Éramos jovens, cabeludos, usávamos roupas coloridas e tínhamos a esperança de, com novas ideias, pregando a paz e o amor, mudar o mundo. Este é, de forma bem rápida, o perfil da minha geração, jovens que viram o ajuntamento de Woodstock para celebrar muito mais do que a nova música que já havia tomado conta do mundo, o rock. Queríamos a liberdade que nossos pais não tiveram. Queríamos ser ouvidos, fazer com que as coisas fossem diferentes. E queríamos, também, liberdades pessoais, de poder contestar os mais velhos, colocando de lado o casamento e defendendo o amor livre, a liberdade sexual e até o direito de tomar a sua droga em paz.
Anos loucos, dirão alguns. Outros, os relembrarão com saudade. O fato é que a partir das ideias surgidas na década o mundo mudou. A paz e o amor pregados então podem não ter prosperado do jeito que se pretendia, mas na certa hoje o mundo é outro, muito mais diverso, muito mais tolerante. E isso, não resta dúvida, advém da pregação de uma geração que queria mais liberdade, que desejava pensar por ela própria e adotar caminhos diferentes dos feios por seus pais. Woodstock, neste contexto, foi um símbolo, algo que externou o que toda uma geração – ou a maioria dela – sentia, pensava e queria. O rock, a festa, acabaram sendo pretextos para mostrar uma posição política, claramente a favor de um novo meio de vida, de uma nova postura e de um novo meio de encarar a vida e as coisas a ela relacionadas.
Sexo, drogas e rock and roll, o epíteto mais comum para classificar Woodstock, é verdadeiro. Houve sexo, havia drogas, sim, e muito rock. Se olharmos bem veremos que os três componentes do festival – além da própria liberdade de quem dele participou – não é estranha aos humanos, já que os dois primeiros e mais a música nos acompanha desde há muito. Juntá-los não chegou a ser uma grande novidade. O que era novo foi a maneira como foi feito, que fugia de todos os padres de espetáculos até então realizados e baseava-se na filosofia do “paz e amor”, cunhada pela geração dos anos 60. Ela queria amor, pregava a paz, o entendimento, mas queria, acima de tudo, liberdade, respeito aos outros, a convivência pacífica entre as pessoas.
Mas isto foi conseguido? Ainda temos guerra, vemos a intolerância em várias partes do mundo, o desrespeito à pessoa humana e o ódio sendo a marca de regiões, de etnias que se matam apenas pelo fato de serem diferentes. Olhando assim, parece que nada mudou. Mas não é verdade. Houve mudança e ela foi muito grande, como o avanço dos direitos humanos, o respeito pelos direitos pessoais, liberdade de crença, convivência mais pacífica entre as pessoas, enfim, mudamos de verdade, pelo menos em comparação com a sociedade que tínhamos antes. E essa mudança decorreu em grande parte do que uma geração pregou e praticou, influenciando pessoas, criando uma nova consciência.
Hoje, vivemos novamente uma encruzilhada. Temos a oportunidade de influenciar o futuro, fazê-lo diferente, caminhando no sentido de um maior entendimento entre as pessoas, de conseguirmos a paz. E as condições que se nos apresentam são muito melhores do que as havidas em Woodstock e nos anos 60, a começar por um planeta realmente interligado, vivendo o mundo da informação. Se a crença de Woodstock, dos hippies e dos anos 60 não mais persiste inteiramente, o que lá foi pregado acabou sobrevivendo na forma de um novo comportamento. Quarenta anos depois do festival que se transformou em símbolo é hora de, novamente, pensarmos: o que queremos mudar?
Na certa, como os jovens que se reuniram em Woodstock, queremos um mundo melhor, com mais liberdade, com entendimento, com paz. Queremos construir o futuro. Como? Tomando, como eles, atitudes, mostrando que queremos mudança, indo contra o conformismo quase geral que nos assola. Rebeldia, o símbolo de uma geração, precisa ganhar um novo significado. E todos nós, rebeldes antigos ou novos, podemos dar nossa contribuição para a mudança. Fazendo-o, talvez daqui a 40 anos, quando se olhar a história, poder-se-á dizer que os anos iniciais do século XXI foram marcos de mudança e graças a isso nossos filhos e netos viverão em um mundo melhor.
6 Respostas
Lino. É isso mesmo que penso de Woodstock. Foi um movimento com o slogan de “paz e amor” e restou dele a liberdade em varios aspectos da vida, sobretudo com relação ao sexo ( livre, mas, responsável), à quebra de preconceitos da geração dos pais dos “hippies” ( e dos nossos pais, também….né?), o respeito à s desigualdades…tudo isso foi lançado nessa raiz plantada pelos participantes do movimento rebelde.
Eu acho que Woodstock foi válido. E dou vivas a ele!
Beijo.
Dora
40 anos de Woodstock, né?
Eu não poderia me lembrar, mas… é um marco!
Muita loucura, muita liberdade, muita liberalidade!
Tempos doidos!
Bjo.
A guerra do Vietnã foi o estopim para a juventude reclamar. Se não, as mudanças viriam de qualquer jeito. Estamos em evolução e a cada década evoluÃmos mais. O que acho legal no movimento hippie é o que é preconizado hoje, com o retorno à natureza, valorização do simples, do cuidado com o que nos cerca – do faça você mesmo! Enfim, tem um video lá no luz que gostaria que assistisse; é de uma mãe que participou de Woodstock, conversando com o filho adolescente sobre o festival. Bom fim de semana! Beijus
Lino, você descreveu muito bem o estado de espÃrito da geração que viveu Woodstock, e sua importância na liberdade que se vive hoje em dia, e m todo tipo de relacionamento. Dizem que as gerações atuais não tem mais bandeiras, algo em torno do qual se unir para reivindicar mudanças, apesar das facilidades trazidas pelos novos meios de comunicação. Além disso, em muitos domÃnios está havendo um retrocesso, como na liberdade sexual, por exemplo, principalmente devido ao aparecimento da AIDS. Acho que o lema “Paz e Amor” continua sendo válido, mas será que ele ainda motiva como há 60 anos?
Abraços e parabéns pelo post.
Eu era um bebezinho de colo. Gostaria de ter vivido essa época, pois onde foi como tudo começou. Hoje em dia as coisas estão muito monótonas e nossos jovens cada vez mais alienados não se “antenando” em nada. Excelente post, Lino.
Que bom que vocês participaram, muita gente teve vontade e não foi! especialmente para as mulheres a pressão era muita!!!!