O Brasil, todos nós sabemos é o país do jeitinho e do compadrio, que ajuda a dar um jeito nas coisas, promovendo uma cadeia que leva a outro jeitinho e institucionaliza este comportamento. É também o país onde as pessoas – pelo menos uma boa parcela delas – não se importam muito com regras, inclusive as de trânsito, estacionando sobre calçadas, em locais proibidos e ignorando sinalizações. E isto estende-se não a um segmento, mas a praticamente todo brasileiro, como mostra A cabeça do brasileiro, um livro fundamental, no meu entender, para se compreender o Brasil e o brasileiro – e que foi objeto de comentário, aqui, no blog.
Fiquem tranquilos que não vou voltar a falar do livro. Mas o que ele diz serve de pano de fundo para o assunto a ser desenvolvido, que é o comportamento das pessoas no dia-a-dia, no trânsito e fora dele. Tomemos, de novo, o exemplo do trânsito e, nele, as pessoas que andam de motocicleta. O que vemos, normalmente, são os motoqueiros fazendo as piores loucuras, zigzagueando nas ruas, entre os carros. O que acontece quando alguém anda de forma correta? Acaba nos surpreendendo, pois está tomando uma atitude inusitada.
Peguemos outro exemplo, o de uma fila em qualquer lugar do país. O que se vê são pessoas furando-a de modo claro, sem se importar com quem está mais atrás e esperando há mais tempo. Já vi, inclusive uma jovem, balançando o resultado de um exame de gravidez, furar a fila sob o argumento de que estava grávida e, neste caso, tinha prioridade no atendimento. É verdade que tem, mas será que a regra foi feita para quem acabou de se descobrir esperando um filho? Acho que não. Então, quando alguém respeita a fila, nos surpreendemos.
Um terceiro exemplo pode ser visto em dar precedência aos idosos, na rua e nos transportes coletivos públicos. Você normalmente vê motoristas pararem para que alguém mais idoso atravesse a rua? Difícil, não é mesmo. E quando isso acontece, nos surpreende. O que devia ser uma atitude normal, vira algo inusitado, que nos chama a atenção. E nos transportes públicos as pessoas se levantam para dar lugar a uma senhora grávida ou alguém idoso? Pode ser que sim, mas isso não é a regra. E quando acontece, ficamos surpresos.
Poderia alinhar, aqui, uma série de outros exemplos, mas eles, na verdade, não são necessários uma vez que todos nos, todos os dias, vemos transgressões às regras, sejam de trânsito, sejam de gentileza, sejam de comportamento. E por as vermos no dia a dia é que acabamos internalizando-as como uma coisa “normal”, o que na verdade não o são. E neste contexto, o que é certo acaba parecendo inusitado, nos surpreendendo.
5 Respostas
Fui educada no tempo em que mulheres, crianças e idosos tinham preferência, no tempo em que se dizia: bom dia, muito obrigada , desculpa, e que se esperava todos se servirem para depois iniciar a refeição, se pedia licença para sair da mesa, observava quantos ainda faltavam para o almoço ou quaisquer das refeições para depois “repetir” então, fica difÃcil educar filhos neste contexto aonde os bem educados passam a ser bobos. Precisa-se de paciência e persistência desde o berço.
Abs.
Oi Lino.
Existe no Brasil a cultura do mérito do “não esforço”, da valorização da burla e do engodo. Não sei se foi o Zico, mas um dos primeiros jogadores brasileiros s ir para o Japão contou que, na formação da barreira, ele fazia sinal para os companheiros se adiantarem do ponto marcado pelo juiz. Os japoneses se recusaram, dizendo que era proibido. Foram taxados de trouxas, ingênuos, pela crônica esportiva tupiniquim. Um professor de um curso pré-vesibular aqui do RS me contou que elogiava para um grupo de alunos um menino que, na metade do terceiro ano, havia se classificado em primeiro lugar no vestibular da PUC, sem sequer concluir o Ensino Médio. Então uma das ouvintes disse: “esse guri eu conheço, ele estuda muito. Queria ver ele conseguir isso sem estudar”. A culpa por esta percepção deletéria das relações sociais não é apenas das meninas e dos meninos de hoje. Quando Gerson revelou o que ninguém ousava admitir em voz alta – “O que importa é levar vantagem em tudo” – nos mostramos indignados com tamanha desfaçatez. Faltou, porém, veemência e sinceridade da nossa condenação. Muito da deterioração ética e moral que vivenciamos atualmente deve-se à nossa geração. Podem atirar a primeira pedra em mim.
Um abraço.
Educação e cidadania. Infelizmente, isso não se usa mais no Brasil e aà temos que conviver com todos esses desmandos. E assino embaixo o comentário do Jens, nossa geração está colhendo o que cultivou!
Lino, aqui no Brasil é a famosa lei de Gérson, onde q povo que levar vantagem em tudo. Sempre vejo pessoas q fingem estar grávidas ou dormindo para não ceder lugar aos idosos.
Big Beijos
Sei não. Devo ser cega mas não faço esta generalização.É perigoso!