COMIDA COMO FATOR DE SAÚDE

Embora vivamos preocupados com a saúde e em viver uma vida saudável, a publicidade nos estimula a consumir tudo o que não deveríamos, dos sanduíches saturados ao onipresente refrigerante. E isso sem falar nos doces, muitos doces. Comer uma salada, procurar uma carne grelhada parecem sacrilégios e nos deixam com a sensação que estamos vivendo em outro mundo. O desejo de uma vida mais saudável é real, mas sua prática não. E nisso temos uma bela contribuição da indução feita pela publicidade.

Nos últimos anos uma das questões que sempre levo em consideração é a possibilidade de viver uma vida mais saudável, menos submetida aos problemas que todos enfrentamos, começando pelo estresse provocado pelas inúmeras atividades que desenvolvemos. Esta é uma coisa bem difícil, reconheço, mas acho que podemos tomar precauções que melhorem o nosso índice de bem estar. E confesso que, no meu caso, deixei de fazer algumas coisas e passei a fazer outras, tudo no intuito de buscar este ambiente mais saudável.

Neste final de semana, pensando sobre a questão, acabei me despertando para um aspecto que, antes, não tinha considerado, que é a publicidade e a indução que ela nos faz para comprar e consumir determinados produtos. Liguem a TV, por exemplo. De repente, você vai se deparar com uma reportagem ou matéria mostrando como é bom fazer ginástica, comer uma salada ou evitar alimentos saturados. Uma coisa que, aliás, já sabemos.

Mas você vai ver, na mesma TV, propaganda dos mais variados produtos, que vão do sanduíche servido por famosas redes de fast-food ao mais delicioso sorvete, todos eles impregnados de ingredientes que, se quisermos ser saudáveis, deveriam ficar bem longe de nossa dieta. E tudo isso vem acompanhado de um irresistível refrigerante, bem gelado e com bastante gelo. Sem contar na sobremesa que se tornou obrigatória e que está, como os sanduíches, impregnados de tudo o que não deveríamos comer.

Ora, como posso comer uma salada se o objeto de desejo é um sanduíche? Se o fizer, vou me sentir um pária. Afinal, todos os outros estarão comendo deliciosos sandubas, com abundância de batatas fritas, um refrigerante enorme, algum doce bem doce e eu, no meu canto, comendo uma salada? Devo ser um anormal, alguém que chegou de outro planeta e que não está integrado à cultura terráquea.

E depois, se quero comer algo entre as refeições, as frutas não são – pelo menos a ser crer na TV – nada recomendáveis. Teria de comer algo parecido com isopor colorido e que tem um leve gosto de qualquer coisa, mas que todo mundo acha delicioso. A doutrinação começa em criança, com pais premiando os filhos com sanduíches, quando têm bom comportamento. E distribuindo batatas fritas e refrigerantes à vontade.

Como ser saudável e ter uma vida saudável se todos os apelos vai no sentido contrário? Quem opta uma salada, procura uma carne grelhada, não toma refrigerante e come moderadamente não faz parte da maioria, não está enquadrado no padrão de consumo, está na contramão do consumo. Hábitos saudáveis são recomendados pelos jornais, revistas, rádio e TV, mas não são objeto de propaganda.

O que preside o mundo, no final, e isso é válido para a alimentação, é o que as grandes empresas determinam. Então, não interessa ao McDonalds, ao Burger King e ao Bob´s que comamos uma salada. Temos, mesmo, de comer o sanduíche com carnes cheias de ingredientes químicos, gordura saturada e tratá-lo como se fora a melhor refeição do mundo. Vejo isso no dia a dia, mas sempre me surpreendo com o que as pessoas comem e o que comem.

O mais curioso é que ao mesmo tempo em que estão submetidas a um consumo nada saudável, as pessoas falam sobre saúde, discutem o que fazer, falam da necessidade de terem menos estresse. Não olham, neste caso, o lado da alimentação, fundamental para a saúde de qualquer um. Já disse alguém que você é o que come. E talvez seja exatamente por isso que a população mundial está se tornando obesa, com esta obesidade começando já na infância.

Acho que neste caso virei antiquado. Tento no dia a dia manter uma alimentação mais balanceada, mas estou, também, submetido ao industrial, já que como fora. Mas confesso que, principalmente nas áreas de alimentação de shoppings, acabo me sentindo meio estranho. Afinal, nunca estou com um enorme sanduíche na minha frente, muito menos com fritas e com um refrigerante.

Pensando bem, acho que os outros devem me olhar e se perguntarem: De onde saiu esta criatura? Não se sinto estranho, mas acho que os meus hábitos alimentares e de vida estão, cada vez mais, gerando estranheza. E ela ocorre por não ser igual, mas diferente. Sei que existem muitos iguais a mim, mas infelizmente, ainda somos minoria.

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