UMA NOVA MANEIRA DE FALAR

Há alguns anos, por necessidade profissional, deixei de almoçar em casa e, como consequência, tornei-me frequentador de self services e de áreas de alimentação em shoppings, suprindo a necessidade de alimentação. A mudança me proporcionou algo que, antes, não tinha: observar as outras pessoas e, de certa forma, avaliar o que estava acontecendo na moda, na vida, dos relacionamentos, etc. Dessas observações é que nasceu a categoria Cotidiano, que tem contribuído com parte do conteúdo do blog.

Feita explicação, falemos do fato. Nesta semana, na hora do almoço, sentei-me ao lado de algumas jovens que estavam apreciando o sanduíche do dia, cheios de batatas fritas e refrigerantes, trazendo uma das marcas mais conhecidas deste segmento. As jovens conversavam alegre e descontraidamente sobre suas coisas, o que tinha feito, o que pensavam, etc. Muito próximo, não tinha como não ouvir.

O que me chamou a atenção, no entanto, foi quando duas delas começaram a falar de “ficar” e de namorados. A partir deste momento, eram só as duas, não importando as outras, que ficaram um pouco de lado, tocando uma conversa diferente. Se me perguntar, não sei o conteúdo da conversa e nem se as referencias feitas eram a um “ficar” ou a um namorado mais convencional. Mesmo assim, acabei fazendo uma descoberta.

Existe, entre os jovens, uma nova linguagem – ou a pobreza dela. E foi isso que as duas jovens me mostraram. Depois de algum tempo, uma delas começou a explicar o que tinha acontecido e, invariavelmente, ao falar dela e do outro personagem, que julguei ser o namorado, ela usava a expressão Eu falei, para referir-se a si própria, e Ele falou, em relação ao namorado (?).

A cada nova frase o começo era sempre: Eu falei assim. Ou, então, Ele falou assim. Acredito que a conversa, no todo, tenha durado algo como cinco minutos. Eu que já estava terminando de almoçar, acabei saindo e ainda deixando as jovens, agora voltadas para todo o grupo. A conversa mais particular – significando que era entre duas – me deixou com o “eu falei”, “ele falou” rodando na minha cabeça.

É certo que o jovem tem uma linguagem particular. Vi isso acontecer de perto, com meus filhos. Mas o que me surpreendeu foi a forma de início da construção das frases, criando-se um novo jeito de falar e, em consequência disso, uma nova linguagem. As jovens estavam falando de forma perfeitamente clara, o que levaria qualquer um a entendê-las, mas a pobreza de linguagem era evidente. E as duas, pelo que pude perceber, eram universitárias.

O que ficou, no final, foi o fato de ainda me surpreender com a dificuldade de articulação ou o vocabulário dos mais jovens. O nosso ensino é ruim e desinteressante, os jovens leem muito pouco, a cultura não tem nenhum destaque, a não ser em ocasiões especiais. No final, ninguém se importa. Quem sofre é a língua, que fica a cada dia mais pobre.

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