JANELA QUEBRADA E SEM LEI

Pobreza e descuido podem significar o aumento do crime ou, simplesmente, de se ignorar a lei? Pode ser que não, mas graças à Teoria da Janela Quebrada, em voga nos Estados Unidos, este assunto está em discussão. A teoria diz “e é uma crença geral, já incarnada nas pessoas“ que cuidar bem das coisas e dos bens acaba contribuindo para que a ordem seja mantida, evitando-se, por exemplo, que uma casa seja invadida. Se ela está bem cuidada, há um desestímulo à transgressão, mantendo-se, como consequência, a ordem.

Olhada de soslaio pela ciência, a tal teoria acha que, com um comportamento voltado para a manutenção das coisas dá-se à sociedade um sinal positivo. Dizem, até, que foi graças à adoção desta teoria que o volume de crimes em Nova York caiu nos anos 90, tornando-a novamente segura. Mas e os pesquisadores, o que dizem? Até no ano passado, eles ignoravam por completo a tal de teoria, julgando-a não científica e, portanto, sem valor.

Agora, graças à iniciativa de sociólogos holandeses, da Universidade de Groningen, as coisas estão mudando. Eles partiram para colocar a Teoria da Janela Quebrada em prática e o fizeram em três momentos diferentes. Primeiro, em um estacionamento de bicicletas. Eles escreveram bem grande na parede próxima: Não jogar lixo, mas não colocaram no local nenhum recipiente para receber o lixo. E colocaram panfletos de propaganda em cada uma das bicicletas paradas. Ao final, os pesquisadores constataram que ao retirarem a bicicleta do estacionamento, 67% dos que as usavam pegavam os panfletos e os carregavam, não os deixando no chão.

A mesma experiência foi refeita. Só que, desta vez, a parede do estacionamento foi toda ela grafitada. Ao final, do total de usuários “e de bicicletas“ apenas 31% carregaram os panfletos para colocá-los no lixo em outro lugar. Em outro experimento, os pesquisadores colocaram uma nota de cinco euros dentro de um envelope em uma caixa de correio. A nota ficava visível para quem passasse próximo à caixa. Com ela limpa e bem conservada, apenas 13% dos passantes pegaram a nota. Quando a caixa foi toda grafitada, o número cresceu para 27%.

Ainda usando as bicicletas e o estacionamento, os cientistas colocaram uma cerca na principal entrada do local, avisaram que não se podia prender as bicicletas nela e pediam que o proprietário ou usuário andassem cerca de 200 metros para estacionar o seu “veículo”. Quando não havia nenhuma bicicleta presa à cerca, 73% das pessoas andaram a distância extra, aceitando o aviso de não prender nada na cerca. Quando já havia bicicletas presas nela, contrariando o aviso dado, apenas 18% o aceitaram.

O que isso significa? Sem extrapolar para outras cidades ou outros agrupamentos de pessoas os cientistas concluíram que vendo exemplos de “comportamentos inapropriados”, os residentes de Groningen tendiam a quebrar as regras. Aparentemente, o grafite é uma indicação de que as coisas estão abandonadas e, por isso, não se precisa seguir as regras, mesmo havendo a recomendação de não se jogar lixo no chão. Ou, então, pode-se tranquilamente pegar o dinheiro que não é dele.

Se as coisas estão mais conservadas, bem cuidadas, confirma-se “pelo menos em parte“ o que diz a Teoria da Janela quebrada, com cada novo exemplo de comportamento antissocial estimulando as pessoas a se comportarem, também, de maneira errada, quebrando as regras de convivência e infringindo as regras estabelecidas. Pode-se concluir, pelo menos em relação ao universo pesquisado, que a aparência é importante para que as regras sejam seguidas.

O que fica claro, no final, é que se há – e muitas vezes, há – preconceito em relação àqueles que fogem do padrão social, ficou demonstrado que a Teoria da Janela Quebrada tem fundamento. Ao estimular o bom convívio social e o respeito às regras, acabamos influindo em como as outras pessoas se comportam. E no final, isso é bom para todos. (Via Wilson Quartely)

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