Engenho Cataguás, a sede dos primeiros Rezsendes em Minas Gerais

Toda vez que digo meu sobrenome a pergunta é inevitável: Você é Resende com Z ou com S? A ideia geral que se tem, principalmente entre os integrantes da própria família no Brasil, é que o sobrenome é escrito com Z e que a grafia com S é um erro de registro, do escrivão que anotou o nome e o transcreveu nos livros apropriados.

Como o meu é com S, decidi ver se o que sempre me diziam – e que o escrivão na hora do registro teria feito errado – era o correto. Foi o que me impulsionou a descobrir a origem do sobrenome, como ele surgiu, de onde veio, como chegou ao Brasil e que grafia deveria ter no seu original e, depois, no crescimento e espalhamento dos Rezsendes pelo Brasil e por outros países.

Parti de algo particular, em que tinha interesse, para algo mais geral, que era a origem da própria família. Li, pesquisei, busquei dados da ancestralidade dos Rezsendes e o resultado é este resumo da história da família. Se você é Rezsende, pode ficar sabendo um pouco mais da nossa origem e continuar a se orgulhar do sobrenome – com S ou Z – e se não for, terá a oportunidade de conhecer uma das mais numerosas famílias do Brasil, que aqui chegou há muitos, muitos anos.

Resende é o local em Portugal onde surgiu a família Rezsende

Os Rezsendes, como a maioria já sabe ou pressupõe, são originários de Portugal. Se olharmos a história vemos que o nome surgiu na região do rio Douro, próximo do Porto, em Portugal. O topônimo RESENDE, segundo pesquisadores portugueses, parece ter origem visigoda, mas não há certeza de quem lhe legou o nome. Uma das hipóteses é que tenha derivado do nome de Dom Rausendo Herminges, bisneto de Ramiro II, rei de Leão, que por volta de 1030 reconquistou a área do Douro, então dominada pelos mouros. Foi nela que construiu o seu paço – palácio ou residência oficial de um rei ou outra autoridade.

Se a origem da família recua até Dom Rausendo, a história da região é bem mais antiga, remontando aos celtas e aos romanos, conquistadas pelos mouros, retomada pelos súditos do rei de Leão e, por fim, transformada em portuguesa. O reconhecimento de Resende como cidade – concelho, em Portugal – foi feito por Dom Affonso Henriques em benefício de seu tutor, Egas Moniz de Ribadouro.

A origem do sobrenome Rezsende, segundo estudiosos, é geográfica e deriva do nome dado à cidade portuguesa de Resende. Inicialmente, chamada de Villa Redisindi, que vem do alemão, Redisiondus. Historiadores registraram, ainda, outras grafias da palavra, como Reesendi, Reisindi, Reezende, Rresende e Reseende. A procedência germânica do vocábulo é comprovada, segundo filólogos que a estudaram e deriva da união de outras duas palavras alemãs – reths e sinths. No que todos concordam é que a grafia original do nome se fazia com S e não com Z.

Quem primeiro usou o sobrenome Resende, segundo os historiadores, foi Martin Afonso de Baião, que também era descendente de Dom Ramiro II, rei de Leão. Ele se estabeleceu em Beira Alta, Portugal, nas terras que recebeu do rei Dom Fernando Magno, por tê-las conquistado dos mouros. Martin Afonso foi o primeiro senhor cristão a povoar a região e foi quem fundou a Quinta do Paço, que deu lugar ao povoado e, mais tarde, à cidade de Resende.

O BRASÃO DA FAMÍLIA

Um dos descendentes de Dom Martin Afonso foi que recebeu o brasão da família Rezsende, derivado do brasão dos Baião, da ancestralidade de Martin Afonso. Segundo o Armorial Lusitano, o escudo – ao contrário do que se divulga no Brasil – é representado por duas cabras em fundo dourado. No Brasil, há um outro brasão dito dos Rezsendes, composto pelas cores azul e ouro, sobreposto por uma cruz vermelha. Pesquisadores, no entanto, afirmam que ele é falso e remetem para o Armorial Lusitano, que traz os brasões das principais famílias portuguesas, dentre elas os Rezsendes

As primeiras menções à família aparecem no Livro de Linhagens de Portugal no século XIII. Dois séculos adiante, os Rezsendes já tinham ganhado importância política e evidência social em Portugal. Em 1798 é que aparece o primeiro titular da família, João Xavier de Morais Resende, que foi o primeiro Barão de Resende.

Antes mesmo de aparecer o primeiro Barão na família, integrantes dos Rezsendes vieram para o Brasil quando da descoberta de ouro em Minas Gerais, em 1693, em busca de riqueza rápida e fácil. Foram eles que lançaram, por volta de 1716, o fundamentos da freguesia de Nossa Senhora da Conceição dos Prados, que mais tarde transformou-se em

Lagoa Santa é o local do início da família Rezsendo no Brasil

Apesar de outros Rezsendes virem antes para o Brasil, os historiadores consideram que o berço da família no país é o atual município de Lagoa Dourada, em Minas Gerais. Na verdade, ela surgiu no Engenho Velho de Cataguás, que fica no município. Foi nele que se estabeleceu, na segunda década do século XVIII, João de Rezende Costa e sua mulher, Helena Maria. Os dois haviam chegado dos Açores. A partir do casal, a descendência se espalhou e hoje encontra-se em todos os cantos do Brasil.

Segundo a genealogista Adriana Fernandes de Rezende, por volta de 1716, João de Rezende Costa, que residia na Ilha de Santa Maria, no arquipélago dos Açores, foi informado por seu primo Miguel, que Portugal estava tentando conseguir povoadores para colonizar o Brasil, pois estava sentindo-se ameaçado pela Espanha, que polemizava a respeito das terras ao Sul do país. E, para isso, estava arrebanhando voluntários, principalmente nas ilhas dos Açores, já excessivamente povoadas.

Com a recente morte de seus pais e não vislumbrando chances de se desenvolver por lá, pois os bens deixados por eles não seriam insuficientes para mantê-lo e a um irmão casado, decidiu vir para o Brasil. Segundo a autora do livro Engenho Velho dos Cataguás, Climéia Rezende Jafet, que romanceia a epopeia de nossa família, uma embarcação partiu rumo ao Brasil juntando gente de Pico, Fayal e Santa Maria e, nela, estavam João, seu primo Miguel e Diogo Garcia, dentre muitos outros. Depois de 2 meses de viagem, os três decidiram que iriam para a Comarca do Rio das Mortes, nos sertões de Cataguases.

DO RIO PARA MINAS

Desembarcaram no Rio de Janeiro e tomaram o Caminho Novo, atravessaram serras, o Rio Paraíba e transpuseram a Mantiqueira. Chegaram finalmente à região do Arraial Velho de Santo Antônio, assim chamado até 1718, quando foi elevado à categoria de Vila de São José del-Rey, hoje Tiradentes.

Diogo Garcia estabeleceu-se em um sítio na Freguesia de Nossa Senhora do Pilar e João de Rezende Costa e seu primo Miguel estabeleceram-se na Freguesia de Prados, no território da então capela de Santo Antônio de Lagoa Dourada. João trabalhava duro, de sol-a-sol, e uns 7 anos após sua vinda já estava bem estabelecido. Por essa época, faleceu nos Açores, vítima de um acidente de pesca de baleias, o amigo de Diogo Garcia, Manuel Gonçalves Correia, o Burgão, deixando viúva Maria Nunes. Eram naturais da ilha do Fayal, também no arquipélago.

A viúva e suas três filhas – popularmente chamadas de as Três Ilhoas – por influência do amigo Diogo decidiram vir para o Brasil e especificamente para as Minas Gerais. E Diogo Garcia, muito triste com a morte do amigo, é quem foi ao Rio de Janeiro para receber a família e ciceroneá-la até a região onde estava instalado há 7 anos. Segundo Dauro José Buzatti, em Antigos Povoados de Minas nos Campos das Vertentes, ali chegaram por volta de 1723. Uma delas, Antônia da Graça, já era casada com Manuel Gonçalves da Fonseca.

A segunda, Júlia Maria da Caridade, casou-se, em 29/06/1724, com Diogo Garcia e a caçula, Helena Maria de Jesus, morava com esse casal. Foi quando João começou a prestar atenção na menina. Nas visitas ao amigo falava da fazenda que crescia e do nome que lhe daria, Engenho Velho dos Cataguás, construída em 1723.

O CRESCIMENTO DA FAMÍLIA

Um dia Helena Maria venceu a timidez e perguntou a João o porquê do nome, ao que respondeu que havia encontrado nas terras que comprara e cultivava duas pedras encaixadas sobre uma maior que tinha a forma de cuia e que imaginou ser um moinho ou engenho para fazer farinha de milho ou de mandioca. Por isso o nome da fazenda.

Helena começou a admirar aquele homem tão sensível que não se envergonhava disso. Pouco a pouco seu interesse foi crescendo ao ver a vontade e o vigor com que ele se atirava ao trabalho, ao cultivo da sua terra. E João, sem notar de imediato, apegava-se à moça loura, cujos olhos verdes lhe passavam doce mensagem de apreço. As coisas progrediram e na manhã ensolarada de 3 de outubro de 1726 João e Helena se casaram. Surgia, então, a família Rezsende no Brasil, transformando Lagoa Dourada no seu berço e mostrando que todos nós viemos de Minas Gerais.

A partir daí a história registra o crescimento da família e sua ativa participação na vida econômica e política do Brasil, começando com José de Rezende Costa, um dos inconfidentes mineiros, que foi condenado à morte na forca, mas teve sua pena comutada em exílio, sendo mandando para a Guiné, na África.

Nobre em Portugal e elevada à nobreza no Brasil, a família deu ilustres filhos ao país e hoje conta com políticos, empresários, professores, mas em sua maioria é composta de pessoas anônimas que tem orgulho do sobrenome que carregam e que, muitas vezes, não sabem a história por trás dos Rezsendes e tampouco que não faz a mínima diferença se ele é grafado com S ou com Z, pois somos, na verdade, uma única família, surgida em Portugal e vinda para o Brasil, onde se estabeleceu, cresceu e se espalhou.

 
Escudo da família Rezsende

ESCUDO DA FAMÍLIA

De acordo com o Armorial Lusitano, este é o verdadeiro escudo dos Rezsendes, derivado do escudo da família Baião, que está na origem de nossa família, pois foi um dos seus integrantes que primeiro adotou o sobrenome, ainda na era Medieval.

A cidade de Resende, no Norte de Portugal, próxima do Porto, é o local da origem da família. Foi na região que apareceu pela primeira vez o sobrenome, escrito com S, adotado por um nobre da região. Dali, ele se espalhou pelo mundo.
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