A língua e suas manifestações nos pregam peças que só vemos quando não há mais concerto para elas. Operário da palavra, convivo com isso desde há muito e, por várias vezes, acabei sendo chamado a atenção de ter feito um relacionamento errado por colegas que, na hora, tiveram um olho mais atento que o meu. Aqui, explique-se, quando se fala em relacionamento nada tem a ver do envolvimento de humanos, de um com o outro.
O termo é usado, na verdade, para definir a interligação de coisas ou de informações que venham de forma encadeada e que, no final, façam sentido, tanto para quem as deu ou escreveu, quanto para quem as lê ou toma conhecimento. Talvez o melhor fosse usar um ditado popular que fala em misturar alho com bugalho, referindo-se à conexão de duas coisas que não tem absolutamente nada em comum.
Então, a história. Por curiosidade, muitas vezes acabo navegando por sites informativos de cidades que conheço ou com a qual tenha alguma ligação, mesmo que indireta. Em uma dessas navegadas acabei encontrando um deles e, nele, uma “coluna social” em que o encadeamento de informação era não só pitoresco, mas acabava expondo coisas dispares, que não tem nenhuma ligação uma com a outra.
Foram, na verdade, trás informações. A primeira, falava no nascimento da filha de um casal da cidade e da felicidade que isso lhes havia trazido. A segunda continua no segmento do relacionamento pessoal, informando que uma das filhas da cidade havia retornado para apresentar à família o seu namorado. Acrescentava que ele tinha sido bem recebido, aprovado e que, ao que tudo indicava, o namoro acabaria em casamento, com as bênçãos dos pai da menina.
Até aqui, nada demais. As informações tem o mesmo sentido, mostrando o lado pessoal de famílias conhecidas e o comportamento de pais, mães e filhas. O que me chamou a atenção, no entanto, foi a nota seguinte. Menor, ela informava que o boi gordo tinha subido – o município tem uma pecuária forte – e que, em razão disso, os fazendeiros estavam muito contentes. Ao ler, pensei: o que tem o boi gordo a ver com tudo isso?
O encadeamento da informação não fazia sentido, pulando das relações pessoais para o campo impessoal dos negócios e tratando os dois como se fossem a mesma coisa. Se bem que, no final, poderíamos argumentar que tudo se tratava de felicidade: filho, namoro e lucros. Mas olhando bem, as coisas não se relacionam e a informação sobre o mercado da pecuária coloca algo estranho no relacionamento que vinha sendo feito, quebrando o ritmo de leitura e desviando a atenção das informações anteriores.
Não há consequências para o que foi feito, a não ser parecer estranho para alguém, como ocorreu comigo. O que tenho certeza é que o responsável pela coluna, na hora, não atentou para o relacionamento que estava criando. Com isso, a informação foi publicada, misturando negócios com felicidade pessoal, colocando os dois no mesmo patamar e tratando a felicidade dos fazendeiros como se fosse o mesmo que o nascimento de um filho ou o casamento de uma filha. São coisas diferentes.