De uma ou de outra forma, todos nós temos vícios de linguagem. E isso quer dizer que, sem sentir ou de propósito dizemos coisas que, ou acompanham uma tendência ou são típicas do nosso falar. Eu, por exemplo, tenho a mania de, no meio de uma frase, fazer uma pergunta e emendar, imediatamente, a resposta. Talvez pudéssemos chamar isso – o que não é – de uma pergunta retórica, significando que não busco resposta para ela.
É dessa forma que incorporamos os regionalismos na nossa fala, distinguindo-nos de outras regiões, que não adotam o mesmo padrão. Como a língua é rica, a mesma coisa é chamada de modo diferente. Macaxeira é também aipim. Mas de regionalismo, todos nós sabemos.
O que me intriga e chama a atenção são os maneirismos individuais, como a minha pergunta. Se você observar vai notar que quase todas as pessoas têm alguma forma peculiar de acentuar um momento da fala. Nestes dias, encontrei alguém que, a cada frase, fala um “por exemplo, entende?”. E um outro que terminava praticamente todas as frases com um “não é?”. Ou um terceiro, que sempre diz, ao longo da frase formulada um “quer dizer”.
A língua – e a linguagem – tem um objetivo primário, que é permitir a comunicação, fazendo com que emissor e ouvinte se entendam. Dizem os teóricos que a comunicação se dá na recepção, pois é a partir do entendimento do que foi dito que ela se estabelece. Os vícios de linguagem, os cacoetes que integram a nossa fala, quando se assemelham ao que a maioria usa, ajuda na integração e, portanto, no entendimento.
De outro lado, se não conhecemos o que se disse, há um ruído e a comunicação fica ruim. É o caso de expresseis regionais que fora do círculo em que é falada não têm sentido ou têm sentido diferente. É por isso que, em todas as circunstâncias, procuramos ficar mais próximos do nosso grupo. Se estamos com nerds, vamos falar nerdês. E se falamos de futebol, enveredamos pelo futebolês. Assim, entendemos e somos entendidos.
Hoje, centenas de blogs da chamada blogosfera brasileira estão enveredando, a partir de uma proposta feita pelo Edney, do Interney, por uma blogagem coletiva que pretende gerar conteúdo inédito. É o caso deste post. É a primeira vez que o publico, logo, é inédito. Isso, no entanto, não quer dizer que muitos já tenham falado sobre o mesmo assunto. Discutir a língua e como ela se expressão, diria, é até recorrente.
Já disse alguém – e definitivamente, não é verdade – que nada existe de novo sobre a face da terra. Eu acho que existe. E a blogagem de hoje vai mostrar isso, da mesma forma que é sempre novo você ouvir uma expressão usada de forma diferente, um cacoete ou um vício de linguagem incorporada à fala de alguém.
Novo não é o assunto – e ele pode ser, também. Novo e inédito é a forma como o abordamos. Mas a propósito do assunto aqui abordado, quero perguntar: que tipo de cacoete você tem no linguajar? E qual é o regionalismo que mais usa? Deixe um comentário e, assim, enriqueça esta discussão.
19 Respostas
Eu tenho várias manias. falar ‘aÃ’ muitas vezes é uma delas; vivo me policiando. E os temas são universais, mas cada m traz sua visão particular sobre o assunto. Boa semana.
É verdade. Vou reparar qual o meu vÃcio de linguagem mas, suponho que falo demais e muitas vezes devemos ficar calados porque a maioria quer ouvir só o que lhes interessa.
Alguns vÃcios de linguagem estragam a mensagem. Conversei outro dia com um rapaz que só falava ” Você me entende?” rs. Vou me policiar para ver qual o vÃcio de linguagem que tenho porque certamente o tenho e certamente algumas vezes também estrago a mensagem…hehehe. Boa semana!
eu, como boa mineira, tenho o vÃcio de falar trem e uai, pra tudo…. como um curinga da lÃngua….
hehehehe
beijos
Oi, Lino. Gosto de papos sobre linguagem, idioma, vÃcios e cacoetes lingüÃsticos, enfim…não é à toa que estudei Letras…
Mas, meus cacoetes diferem, dependendo da maneira que me expresso. Explico: na fala coloquial, tenho mil vÃcios, desde exclamações, até pequenas expressões de gÃria…e sempre dentro do contexto do “interlocutor”…
Já, na escrita, me policio mais, e evito modismos, tentando fazer uso da lÃngua culta…rs
Mas, mesmo assim, dependendo do texto, coloco meus cacoetes: daÃ, pois é, então, naõ é? ….e abuso dos pontos de exclamação( sendo que já sou conhecida por este último vÃcio…rs).
Então, beijos!!!!!!!!!!!!!
Dora
Eu sou uma pessoa exageradamente adverbial (principalmente em intensidade, com palavras terminando em “mente”). Reconheço em sã consciência que abuso dos mesmos a todo momento. Tento evitá-los, mas é um maneirismo próprio mesmo.
Outro defeito, esse vindo da convivência diária com 2 americanos: misturo inglês e português. Isso extravasa pro blog, e embora há quem se desgoste de textos assim, não os evito, pois ele revela um pouco da minha vida: como eu falo diariamente. É meu estilo de ser.
Parabéns pelo texto, Lino. Muito bem escrito e colocado.
Lino, entre expressões e regionalismos brasileiros e franceses, ando meio perdida, acabo misturando tudo. No Brasil tenho a mania de falar “realmente” e já percebi que escrevendo também uso muito este advérbio.
Sobre a blogagem do Interney, hoje publiquei um post que envolve bastante pesquisa sobre as “máquinas” do da Vinci, se soubesse que bastaria ser uma primeira publicação do post para que ele seja considerado “matéria inédita” tê-lo-ia inscrito na coletiva.
Um abraço.
Apesa de complicada, principalmente em sua gramática e ortografia, nossa lÃngua é rica, né?
Aqui em Minas, impossÃvel não falar uai, uai!
Bjão.
Olá, Lino!
Isso é a pura verdade. Eu falo muito ´´sabe como é´´, mas so quando o papo é longo e eu estou falando já a algum tempo. ´´Pô´´ é o normal, nao tem como deixar.
Tinha um amigo que falava muito: ´´Detalhe´´ aà explicava o assunto. São vicios, que basta as vezes a gente se afastar da refião ou das pessoas que deixamos de lado, como sotaques.
Um abraço
Rapaz, todos os vÃcios da maneira de eu falar vão pros meus textos e o exercÃcio de polimento que se segue tem sido uma experiência rica, apesar de que o resultado final quase nunca alcance o objetivo….As frases longas, advérbios, etc etc. O fato de morar no exterior piora o quadro.
Um grande abraço!
Claro que existe conteúdo novo na internet. Quem falou o contrario,talvez não tenha tempo pra ler o muito que há.
Provavelmente eu tenha sim algum tipo de linguagem.Vou procurar perceber qual,heheh
Abração,LINO e otima semana!
Um dos meus vicios de linguagem é usar a giria dos paulistanos qdo falo com meus amigos, o famoso: Meu
bIG bEIJOS
Ih Lino, eu sou carioca, o que significa que vÃcios de linguagem é comigo mesmo, “mermão”!!!
Fora o sotaque cheio de xiiiiisssss….
Uma boa e curiosa iniciativa.
Um abração e boa semana.
“se você for ver…” – Horrível, mas eu falo…
Bela matéria, Lino! Gostei muito mesmo… do tema dessa postagem, de sua maneira de escrever e do blog… parabéns!
É um ótimo assunto para discussão. Durante muito tempo, fui professor de teoria da comunicação para instrutores de treinamento. E alertava aos meu alunos sobre os cacoetes de linguagem, que dispersam a comunicação. Aqui no Rio, atualmente a praga do “tipo isso, tipo aquilo”, além de expressões da “moda”, como “ninguém merece” e “fala sério” contaminam feito vÃrus a comunicação interpessoal. Se eu tenho meus cacoetes verbais? Devo ter! Embora fique sempre me policiando para eliminá-los. Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.
cacai! eu tenho falado muito “não é mesmo?” no final de tudo… não é mesmo? =)
Oi Lino, interessante tema (como sempre!). VÃcio de linguagem?? hmm, talvez o “né?!” no final das frases… horrÃvel, eu reconheço, me policio, e tal, mas é mais forte que eu.
Estou longe da minha terra, Manaus, lá tem um porção de regionalismos, coisa absolutamente aceitável, mas quando eu ainda estava lá, estava começando a profusão de … sei lá, não sei nem nomear o que era aquilo. Era assim: a pessoa, geralmente jovem, fala o sujeito da frase no inÃcio e no fim, como se quisesse com isso dar maior ênfase ao que fala: “eu vou lá na casa da Maria, eu”. ooohhh! pavor!
É isso. Abraços.
Se é vÃcio de linguagem ou não, mas me irrita esse tal de miguxês falado pelos emos.
Mas não tem jeito, com a convivência, você acaba incorporando certas coisas, por exemplo, guri, ti, tu… De tanto andar com um colega e trabalho gaucho, estou ficando impregnado!
Há um tempo eu tinha o péssimo hábito de falar “tipo” a toda hora. Era quase como vÃrgula. Felizmente me livrei desse vÃcio. Mas, assim como o conterrâneo Cejunior mais acima, coisas como “mermão” e “brother” são freqüentes mas eu já acho que isso dá um charme ao carioquês.