A criatividade, poderíamos dizer, é algo inerente ao ser humano e para constatar isso basta olharmos em volta, vendo o que foi construído e como o homem modificou o planeta que habita, muitas vezes para pior, transformando o ambiente em uma ameaça à própria vida. Um dos aspectos mais marcantes dessa criatividade é a arte, no seu sentido mais amplo. Nela, os humanos podem demonstrar seus sentimentos, despertar olhares e desejos ou fazer rir.
Tudo isso em a propósito de trás mostras que visitei no último final de semana. Em São Paulo, aproveitei e fui ver trás manifestações diferentes da criatividade humana. Na primeira delas, vi as fotos espetaculares – em todos os sentidos – de Steve McCurry, muito a propósito chamada de Alma Revelada. A mostra traz uma série de fotos com pessoas, integrando-as às paisagens, mas destacando-as de tal modo que faz com que nos sintamos parte do que é mostrado.
O jogo de cores, de luz e sombra, de texturas sobrepostas dá à fotografia de McCurry um tom muito especial. Uma delas mostra um soldado iraquiano descansando em um sofá vermelho, com os sapatos ao lado dele, com um fundo de destruição provocado pela guerra. Outro, simplesmente, mostra os olhos de uma muçulmana, a única coisa visível nela, mas que os seguem, assustados, deslumbrados e deslumbrantes ao mesmo tempo.
A segunda mostra me fez rir e, ao mesmo tempo, ver a história de um dos maiores gênios do cinema, Charles Chaplin. Ele foi tão genial que, no seu personagem, a sua própria pessoa acabou em segundo plano. Ao falarmos de Chaplin o que nos vem a mente é o extraordinário personagem que criou e que com sua ingenuidade ainda continua nos fazendo rir. Ao mesmo tempo, através dos cartazes de seus filmes e da temática neles adotada podemos dizer que esteve muito à frente do seu tempo.
Chaplin e sua imagem, assim como a exposição de Steve McCurry, são imperdíveis. Ambas estão na Galeria Tomie Othake, em São Paulo, e são de visitação gratuita, podendo ser vistas uma depois da outra e fornecendo o contraste entre o cinema, como Chaplin o via, e a imagem, que McCurry ainda a vê, pois continua em atividade.
Outro momento de criatividade é fornecido pelos irmãos Campana. Muito mais conhecidos lá fora do que no Brasil, eles transformam o mais comum dos materiais em obras de arte e, ao mesmo tempo, em arte utilitária. Uma de criações – talvez a mais conhecida – é uma espetacular cadeira feita toda ela com bonecas de pano sobre uma estrutura de aço. Bonita, diferente e parece ser muito confortável, com o crédito de terem pensado em um material que ninguém usaria para uma cadeira.
Plástico, madeira, papelão, aço, cordas de algodão, tecido, fita adesiva e papel de embrulho são alguns dos materiais usados nos trabalhos que estão no Centro Cultural do Banco do Brasil, no centro de São Paulo. A visita proporciona a quem vai ver o trabalho dos irmãos Campana a oportunidade de verem, também, os belos e icônicos edifícios existentes no centro da maior cidade brasileira.
O que as trás exposições mostram, no final, é que o belo não está no complexo, mas no simples. A sofisticada fotografia de Steve McCurry embora retrate a complexidade do ser humano e de seu ambiente, é muito simples e direta. E nisso é que está sua beleza e expressividade. A simplicidade também é a tônica de Carlitos, o genial personagem de Chaplin e é o uso dela que nos proporciona os ótimos momentos de lazer ao vê-lo em atuação No caso dos irmãos Campana a simplicidade ocorre com os materiais e, a partir dele, criam obras complexas, expressivas e únicas.
As trás exposições nos mostram trás momentos de alta criatividade e da inventividade dos humanos. Em áreas diferentes, mostram que o simples é belo e pode trazer uma complexidade que é percebida no olhar, mas que não lhe tira a beleza. Parodiando Júlio César, fui, vi e gostei. E recomendo a quem tiver oportunidade de visitar as trás exposições. Elas são, sem nenhuma dúvida, imperdíveis.