Se olharmos ao longo da história da humanidade vamos ver que o corpo, em alguns momentos mais, em outros menos, sempre foi usado – se não pela maioria, pelo menos por um pequeno grupo – como meio de vida. Sim, estou falando de prostituição, segundo o dito popular a mais velha profissão do mundo.
Aqui, no blog, já falei dele – Rendimentos do corpo e O nascimento de um eufemismo – mas estou voltando ao assunto a partir de uma ampla reportagem publicada pelo jornal A Gazeta, de Vitória, neste final de semana. O texto mostra que a prostituição tem atraído uma série de pessoas, começando por jovens de classe média, que poderiam, se quisessem, seguir outras profissões. Elas o fazem não por necessidade, mas por opção própria.
Um dos aspectos que me chamou a atenção na matéria foi a forma como as jovens e os jovens – sim, todos são jovens – encaram a “profissão”. É, para todos, um meio de conseguir uma boa situação financeira. Os ganhos, em boates de melhor nível, pode chegar aos R$ 6 mil mensais, um salário muito difícil de conseguir em outros lugares. Ao lado disso, vem o desejo de consumo, de poder comprar griffes, de se vestir bem – principalmente no caso das mulheres.
Há, em relação a atividade, que hoje é aberta, em Vitória e em qualquer parte do mundo – veja-se o caso do ex-governador de Nova York – uma faceta que, no meu entender, é a mais interessante: embora os rendimentos proporcionados pela prostituição sejam desejáveis, o seu exercício é socialmente condenável, o que leva as garotas e garotos de programas a esconderem de familiares e amigos o que fazem.
O medo da descoberta, do flagrante, do encontro com alguém que acha que estão fazendo outra coisa, é o que marca os garotos e garotas de programa. Pela reportagem, isso aflige mais as mulheres que os homens. Apesar do desejo consumista, de ter meios monetários, garotas e garotos, no final, vivem em um gueto, com medo. E tudo isso devido à condenação social deste tipo de prática.
O sexo, acreditam os brasileiros – veja Somos o que pensamos – deve se restringir ao casamento e, nele, a fidelidade é fundamental, como revela a pesquisa A cabeça do brasileiro. Mesmo nas camadas mais liberais há, em relação a questão, uma postura conservadora. E é isso que leva garotas e garotos de programa a conviverem com o desejo de consumo, massificado pela propaganda, e o conservadorismo da sociedade, que condena o que fazem.
Ao primeiro – o desejo de consumo – vendem o corpo para torná-lo possível. Ao segundo, colocam-se em um gueto, vivendo com medo e escondendo-se e ao que fazem de quase todo mundo. Pode ser até uma atividade bem remunerada, mas, olhando-a pelo lado social, coloca quem a pratica em um dilema difícil de resolver.
11 Respostas
Lino. Penso que o grande culpado dessa profissão denominada “prostituição” estar se tornando uma “escolha”, uma opção de fazer carreira…rs, é o consumismo desenfreado mesmo. Para se obter as “mercadorias” ofertadas pelo mundo consumista é necessário dinheiro rápido e de grande volume. Não há tempo mais, para se estudar, arranjar profissão, especializar-se nela, etc…Impera o imediatismo, a urgência da obtenção do dinheiro já…E os jovens, que se tornam traficantes de droga, também enxergam por essa ótica: dinheiro ágil, rápido, bastante, fácil….
Mas, a sociedade não aprova nenhum desses comportamentos. E faço parte dos que não aprovam….
Beijos.
Dora
Lino, uma vez li uma reportagem a respeito q muitas mulheres se prostituiam não por necessidade e sim pelo prazer de ter dinheiro fácil para sustentar os próprios luxos.
Big Beijos e bom feriado.
Agora me diz… quem foi que disse para essa turma que consumir eh a unica forma de ser feliz ?
Cara… vou te contar uma coisa… eh por essas e outras que luto contra esse capitalismo selvagem em que vivemos.
Essa garotada deveria era estar fazendo passeata e lutando pela revolucao socialista como todo jovem tem que fazer !
Acho que estou ficando velha viu ? E ainda por cima daquelas bem rabugentas.
bjs
Lys
Concordo com a Dora. É o consumismo aliado ao “tudo ao mesmo tempo agora”. O jovem de hoje não possui mais paciência para esperar ou ter algo. A própria mÃdia induz a isso. Cabe a famÃlia mostrar a seus filhos o que é ética e responsabilidade, coisas difÃceis de se ver hoje em dia, já que a famÃlia está toda desestruturada.
Oi lino.
No caso especÃfico que abordastes, jovens de classe média, acho que o que determina a opção pela prostituição (ou o tráfico ou o roubo, como por vezes noticiam os meios de comunicação) é a ausência total de educação familiar, isto é, a transmissão de valores éticos indispensáveis para uma postura digna diante da vida. Palavras como honra, trabalho, solidariedade, certo e errado não fazem o menor sentido para estes jovens. A omissão dos pais, muitas vezes aliada a hipocrisia, estimulam o vale tudo moral. Ressalte-se, no caso, que estamos falando da juventude dourada da classe média – que muito tem e mais quer – e não dos miseráveis da periferia – que nada têm e tudo fazem para conquistar aquilo que a propaganda na tevê lhes vende como o supra-sumo da felicidade.
Me repetindo: os bárbaros chegaram. E estão ganhando a batalha contra a civilização.
Um abraço.
Eu chego a conclusão que a juventude está mesmo perdida, quantas coisas absurda são feitos pelos jovens, coisas que eles vão se arrepender e muito no futuro, mas não adianta falar, simplesmente não entra na cabeça deles.
Deixa quebrar a cabeça então rs
bjs
Sempre acreditando no diálogo entre pessoas.
Senão, seria impossÃvel viver sem esperança de um mundo melhor!
lindo beijo
Amigo Lino,
A sociedade nos impõe modelos de comportamento que em muitos casos nos agridem por demais. Felizmente consegui abrir minha mente para muitos aspectos que antes abominava.
Claro que o preconceito não nos larga totalmente e por isso devemos estar atentos a maior parte do tempo para nos policiarmos contra idéias prévias e sem embasamento suficiente sobre alguém ou alguma coisa.
abraços, amigo.
Ah, a difÃcil vida fácil! Continua atraindo pelo glamour seguido da adrenalina de se viver perigosamente. Para mim é escravidão e liberdade é o que mais prezo.
Realmente é um dilema dificilimo,LINO.
Já conheci algumas pessoas que “se vendem” para a realização de seus sonhos,e fico pasmo com seus pensamentos.
Claro que choca num primeiro momento,mas à medida que eles percebem que não têm outra oportunidade real,acabam engolindo a idéia e,por incrÃvel que pareça,conseguem ter excelentes justificativas para diferenciar o sexo-programa do sexo-relacionamento.
Eu,sinceramente,estou anos-luz de compreender,e aceitar algo assim.
Abração!!
Lino, é falta de educação mesmo. Os valores familiares mudaram. Eu mesma estudo com 3 meninas, em uma universidade particular, e elas não têm a mÃnima necessidade de se prostituir mas o fazem para poder dar 300 reais numa camiseta da MOffice. Eu já aconselhei, minha mãe fez as vezes de mãe delas, me fez convidar para nos visitar e ela aproveitou e conversou com cada uma delas. Mostrou por fotos a vida difÃcil de crianças que têm tão pouco mas são felizes sem se apegar ao consumismo.No meio das 3 veio um colega que se diz gay. Minha mãe conversou com ele. Ele simplesmente disse “eu vivo uma crise de identidade. Na verdade, nem sei o que quero, o que sou e nem para onde vou” e minha mãe deu exemplos de tantas mortes que acontecem e aconselhou esse rapaz a procurar ajuda, uma terapia. Ele aceitou. Inicialmente. Dias depois, ele mudou a rota e caiu na “vida”.
Os 4 estão estudando para viver na Europa. Se prostituindo.
Uma pena que isso aconteça. E feliz do jovem que tem um lar estruturado.
Tudo de bom pra ti.