acepção da palavra, prostitutas – o fazem. O exemplo anterior é de Bruna Surfistinha, aliás, a inspiração da Ana Júlia – nome fictício da bela loura.
O que descobrimos, de forma clara, a partir da entrevista da Ana Júlia é que, sim, existe uma indústria de sexo em plena atividade e com clientela vasta. Se a hipocrisia não permite que se fale no assunto, mesmo assim ele não deixa de existir e a atividade ser real. Constatá-la é muito fácil. Basta ir ao Google e digitar “garotas de programa”. O que irá retornar serão milhões de opções e, quem estiver interessado achará, na certa, alguém próximo que, pelo preço certo, irá satisfazê-lo. Este, no entanto, é o lado glamuroso da questão, pois existe um outro, diferente e degradante, com mulheres se expondo nas ruas e muitas vezes sendo exploradas por cafetões cujo único interesse é o monetário. Neste caso, o caminho talvez fosse a legalização da atividade.
Voltando à Ana Júlia, à entrevista e a uma das mais velhas atividades do mundo, a venda do corpo, é bom que sejam expostos, discutidos e esmiuçados, retirando a cortina da hipocrisia que, no Brasil e em várias partes do mundo, é colocada quando a questão é sexo.