VOCÊ CONFIA NOS MÉDICOS?

Doutor, o que é que eu tenho?

Você, certamente, já ouviu esta pergunta muitas vezes. Ou então, a fez quando consultou um médico em busca de um diagnóstico que o (a) livrassem de um problema  Todos nós, em algum momento, consultamos um e ele nos indica o que devemos fazer, tratando-nos e ao que temos. Com isso, resolvem problemas e nos ajudam a manter a saúde, embora e muitas vezes, não gostemos de ouvir o que nos têm a dizer. Famosos alguns, quase anônimos outros, os médicos estão integrados ao nosso dia a dia e são visto, por muitos, como a salvação, neste caso literal.

Mas imaginemos uma outra situação e, nela, você não confia no médico que procurou e quer ouvir uma segunda opinião sobre o que ele lhe disse, o que afirmou ser o seu problema e o tratamento indicado. Procura, então, um outro médico e ouve dele coisa completamente diferente do que ouviu do primeiro. Meio confuso, decide procurar em terceiro que tire a dúvida e que concordando com um dos outros dois lhe indique o caminho a seguir. E o que acontece? O terceiro médico lhe oferece um outro diagnóstico, diferente dos dois anteriores.

Essa poderia ser uma ação hipotética, mas é real. Hoje – e talvez ontem e no passado, também – médicos dão diagnósticos diferentes para os mesmos sintomas. E foi isso o que constatou um jornal capixaba em uma extensa reportagem. Escolhendo personagens, o jornal as levou para consultas com diferentes especialistas, dentro dos sintomas que apresentavam. O resultado foi, no mais das vezes, diagnósticos diferentes e diferentes abordagem do problema, que podia ser visto como uma doença A, B ou C.

Médicos, dizem um amigo médico, foram educados para salvar vida, mas não para lidar com pessoas. Se o objetivo primário da medicina é nos salvar – e acredito que é – a reportagem do jornal revelou que o estudo a que se dedicam pode até lhes dar conhecimento sobre os males do corpo humano, mas isso não faz com que, a partir de sintomas semelhantes, diagnostiquem a mesma coisa. É bem verdade que para entender o que se passa têm de confiar nas informações que o próprio cliente lhe dá e isso, muitas vezes, não é feito de forma correta.

Como um médico deve reagir diante de tal constatação? Não sei. Mas fico pensando que talvez seja o medo de um diagnóstico errado que os faz pedir exames e mais exames, cobrindo todos os possíveis ângulos de análise. Isto faz com que nós e eles fiquemos mais seguros, achando que teremos um bom diagnóstico e, com ele, o problema resolvido. De outro lado fico pensando como é que as escolas de medicina podem agir para suprir o que, sem dúvida, é uma deficiência, já que para os mesmos sintomas deveríamos, em princípio, ter diagnóstico se não idênticos, pelo menos parecidos.

Talvez o que precisemos seja um retorno a um velho procedimento, do médico de família, que acompanha a pessoa praticamente do seu nascimento à morte, conhecendo o seu perfil de saúde e tendo registrado os seus problemas. Ou talvez que os médicos se transformem, também, especialistas em lidar com pessoas e que as ouçam mais. Como todos nós temos visto nos jornais, no rádio, na TV e na internet, as consultas são feitas em espaço mínimo, quase como se tratasse de uma linha de montagem, onde você chega, diz o que sente e tem o seu problema resolvido, tudo isso em apenas 10 ou 15 minutos.

Tempo maior? Nem pensar. O médico tem dezenas de pessoas para atender. E tem de sair correndo de um para outro emprego e, deste, para um plantão hospitalar ou para o seu consultório. Então, prevalece a montagem industrial e, com ela, a possibilidade maior do erro, do diagnóstico equivocado e, com isso, opera-se uma nova transformação, a do médico em uma ameaça à saúde das pessoas. Uma droga errada, um tratamento incorreto ao invés de salvar pode matar. Os males do corpo podem ser, neste caso, piorados, não minorados.

E há um ângulo em que podemos ver a questão de um ponto de vista ainda mais alarmante: Quem está sujeito a este tipo de diagnóstico, à consulta como linha de montagem, à pouca possibilidade de ouvir uma segunda opinião e, com ela, ter seu problema realmente resolvido, são os mais pobres. São eles que engrossam as filas dos postos de atendimento mantidos pelo Estado em todo o Brasil, são eles os submetidos à produção industrial da medicina e também são eles que sofrem as consequências.

Um amigo, que também é um experiente médico, costuma afirmar que quando alguém sente alguma coisa, principalmente se for algo mais complexo ou grave, deve ter um médico que seja o seu “dono”, dado aqui no sentido de ser por ele responsável, inclusive no contato com outros colegas, evitando-se problemas. Talvez sejamos capazes de ter esse “padrinho”, mas a maioria da população, não. Ela fica mesmo sujeita a um único diagnóstico. Se ele estiver certo, ótimo. Se não estiver….

O que fazer? O caminho parece óbvio e passa pela melhoria no ensino, inclusive o de medicina, com infraestrutura necessária para oferecer treinamento a quem será responsável por vidas e a uma melhoria nos serviços de saúde, permitindo que o médico ouça o cliente – ou paciente – dedicando-lhe o tempo necessário para um diagnóstico correto. Sem isso, vamos continuar vendo diagnósticos errados, a linha de montagem sendo ampliada e, no final, mais e mais gente medicada mas sem saúde.

ESTE BLOGGER NO MEIROCA

O blogger e o blog, o que ele representa, como é feito e vários outros assuntos são os temas da entrevista que a Meiroca fez comigo e que hoje ela está publicando. São 51 perguntas sobre o blog, a blogosfera e a maneira de blogar.

Se você quer saber um pouco mais sobre o blogger e este blog, veja na Meiroca. Ah! e depois volte aqui e comente o que achou.

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