Há alguns anos, principalmente a partir da queda da União Soviética e do ruim do chamado sistema socialista, o mundo vive uma nova era, a do capitalismo total. Não há contraponto ao mercado, que abrangeu tudo e passou a dominar o mundo, “vendido” como o melhor sistema, adequado à democracia, à livre iniciativa e mais propício a beneficiar as pessoas, os países, os Estados.
O que Marx disse – e que, do ponto de vista de análise continua sendo válido – não é mais levado em conta e o capitalismo se naturalizou, apesar das contínuas crises que enfrenta. Agora, o maior país capitalista do mundo, os Estados Unidos, enfrenta problemas. O chamado “mercado” micou. O cassino financeiro estabelecido por uns poucos ameaça acabar, fazendo com que negócios que até ontem eram bilionários hoje não valham quase que nada.
O que está acontecendo, a partir dos problemas surgidos, coloca na contramão tudo o que os capitalistas pregam, sobretudo os mais liberais. Veja que o credo de todos é que deve haver, em todas as circunstâncias, a prevalência do individual e que não deve haver regulação ou que ela seja mínima, com o mercado se autogerindo, criando suas regras a partir da lei da oferta e da procura. Governo e regulação estatal, neste caso, dizem, apenas atrapalha.
Mas não é isto que estamos vendo. Se abrirmos os jornais, ouvirmos o rádio ou vermos TV, em todos eles vamos ver o “mercado” batendo palmas para o intervencionismo estatal. Como sabemos o Governo dos Estados Unidos já colocou alguns bilhões para salvar bancos, mais vários bilhões para evitar a falência de quem deu crédito sem sustentação e agora, alguns bilhões a mais para salvar uma seguradora que, apostando no cassino, ficou a descoberto.
Os poucos que comandam este “mercado” ganharam dinheiro, muito dinheiro. E ao ganharem, aumentando exponencialmente o risco e construindo um castelo de cartas, deixaram um enorme rombo no sistema financeiro dos Estados Unidos e do chamado Primeiro Mundo. Antes, o lucro foi inteiramente privatizado. Agora, o prejuízo está sendo estatizado. Poucos ganharam, mas a conta vai ser paga por todos.
No caso dos Estados Unidos uma previsão inicial é que os problemas atinjam 1 trilhão de dólares. E essa conta irá para o contribuindo, que a cobrirá com os impostos que recolhe. E se o dinheiro vai cobrir os buracos da especulação e do cassino financeiro, vai faltar dinheiro para alguma coisa. É a hora do aumento da exclusão, do empobrecimento de quem tem alguma coisa e do emagrecimento de quem ainda tem algo a perder.
A população paga. Toda junta. Os que ganharam muito podem até perder um pouco, mas continuarão muito ricos. E vão continuar dizendo que o mercado se supre, é autossuficiente. Bobagem. Mais uma vez está provado que este “mercado” é uma selva, sem regulação, com a ganância em primeiro lugar. E é prova, também, que o Estado precisa, sim, intervir, pois deve olhar pelo bem estar da maioria, não de um só segmento.
A crise serve, também, para revelar a hipocrisia de quem defende a livre iniciativa, mas na dificuldade corre para o Governo, pedindo ajuda. E quando a obtém, aplaude, esquecendo o que dizia. Salvo da bancarrota, amanhã estará, de novo, defendendo suas posições em mais uma demonstração de que o capitalismo e quem o comanda é feito com base na afirmação: Façam o que digo, não o que faço.
8 Respostas
Essa crise financeira assusta todo mundo.
Big Beijos
Lino
O mundo está mudando, o poder está mudando de mãos???
será?
beijo!
Amigo Lino,
Neoliberalismo nunca existiu nos paÃses ricos (donos do mundo). Isso foi coisa que inventaram para continuar a “estuprar” a economia dos paÃses subdesenvolvidos, como o nosso.
Você tocou em um ponto interessante que não tinha me atentado. A caracterÃstica do capitalismo se refazer à s custas do dinheiro de todos. E sabe o que é o pior? Nós, pobres mortais, acabamos por ter que defender o intervencionismo estatal senão até mesmo o nosso respingado dinheirinho sofrerá abalos.
Falei a respeito da quebra do Lehman Brothers no meu blog. Se puder dê uma olhadinha por lá.
abraços.
Como sempre, seu texto limpo, enxuto, coloca os pingos nos ii e demonstra com clareza o queria mostrar. Na verdade, ainda vale o velho ditado “dinheiro chama dinheiro”, onde quem tem mais dita as regras do jogo, claro que puxando as sardinhas, todas, para a sua brasa. Ao socorrer os bancos e seguradoras que até pouco tempo ditavam regras, os bancos centrais dos paÃses mais desenvolvidos estão mesmo é socorrendo seu próprio poder diante do restante do mundo e, como sempre acontece, após a conta ser paga com o dinheiro dos contribuintes, ela acabará sendo repassada para os demais paÃses, desta vez os menos desenvolvidos que serão, eles sim, os verdadeiros pagadores da jogatina desenfreada nesse “cassino financeiro”. Na verdade, os grandes jogadores não pagam as suas apostas, apenas recolhem os seus lucros. Suas apostas são pagas pelos espectadores, muitos deles iludidos de que estão se beneficiando de toda essa ciranda financeira. Grande abraço, meu amigo.
Oi Lino.
Parabéns pela análise elucidativa. Bom ler um texto assim, que destrincha a economia sem recorrer ao economês. Valeu.
Aqui no Brasil, a classe média já vem pagando o ‘pato’ faz tempo; dá até medo pensar que ainda pode ficar mais complicado.
Lino, é verdade que o lucro é privativo mas a perda é coletiva. O capitalismo deu um nó e esta situação vai trazer complicações que nem podemos imaginar, mas certamente a corda vai estourar do lado mais fraco. E como cada vez que a economia emperra, eles inventam uma guerra para relançá-la dá medo do que vem por aÅ
Bela analise!
Abraços.
Lino, mais uma vez: divino Blog… e belissimo post!
Será que o sistema que mata de fome milhões de pessoas mundo a fora está morrendo? Acho que Marx e Angel estariam felizes diante dessa lambança dos donos do mundo. Onde a maioria das pessoas veem complicações, Marx e Angel, certamente, viriam possibilidades. A crise é ruim; Mas tem mal que vem pra bem!
Abraço!