SOCIEDADE, PEDOFILIA E INFÂNCIA

Colocada em um ambiente hostil, com duras condições de sobrevivência, a sociedade, desde muito cedo, criou um circulo de proteção à criança. Indefesa, ela não podia fazer face aos perigos que a cercavam e que muitas vezes vitimava os adultos, responsáveis pela segurança de um grupo. Assim, a criança precisava de proteção para crescer, fortalecer-se e virar um adulto capaz de integrar este grupo e repetir o que os seus pais e avós fizeram, isto é, dar proteção a seus filhos e às outras crianças.

O tempo passou. Os perigos de antes não mais existiam, mas a cultura de proteção à criança continuou. Ela continua indefesa no meio de um ambiente hostil e, por isso, é função dos adultos dar-lhe um ambiente seguro, onde possa crescer e chegando à idade adulta repetir, mais uma vez, o comportamento protetivo. Juntaram-se, aqui, o costume, criando-se uma ética particular, de cercar a criança de todos os cuidados.

Esta é a norma, um princípio ético que acabou se cristalizando em um comportamento por parte da sociedade, gerou leis e criou toda uma estrutura legal, ética e moral de proteção à criança. Institucionalizamos um comportamento, que não é brasileiro, mas mundial, que condena qualquer tipo de agressão a uma criança e esta condenação é muito maior quando se refere ao aspecto sexual. O que pensamos – pelo menos a maioria esmagadora – é que a inocência da criança não pode ser manchada.

Atualmente, apesar de ainda prevalecer estes princípios, o que vemos é mais e mais a erotização infantil. As crianças são levadas a se comportarem como adultos. A televisão e os próprios adultos contribuem para isso, vestindo-as como se adultas fossem e fazendo com que adotem comportamentos que não são delas, como pintura, uso de batom, etc. Estamos no meio de uma mudança, sem nenhuma dúvida, e ninguém pode dizer onde iremos chegar. O que sabemos é que há, como observam todos os estudiosos, a prevalência do individual sobre o coletivo.

A cada um, de um modo geral, o que importa é satisfazer-se. O ter substituiu o ser. O individual se sobrepôs ao grupo e a globalização tornou disponível informações que, antes, ou não tínhamos ou levávamos muito tempo para obter. Neste novo mundo, uma das facetas mais perversas do individualismo e, nele, um desvio ético, moral e legal, é a pedofilia, um assunto tabu durante muito tempo, mas que ganhou tal dimensão chegando às luzes da mídia, relevando o lado escuro dos seres humanos e quebrando a regra de proteção à  criança.

A questão, hoje, é como combater este comportamento? Como identificar pedófilos e prevenir suas ações? O que a sociedade pode fazer para mudar este curso se acontecimentos? Acho que precisamos começar por uma reforma da própria sociedade, fazendo com que se importem mais com valores do que com bens. E ao fazer isso parar com a exploração infantil, que vai da prostituição ao trabalho ilegal, tolerado sob vistas grossas da própria sociedade e dos chamados poderes competentes.

Ao lado disso é preciso deserotizar a infância, deixando que as crianças sigam o seu curso normal e que aprendam com a experiência, não com a imposições de consumo marteladas diariamente em nossas cabeças. É preciso, com certeza, mudar o comportamento, criar uma nova ética que faça frente ao consumismo, que afeta adultos e reflete na infância. Mas, sobretudo, é preciso ter normas fortes e implacáveis que punam os pedófilos, que os exponham publicamente, que os execre, enfim, uma posição que não deve ser minha, nem sua, mas de toda a sociedade.

Para chegar a isso precisamos retomar o princípio da proteção à criança de nossos ancestrais, criando o ambiente seguro para que se desenvolvam. Este é o passo fundamental, que deve ser seguido pela punição exemplar de pedófilos, inclusive com a execração pública deles e do comportamento que adotam, mediante leis rígidas e procedimentos sumários de julgamento, com condenações claras e pesadas. Mas este não pode ser um comportamento individual, tendo de partir da própria sociedade.

O que precisamos fazer é, ao lado do combate incessante a este comportamento desviante, começar a mudar a própria sociedade, fazendo com que adote, novamente, o espírito coletivo e, nele, reinserindo o princípio de proteção à criança e abrangendo todos os ângulos, indo da nutrição ao ensino e deste à sua preparação para a vida adulta. Sem mudar a sociedade, acredito, vamos continuar assistindo a ações isoladas, a campanhas associadas ao interesse político, mas não vamos resolver a questão.

Este artigo faz parte da postagem coletiva promovida pelo blog Diga Não à  Erotização Infantil, repercutida pela Luma, do Luz de Luma. E você pode se unir a ela, fazendo um post em seu blog e convidando amigos para juntar-se à  campanha. Vamos nos mobilizar e mostrar que, enquanto pessoas e enquanto integrantes da sociedade, queremos mudar e contribuir para esta mudança.

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