Existem pessoas que ficam marcadas nas nossas vidas.
Este é, no meu caso, o que aconteceu com o jornalista Jackson Lima, uma das figuras mais corretas e boas que conheci. Tenho para com ele uma imensa dívida de gratidão decorrente, primeiro, da sua amizade, que foi muito marcante e nunca falhou, e depois pela própria orientação e conselhos, sobretudo na área profissional, quando estava começando no jornalismo.
Figura doce, vivia para a família, formada pela mulher, Marci, e pelos filhos, José Renato, Ângela, Isabel, Rosângela, Antônio, Agnes, Márcia, Jaqueline, Rafael e Jackson Júnior. Sua maior preocupação era preparar os filhos, dar-lhes a base que lhes permitiria seguir seu próprio rumo. Por isso é que trabalhava, e muito. Sua casa, apesar de sempre ruidosa pela constante presença dos filhos e de amigos, era um oásis.
Conheci Jackson quando entrei para o jornal A Gazeta. Na época, ele era o Editor Chefe do jornal, que começou a se modernizar e ia dando um passo adiante, contratando novos “focas”, novatos que chegavam à redação. Um desses “focas” fui eu. Submeti-me a um teste e passei, sendo imediatamente chamado para um período de experiência. Quinze dias depois, estava contratado como repórter. Era uma época em que poucos lugares tinham cursos de jornalismo e a maioria dos profissionais dos jornais de centros menores não tinha diploma.
Já na redação, Jackson tornou-se meu tutor, ensinando-me tudo o que, inicialmente, aprendi sobre jornalismo. Com um texto brilhante, foi ele quem me ensinou “às vezes da maneira mais difícil “ como começar uma matéria e como usar a boa linguagem na construção do texto. Foi ele quem me ensinou como um jornalista devia se postar, trabalhando com ética e correção, mas não abrindo mão da informação. E foi ele, também, quem me colocou no primeiro cargo de chefia no jornal.
Trabalhávamos muito, com uma boa carga de matéria e, no meu caso, Jackson via a maioria delas, pedindo correções, indicando falhas e ajudando-me a melhorar a informação e, com isso, o meu texto. Algumas vezes simplesmente rasgou o que eu escrevera, dizendo que tinha desaprendido e que era necessário fazer tudo novamente. Eu refazia e, no final, ele aprovava o texto. No final, acaba chamando para tomar uma cerveja com carangueijo no final de semana em sua casa. E eu sempre ia.
Foi tomando cerveja e comendo carangueijo que discutimos o que fazer, que tipo de matéria teríamos e como abordar determinada questão. E foi nestas reuniões, depois que ele se afastou do jornal, que muitas vezes me aconselhei sobre o que fazer, que caminho tomar e discutíamos o rumo que o jornalismo estava tomando.
Hoje, já não temos Jackson entre nós. Sua família foi destruída por dois acontecimentos diferentes, que levaram à morte da esposa, filhos e netos. O impacto do que aconteceu o destruiu e o fez definhar, até ser suplantado pela velha diabetes e pela tristeza, praticamente abrindo mão da vida, que para ele já não tinha mais sentido.
Meu amigo se foi, mas a presença dele continua. Sempre que começo a pensar em um texto, como este mesmo, ele me vem a cabeça e me lembro de suas recomendações. Jackson, com os seus conselhos, me colocou no caminho certo do ponto de vista profissional. E na vida pessoal, não permitiu que eu, criado em rígidos princípios cristãos, me afastasse deles.
Lembrando-me dele, agora, a única coisa a dizer e “muito obrigado”.
4 Respostas
que texto mais sensível, que homenagem sincera! <3
Oi Lino.
Bonita a sua homenagem.
Que coisa mais triste o que aconteceu com a família de seu amigo. Perder todo mundo assim de uma vez…
Abs.
Elvira
Obrigada Lino pela linda homenagem ao meu pai, seu amigo. Abraço!
Querido Lino, me emocionei com seu texto. Muito obrigado por ele, e por sua mizade ao meu saudoso Dom Jackson. Um grande abraco. Toninho