Uma das constantes neste blog, desde o seu início, é a abordagem de assuntos políticos e a defesa da política, que considero essencial à democracia – e nisso não estou sozinho, pois teóricos e escolásticos também pensam desse jeito. A política está presente em todos os nossos atos, embora muitas vezes não o admitamos e nem pensemos que, com uma simples ação, estamos agindo politicamente. E isso não ocorre só em nível macro, mas também no micro, como bem observa Michel Focault ao falar em uma microfísica do poder, que se desenvolve até entre relações pessoais.
Mas ao que vem isso? Não é preciso um motivo ou um pretexto para se falar de política, mas, neste caso, a origem da decisão estão em uma pesquisa feita pelo Datafolha e divulgada há poucos dias, mostrando que nada menos do que 67% dos brasileiros querem que haja mudanças na ação governamental. Acho que esse desejo de mudança foi claramente demonstrado nas grandes manifestações de 2013. A população, de um modo geral, está insatisfeita com os rumos tomados pelo Brasil, com a forma como está sendo conduzido e considera que é preciso mudar, embora não se tenha um horizonte claro de onde esta mudança deva ser levada e conduzida.
A percepção de que é preciso mudar e que há um desejo evidente de mudança torna-se importante às vésperas de uma eleição em que serão trocados os principais governantes do Brasil, apresentando um desafio para quem, por exemplo, disputa uma reeleição e para os que pretendem substituir os atuais ocupantes do poder. A grande questão para os políticos é como capitalizar essa insatisfação, transformando-a em votos. Essa, no entanto, não é a minha preocupação. O que me levou ao assunto, novamente, é o fato de termos, nos últimos tempos, mudado para que tudo continue o mesmo.
Estamos com 30 anos de regime democrático, com eleições livres e com partidos consolidados. É inegável que neste tempo houve muitas mudanças no Brasil, que cresceu, expandiu sua economia, melhorou de vida e inseriu milhões de pessoas na chamada sociedade de consumo. Mas há, também, – e isso é inegável – um enorme fosso entre os brasileiros, divididos entre os que tem alguma coisa e os que nada tem. Os dois lados, no entanto, são os destinatários dos problemas de segurança, saúde, educação, trânsito, violência, tráfico de drogas e muitos outros problemas que diariamente vemos refletidos no noticiário da mídia.
A percepção geral do brasileiro, por causa de todos estes problemas, é de que, na verdade, não houve melhoras. O que tenho ouvido é que as coisas pioraram nos últimos anos, principalmente nos segmentos de trânsito – mobilidade urbana -, segurança pública e controle da violência e da saúde. Os três, juntos, são os responsáveis pela maior parte da insatisfação da população, em todos os seus níveis. A percepção que se tem é que o poder público – e neste caso a política – é incapaz de agir para resolver estes problemas.
A consequência é a imensa insatisfação do brasileiro, que leva a um desejo claro de mudança. Nas eleições de outubro, quem souber melhor capitalizar este sentimento pode manter ou chegar ao poder. Mas a maior expectativa, no meu modo de entender, é saber se com ou sem mudança as coisas serão resolvidas e os problemas, sanados.
Uma resposta
Eu vou continuar sem mudanças. Afinal, o governo que está no poder, não foi uma mudança que eu tenha votado. Por outra: mudaram. Alternaram. Desgostaram: alterna de novo.