Como a grande maioria já sabe, desde o ano passado começou no Brasil o movimento de suspensão da distribuição de sacolas plásticas pelos supermercados. Nesta ação, empresários e órgãos de defesa do meio ambiente e do consumidor concordaram que a retirada das sacolas plásticas seria benéfica, trazendo vantagens para o meio ambiente, embora provocasse – e ainda provoque – desconforto entre os consumidores. O certo é que a medida foi aplaudida e também criticada. Em relação aos aplausos, o reconhecimento da ação ambiental, que é inequívoca. No caso das críticas, o fato de não ter sacolas.
Por que este assunto? A razão é simples. Trata-se de uma ação em favor do meio ambiente, mas que incomoda o consumidor, acostumado a receber “de graça” as sacolinhas plásticas para carregar o que adquire no supermercado. Se fizermos uma pesquisa vamos constatar que a quase totalidade da população é favorável às ações em prol do meio ambiente, com a retirada de materiais poluentes hoje existentes e a conservação de matas e mananciais, para citar somente alguns dos aspectos da melhoria ambiental. Se olharmos a lógica, a retirada das sacolas plásticas de circulação deveria ter o apoio da população. Mas isso não ocorre. Nas pesquisas feitas, a grande maioria manifestou-se favorável à manutenção da distribuição deste tipo de material que, reconhecidamente, prejudica o meio ambiente.
O que temos visto é a postura de “façam o que digo, não o que eu faço”, significando que, nas palavras, todos são favoráveis ao meio ambiente, mas quando chega a hora de dar a sua contribuição, sendo atingido por uma das medidas pro-meio ambiente, já¡ não são assim tão favoráveis. É este o caso das sacolas plásticas. Retirá-las de circulação é bom, mas o consumidor, embora apoio a conservação ambiental, reclama e quer vê-la de volta aos caixas dos supermercados. Fala mais alto a comodidade. E é por isso que mesmo apoiando as ações ambientais, quer as sacolas de volta. Objetivamente, sabe que é uma boa coisa, mas subjetivamente a posição é diferente.
A percepção do consumidor, quando atingido por medidas como a suspensão das sacolas plásticas, sofre uma forte influência da mídia. E, aqui no Espírito Santo e em todo o Brasil, jornais, rádios, revistas e TVs tem tratado o assunto sempre de um único ponto de vista: o desconforto do consumidor. As empresas e os órgãos de fiscalização – Ministério Público, Procons, etc. – acabam sendo colocados em segundo plano e quando aparecem é para serem confrontados em relação à medida tomada. O que a mídia mostra, com raras exceções, é o “prejuízo” ao consumidor, não o benefício ao meio ambiente.
Outra percepção que a mídia tem ajudado a consolidar é que o consumidor, apesar de não receber a sacolinha, está¡ pagando por ela, contrapondo-se ao fato de, antes, elas ser “gratuita”. Como muito bem colocou Milton Friedman, “não existe almoço de graça”, aqui significando que é o consumidor, no final, quem paga todos os custos. Nenhum deles nunca recebeu uma ou mais sacola de graça, pois o custo estava embutido no preço do produto que levavam. Na verdade, o que acontecia – e ainda acontece em outros setores – é que o cliente estava pagando para ajudar a degradar o meio ambiente. E quanto faziam isso, eram favoráveis ao meio ambiente. Agora que não pagam mais, ainda continuam favoráveis ao meio ambiente, mas querem as sacolas de volta, e “de graça”. É o caso de afirmarmos que algo é bom, mas para os outros, não para nós mesmos.
Uma bela contradição.