A (QUASE) IRRELEVÂNCIA DOS JORNAIS

Qual é a importância dos jornais hoje? Se olharmos bem e levarmos em consideração a diversidade de meios de informação oferecidos a quem a procura, poderíamos dizer que eles estão se tornando quase que irrelevantes. Sobrepujados por meios mais rápidos e de custos menores, encontram-se - e nisso concordam todos os estudiosos da questão - em uma encruzilhada. Alguns acham que os jornais terão de se reiventar. Também acho isso e considero que é uma pena que as circunstâncias tenha feito com que a qualidade da informação que oferecem tenha caído, piorado. Profissionalmente, sou fruto do jornalismo impresso. E lamento que tenhamos chegado a esta encruzilhada, mas tenho certeza que, permaneçam ou não, o jornalismo continuará. E é nele que investi. E tenho visto bons exemplos de jornalismo em várias mídias. Talvez seja o caso de se dizer, como no dito popular, que foram-se os anéis, mas ficaram os dedos. Neste caso, os dedos são o jornalismo. Então, vida longa a ele.

A democracia, como a conhecemos, é fruto de um fenômeno que os jornais ajudaram a construir: a opinião pública. Foram os jornais – a mídia de então – que cuidaram de espalhar informações, formar opiniões, discutir problemas e levar avante o debate sobre o que era melhor para o Estado, para a população. Os formuladores da independência dos Estados Unidos, que também foram os formuladores da nova democracia, contaram e contavam com a mídia, isto é, os jornais para ajudar a forjar uma opinião pública forte e esclarecida, o que, entendiam, iria significar a permanência de um regime cuja base está na participação.

O que os fundadores do Estados Unidos anteviram acabou acontecendo e, com o tempo, os jornais ganharam mais e mais importância. Mas as coisas mudam e não foi diferente para a indústria jornalística. Primeiro, com o rádio. Depois, com a televisão e, por fim, com a internet. A diversificação fez com que os jornais deixassem de ser o meio de informação para se transformarem em apenas mais um meio de informação. Olhando historicamente a questão, jornais de praticamente todos os países deram belas contribuições para a informação e formação da opinião pública. Exerceram este papel criticando, apontando caminhos, promovendo debates e apresentando o resultado das ações de quem estava no poder.

Como observa Terry Eagleton, a partir do iluminismo o homem descobriu que só uma coisa é constante: a mudança. Ao longo dos anos o mundo mudou, a população mudou, cresceu, se renovou e os jornais foram, aos poucos, perdendo espaço, ocupado por outras mídias. Ao lado disso, o número de jornais foi diminuindo, com muitos sendo fechados devido à  inanição financeira. Aqui no Brasil mesmo tivemos isso, estreitando-se o campo da competição e, com isso, da pluralidade de informação. E ao lado do encolhimento da indústria jornalística tivemos o crescimento dos outros meios, notadamente a partir da Internet e de sua interface gráfica.

Aos poucos, as pessoas foram descobrindo que, primeiro, poderiam ter a informação no seu computador, na sua frente e cada vez mais próxima do acontecimento. E, depois, que a podiam ter de graça, quando antes pagavam por ela ao comprarem o jornal. Foi exatamente a combinação destes fatores que levou ao encolhimento dos jornais, à  supressão de muito títulos, a queda na circulação, a queda no volume de anúncios e que, em consequência, levou – principalmente no Brasil – ao enxugamento das redações. Nas empresas, venceu a lógica do menor custo, com a demissão de profissionais melhor remunerados para a contratação de outros, mais jovens e sem experiência, e com salários muito menores. O resultado foi uma queda de qualidade, que resultou em encolhimento de circulação, em menor faturamento e em novos cortes de custos. Criou-se um círculo vicioso.

Ao se ampliar o campo da informação, os blogs também fizeram o seu papel. Estabeleceu-se, no caso da comunicação, o mesmo princípio de nicho da internet. Se você quer informação sobre moda, basta procurar sítios ou blogs que tratam do assunto e que tem muito mais agilidade que os jornais ou a mídia tradicional. A informação está à  espera de quem dela precisa e sabe o que quer. E pode chegar no leitor de RSS ou simplesmente no email. Não é mais o Editor do jornal que diz o que cada um deve ler. Agora, é o próprio leitor que determina sua preferência, ampliando o seu poder de escolha e a gama de assuntos à  sua disposição. E tudo isso com a impressionante rapidez, que lhe traz a informação quase que em tempo real. É uma concorrência muito desleal, até pelo custo de produção da informação, que é muito menor do que em um veículo impresso.

Por tudo isso – e infelizmente – os jornais, como os conhecíamos até agora, não tem futuro. Eles estão se tornando, a cada dia, mais irrelevantes, abordando temas que deixam de lado a informação e apelam para o entretenimento. Há um caminho a percorrer? Sinceramente, não sei. E pelo que tenho lido, também os especialistas não o sabem. Há, em todo o mundo, tentativas de mudar a forma do jornal, dar-lhe um novo dinamismo, recriá-lo. Vão conseguir? Mais uma vez, não sei. O que sei é que lamento que os jornais, graças a estas combinações de fatores, estejam se tornando quase irrelevantes. Sou, profissionalmente, produto do meio impresso e vejo com tristeza, ao abrir diariamente os jornais que, até por obrigação profissional, acompanho que não retiro deles informações que façam a diferença. Uma pena.

O que constato – e vejo posição idêntica na opinião de quem lê jornal – é que a leitura é feita por hábito. O jornal de hoje é o que aconteceu ontem. E ontem já lemos tudo o que está sendo publicado. E não só isso, mas muito mais. E se já sabemos, que importância terá o jornal? Não sei responder. O que sei é que, apesar da queda dos jornais, o jornalismo nunca foi tão atuante e presente, indo da mídia tradicional à  nova. Talvez seja como no velho dito de dar-se os anéis para manter os dedos. Talvez cheguemos à  conclusão que o importante, mesmo, é o jornalismo, não o meio que ele utiliza para se expressar e informar.

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