Fui privilegiado com filhos, mas tenho amigos e familiares que buscaram tê-los e não o conseguindo, decidiram adotar crianças. E tenho amigos que, com filhos criados, fizeram este mesmo caminho. Tanto em um, quanto no outro caso, isso me provoca uma profunda admiração, sobretudo por estes conhecidos não fazerem o caminho tradicional, de seleção por cor, mas por adotarem a diversidade.
Cito os exemplos porque eles divergem dos números sobre adoção no Brasil. Enquanto um amigo, caucasianos ele e a esposa, adotaram uma criança negra, que faz a alegria da casa e de quem a frequenta, a demanda por adoção no país é por crianças brancas, recém nascidas e meninas. Quem não se enquadra nestes quesitos, já¡ começa com uma grande desvantagem. Os números só ressaltam a coragem do meu amigo.
Embora – como disse – com casos na família e entre amigos, nunca havia me debruçado sobre a questão. Com a blogagem – promovida pelo Dácio e pela Geórgia, e cujos participantes podem ser vistos aqui – procurei ler sobre o assunto e confesso que me surpreendi com os números e com uma outra faceta, que já¡ conhecia, que é a chamada adoção ilegal. Nela, famílias conseguem crianças com terceiros, sem cumprir as formalidades legais, registrando-as como filhos. As informações dizem que este tipo de adoção continua sendo muito comum em todo o país.
Se, de um lado, há¡ muita gente querendo adotar e, do outro, crianças disponíveis para adoção, o perfil de exigência faz com que muitos cresçam sem família – conheço pelo menos um caso e que, hoje, são pessoas bem sucedidas. Aqui, de certa forma, prevalece o preconceito, pois a maioria não quer crianças a partir de uma determinada idade e nem aquelas que não se enquadram no padrão de brancura procurada por uma boa parte da sociedade brasileira.
Pelo que li, há¡ toda uma discussão entre a adoção legal, sancionada pela Justiça, e aquela outra, dita informal por alguns, mas classificada como ilegal por outros. Será¡ que este tipo de adoção deve ser banido? Será¡ que, para a família e para a criança, este é um processo ruim? Será¡ que a lei está¡ correta e a prática, errada? Acho que são questões que tem de ser postas, uma vez que são reais, ocorrem no dia a dia e, na maioria das vezes, com casos que se tornam emblemáticos. Será¡ que é mesmo preciso o aval da justiça para se adotar alguém?
Conheço um caso emblemático. Em uma família com muitos filhos, todos estudantes, eles acabaram arranjando um amigo de escola que tinha perdido os pais em um acidente. Era já adolescente e, como se enturmou com os estudantes, passou a frequentar a casa da família. A proximidade acabou aumentando e ele, na verdade, foi ficando mais e mais tempo, o que o levou, no final, a morar com a família. Passou, então, a fazer parte dela, transformando-se no décimo-terceiro filho do casal, que era e é pobre, mas tinha muito orgulho de poder acolher o menino que era amigo de seus filhos.
Hoje, esta criança é um adulto. Com o apoio da família, estudou e acabou se transformando em um profissional conhecido na sua área. Casou-se, teve filhos e estes são considerados mais alguns dos netos que o casal tem. Agora, como antes, ele não chama de pai ou mãe, mas considera o casal que o acolheu como se o fossem e os seus filhos, como irmãos. Ele ganhou 12 irmãos e estes, ganharam mais um.
O que fico pensando, ao refletir sobre leis e exigências para a adoção, é o que teria acontecido se a família buscasse se enquadrar em todos os aspectos legais. Será¡ que conseguiria adotá-lo? Afinal, já tinha 12 outros filhos para criar. O que este exemplo me diz – e ele é muito próximo a mim, pois os filhos de quem foi adotado são, hoje, meus sobrinhos – é que a adoção, antes de tudo, é um gesto de amor, de solidariedade e não se prende ao processo legal.
Este processo, aliás, pode até ser preenchido, mas antes é preciso olhar a família e, nela, a criança, vendo que pode ganhar um lar, uma família. E isso não se enquadra em dispositivos legais, mas na disposição pessoal de cada um, de dar-se e de receber. Em alguns casos, de se completar, preenchendo o lugar que a biologia não lhe permitiu. Em outros, mostrando a disposição de acolher quem precisa. Assim, temos de aplaudir quem toma tais iniciativas, e não criticar por não haver adoções suficientes para todas as crianças disponíveis.
Temos de ver a adoção, no meu entender, não como um processo legal, mas como algo de fundo afetivo, de alguém que se dispõe a dar-se e a receber outrem que não é biologicamente ligado a ele, transformando-a em um membro de sua família e lhe dando guarida. Será¡ isso garantia de acerto? Ninguém pode dizer, mas se olharmos a questão do lado afetivo, não como um processo, teremos, acredito, mais possibilidade de que dá certo.
E falo isso olhando os exemplos que citei. Todos eles foram vitoriosos. Hoje, alguns dos adotados são adultos, caminhando para constituir suas famílias. Outros, já¡ o fizeram e alguns estão, ainda, na adolescência, mas se sentem pertencendo a algo que lhes deu acolhida e lhes dá¡ suporte para caminhar adiante.
23 Respostas
Lino, como todos sabem, a adoção é um ato de amor. A gente torce para que seja cada dia mais descomplicada.
Se pudesse, se tivesse condições financeiras pra tal, gostaria de adotar uma criança, já que meu filho Luiz já está com 26 anos e Lucca, com 8.
Hoje, seria inviável, mas, quem sabe, no futuro?
Bjo e otima semana.
Lino, sua presença nessa blogagem assim como os até agora 131 blogueiros, mostra como é relevante o tema que aflige muito de perto, na intimidade, os possÃveis 80.000 mil órfãos que esperam por um lar feito por gente grande. Aqui quero me fazer entender em relação à quele que tendo constituição na acepção da palavra, tenha pelo menos pai e mãe adotivos. Melhor ainda se houver irmãos, pelo menos um, seja homem ou mulher. Quando a lei, não sei se retrógrada, cria dificuldades para impedir a adoção por casais homólogos e, estes lutam por direitos iguais dá o que pensar. Como vc acha, apropriadamente, que teria que haver a possibilidade da adoção não formal, estamos frente à Câmara dos Deputados que ao modificar a Lei da Adoção ainda não contemplou, desta vez, desejos que podem ser legÃtimos. Na modificação há um desejo de alguma facilitação para adoção por brasileiros, e dificultar a pelos estrangeiros.
E é verdade que a “adoção à brasileiraâ€, a informal está na ordem de 48 por cento das adoções. Brilhante sua defesa de tese. Esperava por algo assim, Lisonjeado pela sua apreciação de minha exposição, quase um trabalho escolar, deixo meu agradecimento pelo tempo e espaço dedicado à blogagem. Um forte abraço
A Lei torna a tarefa complexa, porque ela busca evitar o comércio de crianças, o que, diga-se de passagem, também é importante fazer.
EU penso que o problema não está na Lei, está em quem a opera. JuÃzes, promotores e funcionários da justiça tendem a encarar uma criança num processo de adoção como uma coisa, e os adotantes como partes de um negócio, quando em verdade, deveriam ter mais sensibilidade emn analisar a questão de fato.
De qualquer modo, se uma pessoa decide adotar, não será a burocracia que a demoverá…
Oi Lino.
“Temos de ver a adoção (…) como algo de fundo afetivo, de alguém que se dispõe a dar-se e a receber outrem que não é biologicamente ligado a ele, transformando-a em um membro de sua famÃlia e lhe dando guarida.” Perfeito Lino, perfeito. Comigo e com a minha irmã aconteceu assim. No nosso caso, o amor passou por cima da lei.
Um abraço.
Meu cumpadi, a vida é, antes de mais nada, a gvrande escola. Adoção, como provam os casos que ilustram teu texto e muitos outros, inclusive o meu, são coisas de amor. De um amor desenfreado e especial. Valeu te ler.
Oi, Lino!
Sabe de uma coisa, ainda bem que neste aspecto o tal “jeitinho brasileiro” é prá lá de bem vindo!
Gostei de ler suas reflexões sobre o assunto.
Passa lá no meu cantinho para cohecer uma his´toria de amor verdadeira e emocionante.
abraço carioca
Penso tbem como vc,LINO.É o aspecto afetivo que importa muito mais que um monte de exigencias legais.
Ainda mais num mundo doido em que vivemos hj,onde mães verdadeiras andam deixando seus filhos ao deus dará.
Abração!
Lino, prazer, vim agradecer a visita no meu cantinho, chegando aqui, que espaço confortável e bacana. Sua postagem da adoção, muito interessante.
Voltarei mais vezes pra visitar
Grande beijo,
Christi
Olá Lino… vim agradecer a visita e comentário… e achei lindo o que escreveu… acho que adoção é um dos atos mais completos de se amar uma criança… de repente pode não haver ligação material, mas talvez haja ligação espiritual…
Obrigada novamente pela visita. e parabéns…
Dd ^^
Os Posts foram de um esclarecimento Ãmpar. Verdadeiras aulas de cidadania.
Parabéns pelo artigo e obrigada pela visita ao Interagindo.
Abraços
Lino to tentando ler os blogs que se juntaram no tema..e to ficando cada vez mais encantada ,em cada post um esclarecimento um modo de ver o tema e vc o fez lindamente.
Espero que o que vc disse la no meu blog se torne realidade mesmo.
Parabens meu querido.
Bjo carinhoso.
Lino, conheço casos de filhos adotados que são muito mais felizes por terem um lar de verdade do que filhos biológicos que são abandonados pelos pais que vivem ausentes.
Big Beijos
Tio Lino
rapaz adoção é uma coisa complicada, mas que resolveria um problema do nosso pais, outra coisa interessante seria pessoas que montassem com a ajuda do Governo espaços para receber Crianaça abandonadas e dar educação e carinho. já pensei muito nisso.
Aguardo uma visita sua, uma grande abraço!
Oa, Lino!
Cara, teu blog tá um show!! parabens!!
Sobre o assunto, e a ilegalidade, conheci há dois anos um casal que adotou de forma ilegal. Por duas vezes foi negado ao casal a autorização para adotar. A criança completa 8 anos próximo ao natal, e foi um grande presente para os dois. Acho até que seria bom, sem perseguições, que o governo legalizasse quem tem essa situação; Concordo até que há casos e casos, mas creio que na maioria é para o bem.
Um grande abraço
ah!!!
feliz aniversario!!!!
Vai de presente o sorriso dessa linda criança do post.
abração
Ei Lino!
nossa,qt tempo nao venho aqui, menino de praia! como está a terrinha boa, com sol brilhando, lindo e cheiro de mar??!!
hmm, saudade!!
entao, a questao da lei. O ruim dela é que a burocracia é mt lenta né? O que atrasa e causa uma sensacao de perda nos pais adotivos, como se o tempo estivesse passando sem que eles possam fazer algum coisa. e nisso, a crianca lá, a mercê de tantas coisas ainda, esperando, esperando, perdendo a esperanca que renasceu de repente,enfim!
mas ao mesmo tempo penso que é preciso passar pelas leis, direitinho, até porque é necessário saber quem sao essas pessaos que estao querendo levar pra suas casas uma crianca. mt o que se pensar viu Lino??
mas bom te ver de novo! eu volto, tá?
bjs
Lino querido, acho que o que deve prevalecer é o amor.
Toda essa burocracia atrapalha.
Na minha famÃlia também forma casos informais, embora hoje tudo está legalizado.
Meu irmão adotou uma garota, minha sobrinha, com dez anos.
Vivia jogada prá lá e prá cá. Foi morar com eles, e hoje já lhes deu uma netinha também.
Há pouco tempo meu irmão conseguiu legalizar a situação dela. Hoje filha adotiva.
Mas, o amor, esse não tem tempo nem medida.
Querido, parabéns!
Muita saúde, muito amor, muita alegria e muitos anos de vida.
Um beijo
Um passarinho me contou que ontem foi seu aniversario,LINO.
Não podia deixar de vir aqui e te desejar muitas FELICIDADES!!
Espero que tenha comemorado muito.
Abraço grande!!
Lino, parabéns DUPLO, HOJE! Primeiro pelo seu aniversário, depois pela importante participação nesta Coletiva sobre a ADOÇÃO!
Forte abraço
Oi, Lino,
Sábias palavras as tuas!
E parabéns pelo seu aniversário!!!
Seja feliz sempre!
Abraços,
Infelizmente tem uma fila longa a espera de um lar, as chances de adoçao se tornam cada vez menores, pelo fato “escolha†como sexo, idade, cor e saude fisica e mental e tembem pela burocracia, que é tanta.
Super Lino, como esta’ a festa?
Parabéns!
Eliana
Como vc mesmo falou Lino, essa adocao se tivesse sido feita pelas viar normais, nem se sabe se teria acontecido. Foi um gesto nobre, de amor dessa familia, que agindo assim, transformou esse adolescente numa pessoa feliz, com uma familia tao numerosa. O amor falar acima de tudo.
Dizem que o sangue é mais forte do que a agua. Mas ainda acredito que, o amor é mais forte que o sangue. Um arbaco.