Se olharmos a história do homem veremos que é muito recente o fato de uma boa parte da humanidade viver na abundância. O que a história nos diz é que, ao longo dos milhares de anos que levamos para chegar ao atual estágio, o mais normal era viver em um estado de escassez, controlando a comida, racionando-a e, em muitos momentos, passando fome. Aliás, o que ainda acontece em várias partes do mundo, inclusive no Brasil.
O que isso nos ensinou é, em primeiro lugar, que não se deve desperdiçar comida, pois amanhã podemos não tê-la em quantidade suficiente para que nos alimentemos. Comer passou, então, a ser não um ato físico, mas também psicológico diante do temor de não o poder fazer. Com isso, criamos a noção de quem é magro ou perdeu peso não está bem de saúde. E isso nos remete aos tempos em que ter o que comer era uma aventura diária.
Ao longo deste tempo todo os padrões de beleza mudaram. Hoje, por exemplo, louva-se – pelo menos em relação às mulheres – a magreza, espelho das modelos que assim o são e que despertam o desejo de outras para serem iguais. Apesar disso, e talvez seja mais verdade em relação aos homens, o antigo comportamento, de olhar a magreza – ou a perda de peso – como um problema ainda persiste. E pude constatar isso sendo partícipe de uma cena em que estes condicionamentos se mostraram.
A história é a seguinte: No shopping, fazendo hora para ir ao cinema junto com um amigo, encontramo-nos com uma amiga. Também ela ia ao cinema, junto com a filha adolescente. Quando nos viu, fez festa, mas virou-se para o meu amigo e comentou: Você emagreceu!. Ele confirmou que sim e ela emendou: Mas está tudo bem com você?. O tom de voz e a postura não deixavam dúvida que a pergunta estava diretamente relacionada com a saúde. Afinal, meu amigo fez um tratamento e acabou emagrecendo mais de 20 quilos, ficando bem diferente do que era antes.
O encontro foi rápido, pois a sessão desta nossa amiga ia começar logo. A nossa, não. Quando ela seguiu em frente, meu amigo comentou: Você viu o comentário da Ana? Ela achou que eu estava doente. Concordei. E foi então que me lembrei de toda esta história de evolução, da escassez de comida e do fato de, ao ser bem alimentado, ninguém se apresenta muito magro. É o velho condicionamento humano fazendo efeito e ligando a perda de peso não a um ato voluntário, estudado e acompanhado, mas a um problema qualquer de doença.
O mais curioso é que o meu amigo, embora tenha emagrecido bastante, não se apresenta como alguém muito magro. Mas comparando com o seu visual anterior, houve uma mudança significativa. E, no caso dele, para melhor, como garante.
4 Respostas
Esbelto que sou, também enfrento este problema, Lino. Por isto venho tentando encorpar, por enquanto sem sucesso.
Um abraço.
Engraçado como os conceitos se misturam! Ao mesmo tempo que virou simbolo de beleza é confundido com doença. Um peso proporcional a altura parece bom. Uma vez- ha anos- vi uma foto da Gisele Bunchen tirada por um paparazzi, arrumando a casa. Aquela magresa de camisetao, sem todo aquele glamour envolvido era beeem estranha mesmo. Tb acho que associam magreza subita a doenças como AIDS ou diabetes. As vezez a cancer. Nao sei se a magreza de sempre assusta, mas a repentina. Eu ja fui uma criança super magrinha e adulta, ja tive de fazer regime para emagrecer. Os dois jeitos nao foram confortaveis. Sinal de que estao sempre nos exigindo um padrao! Eh mundo!
Bom dia para voce!
O mundo é feito de mudança. Mas não deixo de referir que no Renascimento as figuras das pessoas através da arte que chega aos nossos dias tem traços “rechonchudos” .
Lino,
É aquela velha história… Nos impomos um padrão de beleza superficial onde temos que padronizar a sociedade… Nada mais de admirar as diferenças e o que é exótico… Todos tem que ser identicamente magros… Mas nossos instintos nos dizem que quando uma pessoa perde tanto peso assim, muitas vezes rapidamente é porque está passando fome… ou está fragilizado por alguma doença… Heraç§a de um passado onde a gordura (não excessiva e mórbida claro) representava força e saúde…
Espero que uma hora ou outra encontremos um “meio-termo”…
Beijos (Des)conexos!