Não sou frequentador de feiras livres – na verdade, nunca fui – e durante muitos anos compramos, para a família, verduras e legumes em um mercado, onde tínhamos fornecedor constante, que conhecíamos e que sempre procurava nos oferecer o melhor. Há alguns anos, no entanto, os mercados ficaram demodés, perdendo espaço e no final desaparecendo graças à adoção pelos supermercados da venda deste tipo de produto. Comprando em maior quantidade, pode oferecer legumes e verduras por preços mais competitivos, o que torna difícil a vida de quem se dedica só a este tipo de atividade e é um pequeno lojista. O que sobrou, no final, foram as feiras livres onde produtores expõem e vendem o que produzem ou que adquirem de terceiros, não estando sujeitos ao custo de um lojista.
Há algum tempo, para acompanhar a mãe, que sempre fez feira, minha mulher começou a frequentar uma delas, que ocorre na Praia de Itapoã, em Vila Velha. E a cada final de semana, quando volta, ela tem sempre uma “estória” nova para contar. São causos relacionados aos próprios produtores e o que eles fazem, tanto quanto a forma que falam e a concordância ou palavras que não expressam no melhor do idioma. Normalmente, rimos deste tipo de coisa, mas compreendemos que muitos dos feirantes não tiveram outras oportunidades e, ambos, louvamos o esforço que fazem, que não é pequeno, sobretudo aqueles que produzem o que oferecem aos clientes – e devido ao tempo que os frequenta, tem um carinho especial com a minha sogra.
Nesta mesma feira existem vários agricultores e produtores que adotam o estilo orgânico, fazendo com que verduras, legumes e frutas cresçam sem o uso de agrotóxico. E é neles, preferencialmente, que minha mulher se abastece e à casa, sempre à procura do que é mais saudável e que, infelizmente, não é acessível a todos, já que tem um preço maior do que o que é cultivado com o uso de agrotóxio. E foi em uma barraca destas, que fornece uma alface ótima, que ela ouviu um dos clientes, primeiro, mostrando que havia, em um dos pés de alface que havia pegado, “bichos”. Se você não sabe, lagartas são normais em verduras que não são tratadas com veneno e o fato de aparecerem indica que ela é boa, saudável.
O que fez a freguesa? Perguntou se não havia alface sem “bichos” e quando o feirante – que também é produtor – explicou que adotava a agricultura orgânica e que, nela, há sempre a possibilidade de aparecer uma ou mais lagartas nos produtos, a senhora virou para ele e afirmou: “Eu, heim!. Eu quero é comer sem bicho”. A tal possível freguesa não ouviu, mas após isso o produtor comentou: “Se ela quer morrer envenenada, o problema é dela”. O episódio, acho eu, reflete o que a grande maioria das pessoas adota na hora da alimentação. Elas estão sempre à procura do que é mais bonito, tem melhor aspecto, é maior ou mais doce, sem se preocuparem com a forma como o que compram e comem é cultivado.
E isso não se aplica somente às verduras, legumes e frutas, mas também às carnes e o que uma família usa no seu dia a dia, o que pode ser constatado em uma visita a qualquer supermercado e à observação do que as pessoas põem no seu carrinho. É impressionante a quantidade de produtos enlatados e prepreparados. Eles podem ser até gostosos, mas saudáveis é que não são, pois normalmente são carregados de açúcar, sal e outros “ingredientes” que nada tem com alimentos. Eu até compreendo esse comportamento, mas é uma pena.
Viver de forma mais saudável, no meu entender, é essencial. Hoje, mais do que nunca.
Uma resposta
Olá Lino!
Há quanto tempo não venho aqui!
Eu tenho a felicidade de viver bem pertinho da roça e de ter as verduras e frutas vindas direto da fazenda da sogra. Alguma coisinha pode ser comprada no mercado, mas tudo aqui é da redondeza, conhecemos os vendedores, que são os próprios produtores. Cidadezinhas têm disso… Mas, me preocupa também a falta de qualidade que as pessoas têm na mesa. Um abração!