Constatar que o Brasil é um país socialmente injusto requer, apenas, que se olhe para os lados – algumas vezes – ou para os morros na grande maioria das cidades brasileiras. O que vemos é a concentração em espaços menores pelos que são mais aquinhoados na vida e a imensidão ocupada pelos que nada tem ou tem muito pouco. A desigualdade é um problema antigo, exacerbado pelo capitalismo, o sistema econômico dominante no mundo.
Para se ter uma ideia, dados divulgados pelo IBGE, coletados no PNAD, a pesquisa que visita casas em todo o Brasil, mostra que a diferença entre o maior e o menor recebimento – renda – no Brasil é de 87 vezes. E isso, é claro, estamos falando de quem é assalariado, não capitalista. Estes tem uma escala de ganho muito, muito maior. O fosso entre os que estão na base e no topo da pirâmide, no caso brasileiro e de outros países, fica a cada dia maior e mais intransponível.
Mas qual o propósito dessa discussão? Não sou especialista e, portanto, não tenho como indicar soluções. O que me traz à questão é o comportamento daqueles que tudo tem. E isso deriva de uma festa de comemoração de aniversário de casamento, uma coisa comum que se transforma em “grande espetáculo”. É bonito ver os casais comemorando um longo casamento, mostra da duração de uma relação, principalmente quando reúne, também, a família. A festa é admissível, mas, no meu entender, não a ostentação.
Se esta festa específica me levou ao assunto, ela não é a única. Temos visto na mídia informações sobre o que se pode chamar de “comemoração de arromba”, aqui no sentido de serem superlativas. Há algum tempo, alguém me disse que um desses ricaços importou palmeiras de Miami para a sua festa. E se o fez, é por que o dinheiro não é problema. Ele o tem, e muito.
Comemorações à parte, se olharmos a questão de um ângulo mais próximo poderíamos afirmar que tais festas são, na verdade, uma afronta aqueles que vivem na linha da miséria, que não tem nada e que brigam para sobreviver. E não é só por causa do luxo e suntuosidade, não. É pelo desperdício de dinheiro, usado para impressionar convidados que tem quase tanto ou que vão falar bem do que viram, repercutido em colunas sociais e pelos bajuladores sempre próximos de quem tem poderia econômico.
Mais uma vez que fique claro: não tenho nada contra comemorações. Mas acho, reafirmando, uma afronta este tipo de festa. O dinheiro, é lógico, não é meu. E quem o está gastando não sentirá falta dele – e até provável que tenha saído de uma empresa, lançado como despesa e, portanto, abatido no imposto de renda. Não importa, acho que deve haver um limite e, no meu caso, vejo a discrição como este limite.
Ostentação pode fazer bem a quem ostenta e a quem dela se aproveita. Mas é, também, um retrato do mundo – e principalmente do Brasil – que mostra, de um lado, os que tem tudo e, do outro, muito, muito distantes, os que nada tem.
Uma resposta
1 – “A desigualdade é um problema antigo, exacerbado pelo capitalismo” – A desigualdade existe, apesar do capitalismo preconizar e favorecer o comercio, a livre iniciativa, o escambo. No entanto, há pessoas que não tem condições: seja de educação financeira, comercial, conhecimento que não lidam bem, ou não sabem mesmo viver no capitalismo.
2 – Se os que tem dinheiro não o poderem gastar como querem e com o que querem, só por que existem, pessoas pobres, miseráveis, ociosos, inaptos, que sociedade proíbe que se use e tenha e faça uso do que se tem?
3 – Repito as palavras da história que Jesus contou, sobre um homem rico que pagava de forma igual, os que trabalharam todas as horas do dia, bem como aqueles que trabalhassem meio dia, e até aqueles que trabalharam apenas duas horas: Por que te incomodas com o que faço com o que é meu?
O que volta a frase inicial: “A desigualdade é um problema antigo”. E o Brasil é um país injusto? Parece que sim, mas, não por isto, ou apenas por isto!